Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Jogadores de futebol de elite são mais propensos a desenvolver demência, sugere estudo

    Nos últimos anos, há preocupações crescentes sobre a exposição ao traumatismo craniano no futebol e potencial aumento do risco de doença neurodegenerativa no futuro

    Associações de futebol implementaram medidas para reduzir o cabeceio em faixas etárias mais jovens e em ambientes de treinamento
    Associações de futebol implementaram medidas para reduzir o cabeceio em faixas etárias mais jovens e em ambientes de treinamento vm/Getty Images

    Lucas Rochada CNN

    em São Paulo

    Jogadores de futebol de elite apresentam 1,5 vezes mais chances de desenvolver doenças neurodegenerativas em comparação com a população comum. É o que revela um novo estudo observacional conduzido na Suécia publicado na revista The Lancet Public Health.

    Entre os atletas masculinos que jogam na primeira divisão sueca, 9% foram diagnosticados com doenças neurodegenerativas, em comparação com 6% dos demais grupos populacionais.

    Nos últimos anos, há preocupações crescentes sobre a exposição ao traumatismo craniano no futebol e se isso pode levar ao aumento do risco de doença neurodegenerativa no futuro.

    Um estudo anterior realizado na Escócia sugeriu que os jogadores de futebol tinham 3,5 vezes mais chances de desenvolver doenças neurodegenerativas. Seguindo esta evidência, algumas associações de futebol implementaram medidas para reduzir o cabeceio em faixas etárias mais jovens e em ambientes de treinamento.

    “Embora o aumento do risco em nosso estudo seja ligeiramente menor do que no estudo anterior da Escócia, ele confirma que os jogadores de futebol de elite têm um risco maior de doença neurodegenerativa mais tarde na vida. Como há apelos crescentes dentro do esporte para maiores medidas para proteger a saúde do cérebro, nosso estudo aumenta a base de evidências limitada e pode ser usado para orientar as decisões sobre como gerenciar esses riscos”, afirma Peter Ueda, professor assistente do Instituto Karolinska, da Suécia.

    O estudo usou os registros nacionais de saúde da Suécia para procurar registros de doenças neurodegenerativas (diagnósticos, mortes ou uso de medicamentos prescritos para demência) em 6.007 jogadores de futebol masculino que atuaram na primeira divisão sueca de 1924 a 2019.

    O levantamento comparou o risco dos jogadores de doença neurodegenerativa com controles populacionais, que eram pessoas pareadas com jogadores de futebol de acordo com sexo, idade e região de residência. A análise dividiu o risco de diferentes condições neurodegenerativas, incluindo Alzheimer e outras demências, doença do neurônio motor e Parkinson. A análise também comparou os riscos entre jogadores de campo e goleiros.

    No geral, os jogadores de futebol tiveram um risco 1,5 vezes maior de doença neurodegenerativa em comparação com os controles. De acordo com o estudo, 9% (537 de 6.007) dos jogadores de futebol em comparação com 6% (3.485 de 56.168) da população comum foram diagnosticados com doença neurodegenerativa.

    Os autores alertam que, embora 9% dos jogadores de futebol e 6% da população comum tenham sido diagnosticados com doenças neurodegenerativas durante o estudo, a maioria dos participantes ainda estava viva no final da coleta de dados. Portanto, o risco de desenvolver doenças neurodegenerativas para ambos os grupos provavelmente deve ser mais alto.

    O risco de doença neurodegenerativa não foi significativamente maior para goleiros em comparação à população que não atua em campo. Consequentemente, em uma comparação direta, os jogadores de campo tiveram um risco 1,4 vezes maior de doença neurodegenerativa em comparação com os goleiros.

    “É importante ressaltar que nossas descobertas sugerem que os goleiros não têm o mesmo risco aumentado de doenças neurodegenerativas que os jogadores de campo. Os goleiros raramente cabeceiam a bola, ao contrário dos jogadores de campo, mas são expostos a ambientes e estilos de vida semelhantes durante suas carreiras no futebol e talvez também após a aposentadoria. Foi levantada a hipótese de que o traumatismo craniano leve e repetitivo sofrido ao cabecear a bola é a razão pela qual os jogadores de futebol estão em maior risco, e pode ser que a diferença no risco de doença neurodegenerativa entre esses dois tipos de jogadores apoie essa teoria”, afirma Ueda.

    Os jogadores de futebol tiveram um risco 1,6 maior de doença de Alzheimer e outras demências em comparação com os controles – com 8% (491 de 6.007) dos jogadores de futebol sendo diagnosticados com a doença em comparação com 5% (2.889 de 56.168) dos controles.

    Não houve aumento de risco significativo para jogadores de futebol versus controles observados para doença do neurônio motor, que inclui esclerose lateral amiotrófica (ELA). O risco de doença de Parkinson foi menor entre os jogadores de futebol. A mortalidade geral foi ligeiramente menor entre os jogadores de futebol em comparação com o grupo de controle (40% versus 42%).

    “A mortalidade geral mais baixa que observamos entre os jogadores de futebol indica que sua saúde geral era melhor do que a população em geral, provavelmente devido à boa forma física de jogar futebol com frequência. A atividade física está associada a um menor risco de demência, portanto, pode-se supor que os riscos potenciais de impactos na cabeça sejam um pouco compensados por uma boa forma física. Boa forma física também pode ser a razão por trás do menor risco de doença de Parkinson”, diz Björn Pasternak, pesquisador sênior do Instituto Karolinska Institutet.

    Entre as limitações do estudo, os pesquisadores reconhecem que a generalização das descobertas para jogadores de futebol em campo hoje é incerta. Como a doença neurodegenerativa geralmente ocorre mais tarde na vida, a maioria dos atletas no estudo que tinham idade suficiente para desenvolver uma dessas condições jogou futebol de elite em meados do século XX. Além disso, melhorias no treinamento e nos acessórios utilizados em campo ao longo das décadas também podem contribuir para reduzir a incidência de lesões e, por consequência, de doenças neurológicas.