Milhões de brasileiros vivem sem nenhum dente: entenda impactos na saúde
Infecções bucais aumentam risco de doenças sistêmicas, incluindo problemas cardiovasculares, diabetes e doenças respiratórias
Cerca de 14 milhões de brasileiros acima de 18 anos vivem sem nenhum dente, e outros 34 milhões já perderam 13 ou mais dentes, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os idosos representam a maior porcentagem dessas pessoas, com 31,7%.
Essa realidade impacta diretamente na qualidade de vida dessas pessoas e chama a atenção para um outro problema: a falta de cuidados com a higiene bucal pode desencadear diversas doenças.
“A perda dentária pode prejudicar a saúde de várias formas. Primeiro, pela questão estética que acaba influenciando diretamente na autoestima. Em termos de função, a perda de um dente dificulta a trituração dos alimentos, o que acaba sobrecarregando o aparelho digestivo, especialmente o intestino, que é responsável pela absorção de nutrientes”, explica Patrícia Almeida, cirurgiã-dentista especialista em reabilitação oral e estética e integrante da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD).
Além disso, há uma ligação comprovada entre infecções bucais, como a periodontite e gengivite, e o aumento do risco de doenças sistêmicas, incluindo problemas cardiovasculares, diabetes e doenças respiratórias.
Isso porque, quando as gengivas estão inflamadas, as bactérias presentes na boca podem entrar na corrente sanguínea e alcançar o coração, aumentando o risco de infarto e outras complicações. Essa inflamação também pode afetar o sistema circulatório de outras maneiras, aumentando a pressão arterial e o risco de acidente vascular cerebral (AVC).
A má higiene bucal também pode contribuir para o desenvolvimento de alguns tipos de cânceres, principalmente o de boca, garganta e esôfago. A presença constante de bactérias e inflamações bucais cria um ambiente propício para alterações celulares que podem evoluir para câncer.
“Há determinados grupos que são mais vulneráveis à perda dentária. Os idosos, por exemplo, estão mais suscetíveis, pois com o envelhecimento ocorre uma redução natural da resistência dos dentes e da gengiva. Além disso, muitos idosos já passaram por décadas de exposição a cáries e doenças periodontais e podem ter negligenciado tratamentos preventivos. Outros grupos de risco incluem fumantes e pessoas com condições socioeconômicas desfavoráveis, que podem ter acesso limitado a cuidados dentários preventivos”, acrescenta Gustavo Delmondes, cirurgião-dentista.
A importância da prevenção
Para evitar a perda dentária e suas consequências mais graves, os especialistas ouvidos pela CNN são unânimes em afirmar que a prevenção é o melhor caminho.
Manter uma rotina de higiene bucal, que inclui a escovação dos dentes após as refeições, o uso de fio dental e o enxaguante bucal, é fundamental. Além disso, as visitas regulares ao dentista podem identificar e tratar precocemente problemas bucais.
“É importante utilizar um creme dental com baixo índice de abrasividade (RDA), uma escova macia ou extra macia, além de tomar cuidado com a ingestão de alimentos ácidos. Além disso, o uso do fio dental, escovas interdentais e a raspagem da língua são fundamentais. Pastas com flúor também são recomendadas para prevenir a cárie”, acrescenta José Todescan Júnior, dentista membro da Sociedade Brasileira de Odontologia Estética.