Fiocruz: Quadro da Covid hoje é “mais especulativo que baseado em dados”
Pesquisador e especialista em saúde pública da Fiocruz Raphael Guimarães falou à CNN sobre o efeito do apagão dos dados no acompanhamento da Covid no país


Por falta de acesso a dados, o número de transmissões, internações e mortes por Covid-19 no Brasil hoje são apenas especulativos, e complicam tomadas de decisões relacionadas a aplicação de novas doses para crianças e adultos, organização de eventos e atividades econômicas e do ano letivo, que começa em fevereiro.
O alerta foi feito pelo pesquisador e especialista em saúde pública da Fiocruz Raphael Guimarães, que falou à CNN nesta quinta-feira (6). Segundo o especialista, a incapacidade do governo de restabelecer os dados sobre vacinação no país após ataque hacker do dia 10 de dezembro prejudica um monitoramento eficiente da pandemia e tomada de decisões.
“Estamos vivendo um apagão de dados há um mês, e a gente consegue muito mal monitorar a ocorrência da Covid no país”, disse Guimarães. “Infelizmente, tudo que se diz hoje no Brasil é mais especulativo que baseado em dados”.
“A gente tem a introdução de uma variante que seguramente já tem transmissão comunitária, tem infecção concomitante com a Influenza e a gente sabe muito pouco sobre o real número de casos de internação e morte”, complementou.
O apagão de dados, segundo o pesquisador, complica a continuação da vacinação no país e contribuiu para atrasar a vacinação das crianças, que deveria ter começado logo depois da autorização do imunizante infantil pela Anvisa, diz Guimarães.
“A gente deveria ter começado a mais tempo, seguramente. A gente deveria ter começado ano passado, e precisa com muita urgência resolver esse imbróglio que se tornou a falta de acesso aos dados para fazer monitoramento adequado”, explicou.
Aulas e Carnaval
O especialista disse ainda que o monitoramento baseado em dados confiáveis permite traçar panoramas mais concretos para saber a real situação da transmissão de Covid no Brasil e começar a planejar o retorno das aulas, no início de fevereiro.
“O retorno não implica somente em vacinar as crianças, mas em toda uma reestruturação de um modelo presencial para que isso possa ser possível, garantindo todas medidas de proteção individuais e coletivas, não só dentro da sala de aula, mas em todo o entorno no que diz respeito a transporte, comércio, utilização de bens e serviços”, destaca.
Sobre o Carnaval, ele afirmou que, mesmo com o cancelamento da festa em muitas cidades, há ainda localidades que mantêm os eventos. E ainda que o carnaval de rua seja proibido, há aglomerações em espaços fechados que precisariam ser acompanhadas de perto para avaliação do quadro de transmissão.
“Por mais que não haja festa de rua, há cidades no Brasil que são grandes atrações nessa época do ano. Precisamos conversar sobre isso de maneira mais esclarecedora, com dados, mas não temos hoje os dados na mão”.