“Imposto rosa”: despesas extras prejudicam ainda mais saúde das mulheres

Dois novos relatórios mostram que as mulheres estão pagando o que ficou conhecido como uma espécie de “imposto rosa” pelos seus cuidados de saúde. Elas estão gastando mais do próprio bolso do que os homens e, quando se trata de câncer de mama, as despesas extras são um peso tão significativo que podem estar custando a saúde delas.

Nos Estados Unidos, as mulheres que têm seguro de saúde através dos seus empregos desembolsam cerca de US$ 15,4 bilhões a mais em custos diretos com cuidados de saúde do que os homens com seguros semelhantes, a parte dos seguros de saúde, de acordo com um novo relatório da empresa de serviços financeiros Deloitte.

Embora as mulheres paguem aproximadamente os mesmos valores de seguro de saúde que os homens, o valor atuarial da sua cobertura é cerca de US$ 1,34 bilhão inferior, de acordo com a análise, que observou mais de 16 milhões de pessoas com seguros de saúde patrocinados pelo empregador entre 2017 e 2022.

Embora o relatório conclua que as mulheres vão ao médico e utilizam mais os seus benefícios do que os homens, com as mulheres a terem 10% mais despesas de saúde, as suas despesas desembolsadas ainda são 18% mais elevadas, mesmo depois de eliminado o elevado custo dos cuidados de maternidade. É 20% maior com custos de maternidade.

“Portanto, ainda há um custo desproporcional que as mulheres têm que pagar, que está acima e além do custo relacionado às diferenças na utilização”, disse o Dr. Kulleni Gebreyes, autor do relatório.

As companhias de seguros parecem cobrir uma parcela menor dos serviços para as mulheres, em comparação com os homens. Os exames de câncer de mama, por exemplo, muitas vezes podem custar mais do que muitos outros exames de identificação do câncer.

“Pense na disparidade salarial entre homens e mulheres que existe, e então temos o aumento dos custos diretos, e sabemos que o bem-estar financeiro, a saúde física e o bem-estar estão fortemente correlacionados”, observou Gebreyes. “Ficamos surpresos ao descobrir o ‘imposto rosa’ na área da saúde”.

Gebreyes disse que espera que, com tantas mulheres no mercado de trabalho hoje, os gestores de benefícios observem mais de perto a forma como os planos de seguro de suas empresas são concebidos e os tornem mais equitativos.

Um relatório separado, publicado segunda-feira (2) pela organização Susan G. Komen, conclui que o elevado custo do tratamento do câncer de mama é um peso significativo para as pacientes, tanto que pode realmente estar prejudicando o sucesso dos tratamentos.

Komen, uma organização sem fins lucrativos que ajuda a combater o câncer de mama, tem um programa que fornece assistência financeira a pacientes qualificadas com câncer de mama que estão com dificuldade em manter seu tratamento devido ao elevado custo.

O programa forneceu quase US$ 9,1 milhões em subsídios a quase 16 mil pacientes de abril de 2022 a março deste ano. Para compreender quem eles estavam ajudando, a Komen analisou mais de perto a forma como as pessoas utilizavam o dinheiro: habitação, transporte para o tratamento e contas das utilidades domésticas eram os maiores fatores de estresse financeiro, bem como a de alimentos e medicamentos.

Além de se preocuparem com o tratamento, o relatório observou que até 73% dos adultos sobreviventes do câncer também se preocupam em pagar as despesas médicas.

Cait Diamond Stone, vice-presidente de saúde comunitária da Komen, disse que ainda chora por causa de uma nota de agradecimento que recebeu de uma das mulheres que o programa ajudou.

A mulher disse que foi demitida do emprego porque não conseguiu trabalhar horas suficientes enquanto fazia quimioterapia, mas não estava escrevendo para reclamar. Em vez disso, ela escreveu sobre como estava feliz porque a assistência da Komen a ajudou a pagar o aluguel, e sobrou o suficiente para ela comprar uma pizza para comemorar o aniversário de seus filhos gêmeos.

“Foi a alegria que algo tão simples trouxe”, disse Stone. “As histórias das pessoas que ajudamos vão partir seu coração”.

Os custos diretos do câncer são altos, com contas em média de US$ 2.900 apenas para o primeiro mês de diagnóstico, de acordo com um estudo de 2020. É uma despesa que muitos pacientes não podem arcar. Eles usam suas economias, pedem dinheiro emprestado ou pagam suas contas com cartões de crédito, se tiverem essas opções, disse o relatório.

E embora o câncer seja uma das doenças mais caras de se tratar nos EUA, a pesquisa mostrou que o câncer de mama tem o custo de tratamento mais elevado de qualquer câncer, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. E as despesas estão ficando ainda mais onerosas.

Nos EUA, a despesa total em todos os cuidados oncológicos aumentou dramaticamente apenas na última década, e espera-se que os custos piorem muito, mostram as pesquisas.

Em comparação com a última década, as inovações com medicamentos biológicos e quimioterápicos tornaram-se cada vez mais caras, ao mesmo tempo que as seguradoras comerciais transferiram uma maior parte dos custos diretos dos cuidados médicos para os pacientes, cobrando franquias mais elevadas, cosseguro, taxas de copagamento e franquias mais elevadas, mostra a pesquisa.

Acrescente a isso o estresse dos pacientes de não saberem exatamente quanto custará o tratamento até abrirem a conta que recebem pelo correio.

As mulheres nos EUA já tendem a estar mais frequentemente no limite financeiro do que os homens, uma vez que elas ainda ganham menos. Em 2022, as mulheres ganharam apenas US$ 0,82 para cada dólar ganho pelos homens.

Para as mulheres negras e latinas, a realidade é ainda pior. As mulheres negras ganhavam apenas US$ 0,63 e as mulheres latinas apenas US$ 0,58 para cada dólar que os homens brancos ganhavam, de acordo com o Gabinete Geral de Contabilidade dos EUA, o braço investigativo do Congresso.

Não é de admirar, então, que o relatório Komen tenha descoberto que quase metade das pacientes com câncer de mama afirmaram que mesmo uma ligeira tensão financeira terá impacto nas escolhas que fazem sobre o tratamento de câncer.

Se tiverem que decidir entre gastar dinheiro com suas contas ou com o tratamento do câncer, que pode incluir contas de laboratórios, medicamentos, cirurgias, internações hospitalares e tratamentos ambulatoriais – sem falar em passar um tempo longe do trabalho para todos esses cuidados – ou alimentar suas famílias, elas podem optar por adiar o tratamento ou simplesmente não fazê-lo. Isso pode ter consequências devastadoras e até mortais.

Os encargos financeiros podem ser ainda piores para as mulheres negras, as mulheres mais jovens, as pessoas que não são casadas e as que vivem com rendimentos limitados, mostram estudos.

“A toxicidade financeira associada ao diagnóstico de câncer de mama tem sido uma questão importante para a Komen e para muitos outros há muito tempo, mas com as mudanças na nossa economia pós-Covid, a necessidade de assistência financeira para pessoas com câncer de mama aumentou”, Stone disse.

Ela própria é uma sobrevivente do câncer de mama e disse que, com um diagnóstico, há tantas coisas que as pessoas têm de gerir que, por vezes, a questão financeira nem sequer é um “ponto no radar até que seja tarde demais”.

“Às vezes é difícil colocar um pé na frente do outro”, disse Stone.

A assistência financeira que sua organização oferece é uma das coisas mais importantes que podem fazer para ajudar a aliviar um pouco o estresse causado pelo câncer, disse ela.

“Eu sei por experiência própria, e se você falar com qualquer sobrevivente, elas dirão a mesma coisa: quanto melhor o seu estado mental durante o tratamento, melhor será para você e sua família”, ela adicionou. “Elas só precisam focar na parte de viver e na parte de melhorar”.

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