Meningite bacteriana deixa sequelas neurológicas em um terço dos pacientes
Crianças que contraíram a infecção têm mais risco de apresentar problemas cognitivos, auditivos e motores, entre outros; vacina é altamente eficaz para prevenir a doença
Cerca de um terço das crianças que tiveram meningite bacteriana apresentam sequelas neurológicas, como a deficiência cognitiva, auditiva e motora, revela um novo estudo feito pelo Instituto Karolinska, na Suécia, publicado na revista científica Jama.
A meningite bacteriana pode afetar pessoas de qualquer idade, mas é mais comum em crianças e adolescentes. Mesmo com o diagnóstico precoce e um tratamento adequado, feito à base de antibióticos, ela pode evoluir rapidamente. Segundo especialistas ouvidos pela Agência Einstein, nem sempre é possível evitar os quadros graves, que podem deixar sequelas permanentes e até causar a morte do paciente. Mas, segundo os autores da pesquisa, faltam estudos das consequências a longo prazo.
Após analisar dados de mais de 36 mil voluntários, durante 35 anos, percebeu-se que aqueles que contraíram a infecção na infância tinham mais risco de apresentar problemas motores, cognitivos, emocionais, comportamentais, convulsões e perda auditiva e visual em relação à população geral.
“Muitos problemas não aparecem imediatamente. As sequelas cognitivas em crianças que ficaram doentes muito pequenas, por exemplo, só se conhecem a longo prazo”, diz o infectologista Alfredo Gilio, coordenador da Clínica de Imunização do Hospital Israelita Albert Einstein. “A vantagem desse estudo é que ele é muito robusto estatisticamente, com um grande número de casos e seguimento a longo prazo.”
A pesquisa também mostrou que, quanto mais nova a criança contrai a doença, maior o risco de sequelas. Isso pode ser explicado, segundo os autores, pela gravidade dos danos ao sistema nervoso em estágios precoces do desenvolvimento físico e mental.
Entre as bactérias causadoras de meningite, o Streptococcus pneumoniae foi a mais associada com as sequelas motoras, cognitivas e de audição, em comparação com as infecções por Haemophilus influenzae e Neisseria meningitidis (responsável pela meningite C, uma das mais prevalentes no Brasil).
O resultado do estudo reforça a importância da vacinação. “As vacinas têm uma alta taxa de proteção, beirando os 100%, e são essenciais para prevenir a doença e, portanto, evitar as sequelas”, diz Gilio.
A rede pública oferece imunizantes contra todas essas bactérias causadoras de meningite. Pelo calendário do Ministério da Saúde, a pneumocócica, que previne infecções pelo S pneumoniae, deve ser tomada aos 2 e aos 4 meses, além de um reforço aos 12 meses. Nessa mesma faixa etária, a criança deve tomar também a penta, que afasta o risco de doenças causadas pelo Haemophilus influenzae e outras, como difteria, tétano e coqueluche. Essa vacina tem uma terceira dose aos 6 meses.
Já a meningo C deve ser dada em duas doses, aos 3 e aos 5 meses, com reforço ao completar 1 ano. Adolescentes entre 11 e 14 anos podem receber a ACWY, que protege contra esses quatro sorotipos da meningite meningocócica. Na rede privada também está disponível a vacina contra a meningite B.
Sinais de alerta
A meningite é a inflamação das membranas que revestem o cérebro. Entre os sintomas que devem servir de alerta estão febre alta, dor de cabeça, rigidez na nuca, náuseas e vômitos, manchas vermelhas pelo corpo, sensibilidade à luz e confusão mental.
Quando é causada por vírus, a doença não costuma ser grave nem deixar sequelas. Já as meningoencefalites, inflamações que afetam o encéfalo, são graves e podem causar a morte. Podem ser provocadas por diversos agentes, como vírus, bactérias e até parasitas. O tratamento depende da causa.