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    Fiocruz vai analisar a intercambialidade de vacinas contra a Covid-19

    Estudo vai contar com a participação de 1.400 voluntários de todas as regiões do Brasil

    Lucas Rochada CNN , em São Paulo

    Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vão realizar um amplo estudo sobre a intercambialidade de vacinas no Brasil, com o objetivo de avaliar os efeitos da imunização a partir da combinações das vacinas CoronaVac e AstraZeneca, produzidas no país pelo Instituto Butantan e pela Fiocruz, respectivamente.

    A combinação de imunizantes diferentes pode ser utilizada como estratégia para ampliar a cobertura vacinal da população, especialmente diante do contexto de escassez global de vacinas. Para estabelecer diretrizes e políticas públicas sobre a intercambialidade, é preciso ampliar a quantidade de estudos sobre o tema.

     

    A coordenadora do projeto e pesquisadora do Laboratório de Imunofarmacologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Adriana Vallochi, afirma que a combinação de imunizantes pode gerar uma resposta imune intensa e duradoura.

    “Ainda não há dados publicados sobre a intercambialidade das vacinas Coronavac e AstraZeneca. Os resultados do projeto devem esclarecer se os protocolos com combinação dessas vacinas induzem proteção e a duração da imunidade. Essas informações podem contribuir para o planejamento do PNI [Programa Nacional de Imunizações], apontando esquemas mais efetivos e permitindo a substituição de vacinas caso haja falta de doses de um dos imunizantes”, disse Adriana.

    O trabalho vai abranger as cinco regiões do país, contando com a participação de sete unidades da Fiocruz e parcerias com os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens) dos estados.

    Avaliação da resposta imunológica

    A pesquisa tem como objetivos avaliar a capacidade de estimulação da resposta imunológica (chamada de imunogenicidade) e a segurança do uso combinado das vacinas.

    O estudo vai contar com a participação de 1.400 voluntários, divididos em cinco grupos: vacinados com CoronaVac na primeira dose e AstraZeneca, na segunda; com AstraZeneca, na primeira aplicação, e CoronaVac, na segunda; com os esquemas regulares de duas doses dessas vacinas; e não vacinados.

    A evolução da resposta imune dos participantes será acompanhada por, no mínimo, um ano. Além de entrevistas, serão realizadas coletas de amostras em três momentos: aproximadamente, dois meses, seis meses e 12 meses após a segunda dose.

    Os pesquisadores vão analisar a produção de anticorpos e a resposta imune celular contra o novo coronavírus. Além disso, serão registrados possíveis efeitos adversos após a vacinação e os casos de infecção pelo SARS-CoV-2.

    “Existem dois mecanismos que podem ser induzidos pelas vacinas: a produção de anticorpos, que neutralizam o vírus, impedindo a sua entrada nas células, e a atuação de linfócitos, que reconhecem e destroem as células infectadas”, explica Adriana.

    A pesquisadora explica que, embora seja complexo analisar a resposta imune celular, é fundamental investigar os dois tipos de reação imunológica. Pessoas com baixos títulos de anticorpos podem estar protegidas contra a infecção, devido à ação da resposta celular, um importante mecanismo de defesa do sistema imune contra a Covid-19.

    Entendimento dos mecanismos de proteção

    Além de caracterizar o perfil de resposta imune e a duração da imunidade induzida por diferentes esquemas vacinais, os pesquisadores vão investigar moléculas que possam ser utilizadas como indicadores de proteção, chamados tecnicamente de biomarcadores.

    No estudo, também será analisado se características genéticas dos indivíduos influenciam na resposta às vacinas. A partir de possíveis casos de infecção, a pesquisa irá identificar ainda as variantes virais, ampliando o conhecimento da efetividade dos imunizantes contra diferentes linhagens do novo coronavírus.

    Segundo a Fiocruz, o recrutamento de voluntários deve começar em outubro. “Nossa expectativa, é concluir o recrutamento de voluntários até dezembro e apresentar os primeiros resultados do estudo em fevereiro”, afirmou Adriana.

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