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    “Kit sexo”: saiba o que é preciso ter sempre à mão como estratégia de prevenção

    Para encontrar os métodos de prevenção de gravidez e de infecções sexualmente transmissíveis mais adequados é preciso compreender como se vivencia a própria sexualidade

    Lucas Rochada CNN , em São Paulo

    Durante anos, as campanhas de prevenção contra as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) estiveram focadas no uso da camisinha, com destaque para o preservativo masculino. Nesse cenário, se tornou comum observar em vídeos informativos, folhetos e cartazes com alguém segurando o item ou tirando ele da carteira.

    Embora a camisinha permaneça como uma das principais medidas de se evitar infecções durante as relações sexuais, ela não é mais a única.

    A estratégia chamada prevenção combinada busca atender às necessidades e contextos individuais, de modo a evitar novas infecções pelo HIV, sífilis, hepatites virais e outras ISTs. De acordo com o conceito, a estratégia de prevenção pode ser mais eficaz quando adotada com base nas características específicas do momento de vida de cada pessoa.

    As recomendações incluem o uso dos preservativos masculino e feminino, profilaxias contra o HIV, como a PrEP, a prevenção da transmissão da mãe para o bebê durante a gestação, a testagem regular, diagnóstico e tratamento precoce das infecções, além da imunização para HPV e hepatite B, e adesão aos programas de redução de danos para usuários de álcool e drogas.

    Mas como saber qual forma de prevenção se encaixa melhor ao seu contexto? A CNN consultou infectologistas que apontam alguns caminhos.

    Entender como se vivencia a própria sexualidade

    O ponto de partida para encontrar o método de prevenção mais adequado – ou a combinação dessas estratégias – é compreender como se vivencia a própria sexualidade, como explica o médico infectologista Rico Vasconcelos, pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

    “Começa com o conhecimento na cabeça, no sentido amplo de saber o que você quer, o que você gosta, como você gosta e, dentro daquilo que você considera como vida sexual satisfatória, saber ao que você está exposto. Esse tipo de conhecimento é fundamental até mesmo para você pode se proteger daqueles desfechos não desejados que uma relação sexual pode ter”, diz.

    O especialista traça um paralelo entre a prevenção de ISTs e os cuidados para evitar uma gravidez indesejada. “É engraçado, mas quando a gente pensa na gravidez, isso parece ser muito mais natural”, afirma.

    “Uma pessoa também precisa saber o que transmite e de que forma transmite, que parte do sexo transmite para poder saber de que maneira evitar uma infecção sexualmente transmissível”, completa Vasconcelos.

    Conhecimento é fundamental para a prevenção, diz médico / Goodboy Picture Company/Getty Images

    Na “hora H”

    Os preservativos masculino e feminino permanecem como medidas eficazes na prevenção da gravidez indesejada e de uma série de infecções transmitidas durante as relações.

    Especialistas recomendam tê-los sempre à mão em casa, no carro e na bolsa. Além disso, deve-se ter atenção especial aos prazos de validade dos produtos e com o armazenamento adequado. Guardar em carteira, por exemplo, pode danificar o material devido à pressão e ao calor.

    Estratégia adicional, o lubrificante íntimo cumpre um papel relevante como medida complementar de proteção à saúde sexual, como explica o médico infectologista Álvaro Furtado, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

    “O lubrificante é algo pouco discutido com relação ao painel de prevenção das ISTs, por que se tem a falsa ideia de que ele é algo acessório, que não é importante dentro de prevenção e um mero artefato durante a atividade sexual e na verdade não é isso”, diz.

    “É interessante que ele seja utilizado de forma adequada, um bom lubrificante à base de pasta d’água, que tem como característica diminuir o atrito durante a atividade sexual”, orienta. “A redução do atrito diminui as portas de entrada para ISTs, então é importante uma boa lubrificação”, acrescenta Furtado.

    O uso da camisinha é eficaz, desde que seja feito de maneira regular, afirmam os especialistas. Para indivíduos que não se adaptam ao uso constante do preservativo, podem ser indicadas medidas complementares de prevenção.

    Prevenção pode ser mais eficaz quando adotada com base nas características de cada pessoa / Process Visual/Getty Images

    Entenda se a PrEP pode ser indicada ao seu contexto

    Uma possibilidade é a combinação da Profilaxia Pré-Exposição, conhecida popularmente pela sigla PrEP, que previne a infecção especificamente do HIV.

    Embora a PrEP não seja capaz de evitar o contágio por outras infecções além do HIV, os usuários da tecnologia devem fazer o acompanhamento regular de saúde, que inclui a testagem para o HIV e outras infecções, como a sífilis.

    Essa testagem periódica para o rastreamento de ISTs também é considerada uma forma de prevenção. A investigação oportuna de sinais e sintomas permite o diagnóstico e tratamento, evitando o risco de complicações e interrompendo a cadeia de transmissão.

    Segundo o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Gustavo Magalhães, a periodicidade da testagem pode variar entre três meses e uma vez ao ano, conforme a atividade sexual de cada pessoa.

    “A prevenção do HIV e das outras ISTs passa por um conjunto de ações, não é somente o uso do preservativo que também é muito importante. Se fizermos a testagem com frequência, principalmente de pessoas com risco elevado, conseguimos detectar mais rápido a infecção, começamos o tratamento e interrompemos a transmissão”, afirmou Gustavo.

    Medicamentos antirretrovirais (tenofovir + entricitabina) são utilizados na prevenção ao HIV / Matheus Oliveira/Saúde-DF

    A PrEP é a combinação de dois medicamentos (tenofovir + entricitabina) que bloqueiam as vias que o HIV usa para infectar o organismo humano. Nesse contexto, existem duas modalidades indicadas: a PrEP diária e a PrEP sob demanda.

    PrEP diária: consiste na tomada diária dos comprimidos, de forma contínua, indicada para qualquer pessoa em situação de vulnerabilidade ao HIV.

    PrEP sob demanda: consiste na tomada da PrEP somente quando a pessoa tiver uma possível exposição de risco ao HIV. Deve ser utilizada com o uso de dois comprimidos de 2 a 24 horas antes da relação sexual, + 1 comprimido 24 horas após a dose inicial de dois comprimidos + 1 comprimido 24 horas após a segunda dose.

    Segundo o Ministério da Saúde, a PrEP sob demanda é indicada para pessoas que tenham habitualmente relação sexual com frequência menor do que duas vezes por semana e consigam planejar quando a relação sexual irá ocorrer.

    Além dos remédios de ingestão por via oral, a PrEP também pode ser realizada a partir de um medicamento injetável, chamado cabotegravir, aprovado neste mês pela Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso no Brasil.

    O cabotegravir é de ação prolongada, com as primeiras duas injeções administradas com quatro semanas de intervalo, seguidas por uma injeção a cada oito semanas. Assim como os medicamentos orais, a versão injetável da profilaxia pré-exposição tem como objetivo reduzir os riscos de contágio caso uma pessoa seja exposta ao vírus – saiba como funciona a tecnologia.

    Diferentemente da PrEP, a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) é um recurso emergencial para pessoas que possam ter sido expostas à infecção, seja por situações como relações desprotegidas, rompimento da camisinha, violência sexual ou acidentes ocupacionais por profissionais da saúde.

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    Imunização

    O conjunto de ações da prevenção combinada também inclui as estratégias de vacinação contra o HPV e as hepatites A e B. Segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a prevenção das doenças causadas pelos diferentes tipos de HPV depende principalmente da imunização e da realização de exames preventivos.

    Em relação ao HPV, o imunizante é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas e meninos de 9 a 14 anos, além de mulheres e homens de 15 a 45 anos vivendo com HIV/Aids, transplantados e pacientes oncológicos.

    A vacina para a hepatite B é oferecida para todas as pessoas, independentemente da idade, de forma gratuita no SUS, nas unidades básicas de saúde.

    Já o imunizante contra a hepatite A faz parte do calendário infantil, no esquema de 1 dose aos 15 meses de idade (podendo ser utilizada a partir dos 12 meses até 5 anos incompletos – 4 anos, 11 meses e 29 dias). Além disso, a vacina está disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), para indivíduos mais velhos com comorbidades e condições de saúde específicas, incluindo pessoas vivendo com HIV, com outros tipos de hepatite, com problemas de coagulação e candidatos a transplantes.

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