Jorge Kalil: Brasil tem cientistas e sabe fazer vacina, mas falta investimento
"Nossas vacinas vêm ou da Índia ou da China, que têm populações enormes. Eles estão priorizando as populações deles", diz o médico em relação a falta de insumos
O Instituto Butantan interrompeu a produção da Coronavac por falta de IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) e a Fiocruz também pode suspender a produção do imunizante desenvolvido pela farmacêutica AstraZeneca. O professor de medicina da Faculdade da USP, Jorge Kalil, em entrevista à CNN, acredita que o grande problema é o Brasil ainda não produzir vacinas, apenas envasar as que chegam de foram. Mesmo tendo condições para isso, o que falta, segundo ele, é investimento do estado.
“Nossas vacinas vêm ou da Índia ou da China, que têm populações enormes. Eles estão priorizando as populações deles. Imagina, se o Brasil produzisse vacina, a partir do zero, e exportasse sem vacinar os brasileiros? Ia dar uma revolução aqui dentro. Eles estão segurando por isso.”
Sobre a necessidade de mais investimento em ciência, ele diz: “Nós temos cientistas da primeiríssima linha mundial, nós sabemos fazer vacinas, o que precisa é investimento. Ter uma visão de estado.”
Ele levanta alguns empecilhos que travam a possibilidade da fabricação própria. Em relação à Coronavac, ele diz que é necessário a produção de um vírus ativo, capaz de infectar pessoas, de forma que o instituto precisa concluir a construção de uma fábrica e cumprir protocolos de segurança.
“As pessoas podem achar que é simples, mas é extremamente complicado fazer uma vacina. Eles têm que fazer o prédio, tem que ter toda uma tubulação de água, luz, ar condicionado, entre outros, tem que ter todos os equipamentos bem calibrados e serem testados um depois do outro para que se consiga fazer o imunizante. Além disso tem que saber a receita do bolo e isso está vindo da China.”
No caso da produção da vacina AstraZeneca pela Fiocruz, ele disse que já há uma área física que poderia ser adaptada rapidamente, mas está demorando. “O que falta é o contínuo financiamento das áreas de pesquisa, desenvolvimento e produção de vacinas”, conclui.
Jorge Kalil afirmou, ainda, que a falta de insumo para produção da Coronavac neste momento não se deve à um problema de relação entre os países. “Eu não acredito que seja por problema diplomático. A China é o primeiro parceiro comercial do Brasil e não acredito que iriam fazer um boicote”.