Microbiologista diz que SUS tem capacidade de distribuição muito maior que EUA
"O Plano Nacional de Imunização é o melhor programa de vacinação do mundo", diz Luiz Gustavo de Almeida, cientista da USP
O microbiologista da USP e do Instituto Questão de Ciência, Luiz Gustavo de Almeida, conversou com a CNN neste domingo (10), sobre a vacinação de Covid-19 no Brasil. Ele acredita que, embora a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não tenha liberado o uso emergencial de nenhum dos dois imunizantes que estão sendo produzidos no Brasil – AstraZeneca e Coronavac – o país está um passo à frente em relação a outros do mundo quando se fala em capacidade de distribuição.
“Para nossa fantástica alegria, o SUS é extremamente capaz, ele é o melhor programa de vacinação. Dentro do SUS, o Plano Nacional de Imunização é o melhor programa de vacinação do mundo. Estados Unidos, França, países europeus estão penando para fazer a vacinação. A gente viu a França, no primeiro dia, vacinando 500 pessoas, um número ínfimo. Estados Unidos lutando muito para conseguir vacinar 200 a 300 mil pessoas por dia e o SUS é mais capaz do que isso”, afirma.
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Dados divulgados pelo Governo de São Paulo revelaram que a Coronavac, desenvolvida no Brasil pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinova, tem 78% de eficácia em casos leves de Covid-19, e 100%, em casos moderados e graves. O microbiologista explica o que está faltando ser apresentado para que haja uma porcentagem consolidada.
“O estudo todo foi baseado numa tabela da Organização Mundial de Saúde (OMS) que vai desde 0 até 10, onde 0 é uma pessoa que não tem nem o RNA do vírus presente, não conseguiu detectar, então não tem a doença. Grau de 1 até 3 é doença leve, 4 e 5, doença moderada, de 6 a 9 é doença grave e 10 é morte. Então, estes 78% é de uma faixa de nível até 3, daquela doença leve. Faltou apresentar os dados de 2 e 1 para a gente conseguir, realmente, um número geral. Apresentaram o de nível leve e, depois, de moderado e de grave, que foi de 100%. São dados relevantes para o estudo, mas ainda faltou esse geral”, explica.
De acordo com a OMS, a taxa mínima de eficácia de um imunizante contra o novo coronavírus deve ser de 50%. Sobre isso, o microbiologista analisou a capacidade de replicação do vírus Sars-CoV-2. Ele diz que, em média, uma pessoa infectada consegue passar para duas que ainda estão saudáveis. E assim a doença vai se espalhando exponencialmente.
“Então, estes 50%, é exatamente a gente fazer com que esse vírus se espalhe menos, cause menos doenças nas pessoas. Tendo 50%, a gente consegue proteger. Ao invés de passar de uma para duas pessoas, ela vai passar para uma pessoa. E aí, isso não vai fazer com que a curva aumente, ela vai ficar estabilizada, tendendo a cair”, diz.
(Publicado por Luiz Raatz)