Menos de 10% das pessoas com doença de Chagas recebem diagnóstico, alerta Opas
Estima-se que entre 6 e 7 milhões de pessoas estão infectadas em todo o mundo, a maioria delas na América Latina
A maioria das pessoas com Chagas, uma doença em grande parte assintomática, não é diagnosticada ou recebe atendimento médico até que desenvolva uma infecção crônica.
O alerta foi feito pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) no Dia Mundial da Doença de Chagas, celebrado nesta sexta-feira (14). De acordo com a Opas, a taxa de detecção de Chagas é inferior a 10%.
Estima-se que entre 6 e 7 milhões de pessoas estão infectadas em todo o mundo, a maioria delas na América Latina. Além disso, 75 milhões estão em risco de contrair a doença. Entretanto, devido ao aumento da mobilidade da população, a doença é cada vez mais detectada em outros países e continentes. Cerca de 30 mil novos casos e 10 mil mortes são relatados na América Latina a cada ano.
Neste ano, a campanha de conscientização destaca as baixas taxas de detecção e as frequentes barreiras ao acesso à cuidados médicos adequados.
“Chagas é uma doença que poucos conhecem, embora afete milhões de pessoas”, disse o diretor da Opas, Jarbas Barbosa, em comunicado. “Apelo aos governos, pessoal de saúde e trabalhadores comunitários para que façam esforços adicionais para trabalhar em conjunto e concentrar a atenção nas populações mais vulneráveis, de modo que possamos em breve eliminar Chagas como um problema de saúde pública.”
Chagas é uma doença parasitária potencialmente fatal causada pelo microorganismo Trypanosoma cruzi. É transmitida aos seres humanos por insetos conhecidos como barbeiros, transfusão de sangue ou transplante de órgãos, consumo de alimentos contaminados, durante a gravidez e o parto. É quase 100% curável se detectada e tratada precocemente.
“Com as taxas de detecção de Chagas tão baixas, o tratamento está chegando tarde demais”, disse Massimo Ghidinelli, diretor interino do Departamento de Prevenção, Controle e Eliminação de Doenças Transmissíveis da Opas, em comunicado. “Precisamos envolver a comunidade e apoiar os profissionais de cuidados primários com treinamento e suprimentos críticos para administrar a doença”, completou.
Se detectada a tempo, Chagas pode ser curada ou tratada. Sem tratamento a longo prazo, até 30% dos pacientes podem desenvolver complicações irreversíveis para o sistema nervoso, sistema digestivo e coração.
Desde 1990, os países da região das Américas têm feito progressos no controle de Chagas. O enfrentamento ao problema inclui medidas para controlar o vetor, aplicação de triagem universal em bancos de sangue e em mulheres grávidas e melhoria nos padrões de moradia.
Entretanto, dada a circulação contínua do vetor e a natureza silenciosa da doença, Chagas continua sendo endêmica em 21 países das Américas e é uma das mais de 30 doenças e condições que a Opas e os países buscam eliminar até 2030.
Impactos para crianças
Estima-se que cerca de 1,1 milhão de mulheres em idade fértil são infectadas pelo parasita T. cruzi na América Latina e que nove mil crianças contraem a doença de Chagas por transmissão de mãe para filho a cada ano.
Para combater com a transmissão de mãe para filho, a Opas recomenda a triagem universal de Chagas para mulheres grávidas, e testes de recém-nascidos para determinar o estado sorológico. A organização também recomenda o tratamento de mães e bebês positivos após o parto.
A doença de Chagas tem o nome de Carlos Chagas, um médico e pesquisador brasileiro que descobriu a doença em 1909.
O Dia Mundial da Doença de Chagas foi estabelecido pela Assembleia Mundial da Saúde em 2020, e desde então tem sido comemorado a cada 14 de abril – o dia em que Carlos Chagas diagnosticou o primeiro caso humano da doença em 1909.