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    ‘Humanidade sai melhor das catástrofes’, diz coordenador da UTI do Igesp

    Dante Senra critica a afirmação de Bolsonaro de que 70% da população brasileira será contaminada com o novo coronavírus

     

     

    O médico e coordenador da UTI do hospital Igesp, Dante Senra, disse à CNN que “historicamente, embora as pessoas digam ao contrário, a humanidade sai melhor das catástrofes”.

    “Depois da peste bubônica, no século 14, veio o Renascimento, que valorizava as artes e as ciências. Depois da Grande Guerra, que coincidiu com o fim da gripe espanhola, em 1918, veio a ideia de que o Estado tinha que prover o bem-estar social. Então, temos que sair bem disso e valorizar a saúde e a condição humana das pessoas”, disse em entrevista neste sábado (18).

    O médico diz que acredita que haverá uma mudança de percepção sobre o valor da vida após a epidemia. “Não dá para a gente ter como normal as pessoas não terem acesso à saúde, e o transporte lotado. Não vai ser possível mais conviver com isso como se fosse invisível”, disse. “Não vamos continuar agredindo a natureza achando que nada vai acontecer.”

    Ele acrescentou que, se não tivermos um olhar para as pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade no Brasil, não terá valido a pena passar por esta catástrofe.

    Novo ministro

    Na conversa, o médico elogiou o novo ministro da Saúde, o oncologista Nelson Teich. Ele ressaltou pontos positivos de seu primeiro discurso, como a afirmação de que o foco da administração serão as pessoas. A vontade de aproximação com os prefeitos e governadores também foi elogiada, assim como a crítica que Teich fez em relação à polarização entre a economia e a saúde.

    A fim de não sobrecarregar ainda mais o sistema público de saúde, Senra propõe que haja uma ação governamental pedindo que os planos privados tolerem o atraso de mensalidades.

    Sobre a Cloroquina, o médico acredita que seu uso deva ser implementado na fase inicial, quando a pessoa infectada, já internada, começa a ter comprometimento no pulmão. Ele acrescentou que quando utilizado com critério e por pouco tempo, seus efeitos colaterais são pequenos.

    Bolsonaro

    O diretor da UTI do Igesp criticou a fala de Bolsonaro de que 70% da população brasileira vai ser contaminada. “Nós estamos falando de mais ou menos 150 milhões de pessoas. Num cenário otimista, se você considerar 1% de mortalidade, nós teríamos 150 mil óbitos, o que seria uma catástrofe inominável”, disse, acrescentando que a melhor maneira de agir na crise é a implementação de medidas de proteção social.

    Senra citou como exemplo da Grécia, que rapidamente adotou medidas restritivas de isolamento e, com isso, teve 0,8 paciente contaminado a cada 100 mil habitantes. Já Itália e Espanha, que levaram mais tempo para implantar ações semelhantes, tiveram 33 e 35 contaminados por 100 mil habitantes, respectivamente. “Isso é uma demonstração clara que o isolamento é eficiente”, disse.

    O médico sugere, também, a implementação de testes em massa como a melhor medida para conter e reajustar a economia, já que os exames mostrariam, além dos positivos em fase aguda, quem já foi contaminado e está imunizado. Estes, portanto, poderiam voltar às suas atividades.

    UTIs

    Senra disse que lamenta muito a urgência para criação de hospitais de campanha, já que estes não precisariam estar sendo feitos caso não existissem tantos leitos desativados.  

    “Por que não se faz isso fora da crise? Por que não ajustaram antes os 1.800 leitos que estão desativados no Rio?”, questionou. “Ficou cultural em nosso país [mesmo antes da epidemia] as pessoas não conseguirem internar por falta de leitos.”

    A respeito de São Paulo, ele diz que acredita que ninguém vá entrar em fila para UTI. “Em São Paulo, os hospitais privados se prepararam, criaram mais UTIS, suspenderam, assim como a rede pública, as cirurgias eletivas para diminuir o contato e disponibilizar mais leitos.”

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