Homens lavam menos as mãos do que as mulheres, e isso importa mais do que nunca
Pesquisas mostram que mulheres lavam mais as mãos, usam sabão e esfregam por muito mais tempo do que os homens depois de irem ao banheiro
Lavar as mãos com sabão e água quente por 20 segundos, além de ficar em casa e se manter a quase dois metros de distância das outras pessoas, são as melhores armas contra o novo coronavírus, que já infectou cerca de 800 mil pessoas no mundo. Contudo, há uma questão a se discutir quando se trata de hábitos essenciais de higiene: as mulheres são melhores do que os homens em lavar as mãos.
Anos de pesquisas e análises apontaram que as mulheres lavam mais as mãos, usam sabão e esfregam por muito mais tempo do que os homens depois de usarem o banheiro. No entanto, ainda há uma grande parte de ambos os gêneros que nunca lava as mãos.
As pessoas mentem sobre isso
Pesquisadores tiveram que pensar em maneiras inteligentes de coletar esses dados. Carl Borchgrevink, diretor da Escola de Hospitalidade da Universidade do Estado de Michigan, na cidade de East Lansing, conduziu esse tipo de sondagem de uma forma específica. “Se você está em um banheiro no aeroporto, por exemplo, e ao sair alguém pergunta ‘você lavou as mãos?’, o que você diz? ‘Sim, é claro’”, afirmou ele.
Quando os pesquisadores perguntaram sobre os hábitos de higiene das pessoas, “descobrimos que as informações que elas forneciam pareciam ser muito diferentes”, explicou Borchgrevink.
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Para ir mais fundo no assunto, o diretor escolheu 12 assistentes de pesquisa da universidade e deu a eles a tarefa de observar sorrateiramente quatro banheiros diferentes dentro e fora do campus para saber o que 3.749 homens e mulheres realmente faziam. O resultado da pesquisa de 2013 foi chocante.
Poucas pessoas lavam as mãos corretamente
Cerca de 15% dos homens não lavavam as mãos, em comparação a 7% das mulheres. Quando eles o faziam, apenas 50% usavam sabão. Entre as mulheres, 78%. No geral, somente 5% das pessoas que usaram o banheiro analisado lavaram as mãos tempo suficiente para matar os germes que podem causar infecções.
Um estudo publicado em 2009, que utilizou métodos mais avançados para avaliar um banheiro na beira de uma rodovia movimentada no Reino Unido, era igualmente, se não mais, condenatório.
Com o uso de dispositivos sem fio para gravar a quantidade de pessoas que entraram no banheiro e usaram sabão, os pesquisadores conseguiram coletar informações de quase 200 mil idas ao local ao longo de três meses. Descobriu-se que apenas 31% dos homens e 65% das mulheres usavam sabonete.
“É uma diferença muito grande, claramente o dobro das mulheres lavam as mãos”, disse Susan Michie, professora de psicologia da saúde e diretora do Centro para Mudança de Comportamento no Departamento Clínico, Educacional e de Psicologia da Saúde na Universidade College London.
“Outro resultado interessante foi que quanto mais pessoas havia dentro do banheiro, mais prováveis eram as chances de elas lavarem as mãos”, afirmou Michie, autora do estudo. “Se não havia ninguém por perto, elas saíam sem ninguém perceber.”
Há poucas informações que apontem que os homens no Reino Unido e nos EUA não tenham o costume de lavar as mãos.
Uma revisão sobre o assunto publicada em 2016 analisou pesquisas de dezenas de países e identificou que mulheres tinham 50% mais chances do que os homens de praticar, ou melhorar, o comportamento como lavar as mãos apropriadamente, usar máscaras e limpar superfícies em contextos de epidemia, como a gripe.
Por que existe essa diferença entre homens e mulheres?
Há poucas pesquisas feitas sobre os motivos para essa diferença entre os gêneros. Michie disse que é mais um comportamento socialmente programado do que genético. “Mulheres focam mais nos cuidados do que os homens – cuidados com crianças, com a casa, cuidados pessoais”, explicou ela.
Carl Borchgrevink afirmou que apesar de o estudo dele não focar no porquê os homens não lavam as mãos tanto quanto as mulheres, ele sugeriu que pode ser por causa da ideia de que os homens são “muito machos” para temer os germes.
“Conversamos com alguns [deles] e perguntamos ‘por que você não lava as mãos?’ E eles olhavam indignados e diziam ‘estou limpo, não preciso lavar minhas mãos’. Eles têm um senso de invencibilidade”, afirmou Borchgrevink.
Nancy Tomes, professora de história na Universidade de Stony Brook e autora do livro O evangelho dos germes: homens, mulheres e o micróbio na vida norte-americana (em tradução livre), destacou que a diferença de gêneros quanto ao hábito de lavar as mãos data de quando a teoria dos germes das doenças começou a entrar na consciência da população durante a era vitoriana – de que algumas doenças eram causadas por microorganismos que invadem o corpo humano.
“Isso mudou a definição de limpeza”, contou Tomes, e cabia principalmente às mulheres manter o alto nível de higiene, pois a saúde das famílias dependia disso. “Claro que havia uma diferença entre limpo e sujo antes do surgimento da teoria dos germes. Mas ela elevou esse conceito. Se você cometer um erro em sua limpeza, poderá morrer, assim como sua família”, explicou ela.
Motivar homens a lavar as mãos
A pesquisa de Michie em uma rodovia britânica observou que tipo de mensagens de saúde pública melhorariam as taxas de pessoas que lavam as mãos, ao usar um sinal que iluminava diferentes recados conforme as pessoas entravam no banheiro.
Apesar de as descobertas não serem conclusivas, o estudo sugere que os homens e as mulheres responderam a diferentes tipos de mensagens sobre lavar as mãos. Os recados que remetiam à repugnância (“Limpe com sabão ou coma depois”) tinham impacto nos homens, enquanto as mulheres eram mais motivadas por mensagens que ampliavam o conhecimento, como “Água não mata germes; sabão, sim”.
Michie afirmou que não tem conhecimento de qualquer campanha de saúde pública focada nos homens e os lapsos deles com relação a lavar as mãos, mas ressaltou que este é o momento perfeito para tentar. “É uma ideia excelente focar nos homens. Pode ser muito útil”, disse ela.