Governo do RJ prepara protocolo para médicos escolherem pacientes de UTI
"Se tivesse uma fartura de leitos, todos iriam. Não temos. Então essa escolha precisa ser orientada e mais segura”, diz presidente do Cremerj
Em meio ao avanço do coronavírus, o governo do Rio de Janeiro prepara para semana que vem o lançamento de um protocolo para orientar médicos na hora de escolher quais pacientes irão para leitos de UTI.
Intitulado “Recomendações Éticas para destinação de Cuidados Intensivos dos casos suspeito/confirmado por COVID-19 nas Unidades da Rede Estadual de Saúde”, o documento já foi encaminhado para ser publicado no Diário Oficial do Rio de Janeiro, quando começa a valer, de acordo com um despacho interno da Secretaria de Saúde obtido pela CNN. O Rio de Janeiro tem, hoje, 372 pessoas aguardando por um leito de UTI.
O documento tem como objetivo “salvar o maior número de vidas e o maior número de pessoas com probabilidade de sobreviver por mais tempo após o tratamento”. Para definir quais são essas pessoas, há dois critérios técnicos. O primeiro avalia como o paciente está, medindo a situação de órgãos como coração, pulmões, rins e fígado.
O segundo critério é a investigação de doenças pré-existentes que podem influenciar na sobrevida do paciente após sua saída da unidade de tratamento intensivo. Para cada critério, há uma nota que vai de 0 (situação boa) e 24 (situação ruim). Quanto menor a nota, maior a chance de o leito ser liberado.
Para entrar em vigor em todo estado, as recomendações ainda precisam ser referendadas em uma reunião do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro, marcada para a próxima terça-feira. De acordo com Sylvio Provenzano, presidente do órgão, o protocolo vai ajudar médicos jovens que já estão na linha frente de combate a COVID-19.
“Temos recebido reclamações dos médicos, que não sabem qual paciente deveria ir para o CTI. Se tivesse uma fartura de leitos, todos iriam. Não temos. Então essa escolha precisa ser orientada e mais segura”, explicou Provenzano.
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A CNN entrou em contato com as quatro associações médicas que participaram da elaboração do protocolo e confirmou que o teor do texto não deve ser alterado. A proposta é discutida há cerca de um mês e tem a intenção de interromper a aleatoriedade com que pacientes têm sido escolhidos para ocupar leitos de CTI.
Já está definido, por exemplo, que a idade dos pacientes graves não é um critério inicial para que o médico decida quem vai para uma UTI. Em nota, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, que participou do debate, informou que o protocolo do Rio não será como na Itália, em que mais jovens tinham direito automático às UTIs na frente dos mais velhos – a idade será usada quando houver empate nos pontos computados pelos médicos, ou seja, se duas pessoas tiverem a mesma chance de sobrevivência, o mais jovem será o escolhido para ocupar o leito.
Além do Cremerj e da Sociedade Brasileira de Geriatria, também participaram das discussões sobre o protocolo a Academia Nacional de Cuidados Paliativos e a Sociedade de Terapia Intensiva do Rio de Janeiro. Em nota, a Secretaria de Saúde do Rio informou que os critérios são para orientar profissionais de saúde e reafirmou seu compromisso com ações para evitar o maior número de mortes
Segundo números do Ministério da Saúde, o Rio de Janeiro passou nesta sexta-feira (1º) de 10 mil casos confirmados do novo coronavírus (10.166). Ao todo no estado, segundo a pasta, 921 pessoas morreram no estado.