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    Idosos com ansiedade frequentemente deixam de receber ajuda; entenda

    Pesquisadores apontam que cerca de um terço dos idosos com transtorno de ansiedade generalizada recebe tratamento

    Idosos podem apresentar fobias entre outros transtornos de ansiedade
    Idosos podem apresentar fobias entre outros transtornos de ansiedade Marcelo Camargo / Agência Brasil

    Judith Graham

    A ansiedade é o distúrbio psicológico mais comum que afeta adultos nos Estados Unidos. Em pessoas mais velhas, está associada a sofrimento considerável, problemas de saúde, diminuição da qualidade de vida e taxas elevadas de incapacidade.

    No entanto, quando a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA, um painel independente e influente de especialistas, sugeriu no ano passado que os adultos fossem rastreados quanto à ansiedade, deixou de fora um grupo – pessoas com 65 anos ou mais.

    A principal razão pela qual a força-tarefa citou no rascunho das recomendações emitidas em setembro: “(As) evidências atuais são insuficientes para avaliar o equilíbrio entre benefícios e malefícios da triagem para ansiedade” em todos os idosos. (Recomendações finais são esperadas ainda este ano).

    A força-tarefa observou que os questionários usados para rastrear a ansiedade podem não ser confiáveis para adultos mais velhos. A triagem envolve a avaliação de pessoas que não apresentam sintomas óbvios de condições médicas ou psicológicas preocupantes.

    “Reconhecemos que muitos adultos mais velhos sofrem de problemas de saúde mental como ansiedade” e “estamos pedindo mais pesquisas urgentemente”, disse Lori Pbert, chefe-associada da divisão de medicina preventiva e comportamental da Chan Medical School da Universidade de Massachusetts e ex-professora membro da força-tarefa que trabalhou nas recomendações sobre ansiedade.

    Essa postura de “ainda não sabemos o suficiente” não cai bem com alguns especialistas que estudam e tratam pessoas idosas com ansiedade. Carmen Andreescu, professora associada de psiquiatria da Universidade de Pittsburgh, chamou a posição da força-tarefa de desconcertante porque “está bem estabelecido que a ansiedade não é incomum em adultos mais velhos e existem tratamentos eficazes”.

    “Não consigo pensar em nenhum perigo em identificar a ansiedade em idosos, especialmente porque isso não traz nenhum dano e podemos fazer coisas para reduzi-la”, disse Helen Lavretsky, professora de psicologia da UCLA.

    Em um editorial recente no JAMA Psychiatry, as pesquisadoras observaram que apenas cerca de um terço dos idosos com transtorno de ansiedade generalizada – preocupação intensa e persistente com questões cotidianas – recebe tratamento. Isso é preocupante, disseram elas, considerando as evidências de ligações entre ansiedade e derrame, insuficiência cardíaca, doença arterial coronariana, doença autoimune e distúrbios neurodegenerativos, como demência.

    Outras formas de ansiedade comumente não detectadas e não tratadas em idosos incluem fobias (como medo de cães), transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno do pânico, transtorno de ansiedade social (medo de ser avaliado e julgado por outros) e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

    O desacordo latente sobre a triagem chama a atenção para a importância da ansiedade na velhice – uma preocupação intensificada durante a pandemia de Covid-19, que aumentou o estresse e a preocupação entre os idosos. Aqui está o que você deve saber.

    A ansiedade é comum

    De acordo com um capítulo de livro publicado em 2020, de autoria de Carmen e um colega, até 15% das pessoas com 65 anos ou mais que vivem fora de asilos ou outras instalações têm uma condição de ansiedade diagnosticável.

    Metade deles apresenta sintomas de ansiedade – irritabilidade, preocupação, inquietação, diminuição da concentração, alterações do sono, fadiga, comportamentos evitativos – que podem ser angustiantes, mas não justificam um diagnóstico, observou o estudo.

    A maioria dos idosos com ansiedade luta contra essa condição desde cedo na vida, mas a forma como ela se manifesta pode mudar com o tempo. Especificamente, os adultos mais velhos tendem a ficar mais ansiosos com questões como doenças, perda de familiares e amigos, aposentadoria e declínios cognitivos, disseram especialistas. Apenas uma fração desenvolve ansiedade após completar 65 anos.

    A ansiedade pode ser difícil de identificar em idosos

    Os idosos geralmente minimizam os sintomas de ansiedade, pensando “é assim que se envelhece” em vez de “este é um problema sobre o qual devo fazer algo”, disse Carmen.

    Além disso, eles são mais propensos do que os adultos mais jovens a relatar queixas “somáticas” – sintomas físicos como tontura, fadiga, dores de cabeça, dor no peito, falta de ar e problemas gastrointestinais – que podem ser difíceis de distinguir das condições médicas subjacentes, de acordo com Gretchen Brenes, professora de gerontologia e medicina geriátrica na Wake Forest University School of Medicine.

    Alguns tipos de ansiedade ou comportamentos ansiosos – notavelmente, acumulação e medo de quedas – são muito mais comuns em idosos, mas os questionários destinados a identificar a ansiedade normalmente não perguntam sobre esses problemas, disse o Jordan Karp, presidente da psiquiatria no Faculdade de Medicina da Universidade do Arizona em Tucson.

    Quando os idosos expressam suas preocupações, os médicos muitas vezes as descartam como normais, dados os desafios do envelhecimento, disse Eric Lenze, chefe de psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis e coautor do estudo recente.

    Perguntas simples podem ajudar a identificar se um idoso precisa ser avaliado quanto à ansiedade, ele e outros especialistas sugeriram: Você tem preocupações recorrentes que são difíceis de controlar? Você está tendo problemas para dormir? Você tem se sentido mais irritado, estressado ou nervoso? Você está tendo problemas com concentração ou pensamento? Você está evitando coisas que normalmente gosta de fazer porque está envolvido em suas preocupações?

    Stephen Snyder, 67, que mora em Zelienople, na Pensilvânia, e foi diagnosticado com transtorno de ansiedade generalizada em março de 2019, responderia “sim” a muitas dessas perguntas. “Tenho uma personalidade tipo A e me preocupo muito com muitas coisas – minha família, minhas finanças, o futuro”, ele disse. “Além disso, eu tendia a me debruçar sobre coisas que aconteceram no passado e ficar nervoso”.

    Tratamentos são eficazes

    A psicoterapia – particularmente a terapia cognitivo-comportamental, que ajuda as pessoas a lidar com pensamentos negativos persistentes – é geralmente considerada a primeira linha de tratamento de ansiedade em idosos. Em uma revisão de evidências para a força-tarefa, os pesquisadores observaram que esse tipo de terapia ajuda a reduzir a ansiedade em idosos atendidos em ambientes de atenção primária.

    Também recomendado, observou Lenze, é a terapia de relaxamento, que pode envolver exercícios de respiração profunda, massagem ou musicoterapia, ioga e relaxamento muscular progressivo.

    Como os profissionais de saúde mental, especialmente aqueles especializados em saúde mental geriátrica, são extremamente difíceis de encontrar, os médicos de cuidados primários geralmente recomendam medicamentos para aliviar a ansiedade.

    Duas categorias de drogas – antidepressivos conhecidos como inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) e inibidores da captação de serotonina e norepinefrina (ICSNs) – são normalmente prescritos, e ambos parecem ajudar os adultos mais velhos, disseram especialistas.

    Frequentemente prescritos para idosos, mas que devem ser evitados por eles, são os benzodiazepínicos, uma classe de medicamentos sedativos como Valium, Ativan, Xanax e Klonopin.

    A American Geriatrics Society alertou os médicos a não usá-los nessa população, exceto quando outras terapias falharem, porque são viciantes e aumentam significativamente o risco de fraturas de quadril, quedas e outros acidentes e deficiências cognitivas de curto prazo.

    *KHN (Kaiser Health News) é uma redação que produz jornalismo aprofundado sobre questões de saúde. Juntamente com a Análise de Políticas e Pesquisas, o KHN é um dos três principais programas operacionais da KFF (Kaiser Family Foundation). KFF é uma organização sem fins lucrativos que fornece informações sobre questões de saúde.

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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