Fiocruz identifica gripe aviária em pinguins na Antártica; vírus não circula no Brasil
De acordo com os pesquisadores, há possibilidade de que o vírus H11N2, subtipo do vírus influenza A, seja endêmico no continente gelado
Cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) detectaram a presença do vírus H11N2, subtipo do vírus influenza A, em pinguins nas Ilhas Shetland do Sul, na Antártica. O vírus da gripe aviária não circula no Brasil.
O estudo publicado no periódico científico Microbiology Spectrum sugere que haja circulação contínua no continente e reforça a importância da vigilância da gripe aviária.
A Fiocruz conduz investigações na Antártica por meio do projeto Fioantar, que integra o Programa Antártico Brasileiro, conduzido pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Cirm), da Marinha.
De acordo com os pesquisadores, há possibilidade de que o vírus seja endêmico no continente gelado, mas não causa doença grave nos pinguins. No entanto, não há evidências científicas dos impactos para outros animais ou para os seres humanos.
A pesquisadora da Fiocruz Maria Ogrzewalska, do Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), afirma que a escassez de estudos sobre o vírus influenza em aves na América do Sul dificulta traçar a origem do H11N2.
“É importante em termos de vigilância saber o que está acontecendo lá, mas também temos a necessidade de saber o que acontece aqui, onde temos uma biodiversidade enorme em aves”, afirma Maria, em comunicado.
Como foi feita a detecção do vírus
Os estudos conduzidos no âmbito do projeto Fioantar tem como objetivo investigar novos agentes causadores de doenças, como vírus, fungos e bactérias, que podem estar presentes no ambiente antártico.
Para este estudo, um total de 95 amostras de fezes de aves foram coletadas nas expedições realizadas em 2019 e 2020 em colônias de pinguins das Ilhas Shetland do Sul. O material foi submetido a testes de diagnóstico molecular, que revelaram o vírus da gripe aviária em cinco em sete amostras da Ilha Pinguim.
A análise de genomas de quatro delas revelou a presença do H11N2 em pinguins-de-adélia e pinguins-de-barbicha pela primeira vez na ilha. O mesmo subtipo havia sido detectado na década de 2010 em outros pontos do arquipélago e da península Antártica.
Vigilância da gripe
O vírus influenza tipo A é classificado em vários subtipos, definidos por duas proteínas presentes na superfície da partícula viral, chamadas hemaglutinina e neuraminidase.
Essas proteínas, essenciais para a capacidade de infecção do influenza, compõem as iniciais H e N que estabelecem o nome de cada variedade genética do vírus. Existem pelo menos 18 subtipos de hemaglutininas e 11 subtipos de neuraminidases descritos. O vírus A (H3N2), por exemplo, que circula na população humana, contém hemaglutinina subtipo 3 e neuraminidase subtipo 2.
Entre as aves há uma grande quantidade de subtipos virais, alguns capazes de provocar doença grave em animais de granja levando a grandes prejuízos econômicos. Esses subtipos podem ainda provocar mortalidade em massa de aves com consequências para conservação de espécies ameaçadas.
“O conhecimento desse vírus é importante porque ele ainda não foi identificado aqui, no Brasil. É importante para o acervo porque vai dando uma noção da diversidade do influenza e do que pode estar circulando naquelas espécies animais”, explica o virologista Fernando Couto Motta, pesquisador do Fioantar e do mesmo laboratório do IOC/Fiocruz.
“Vivemos um momento de muita alteração no ambiente antártico e periantártico. O conhecimento do que existe lá permite que, numa situação em que ocorra um desequilíbrio, possamos entender o tamanho desse desequilíbrio e suas consequências”, completa.
O artigo enfatiza “a necessidade do monitoramento uma vez que os vírus aviários podem ter implicações para a saúde da fauna endêmica e potencial risco de introdução de um vírus altamente patogênico no continente”.
A cada primavera, mais de 100 milhões de aves se reproduzem ao redor da costa rochosa da Antártida e nas ilhas. Elas se reúnem em grandes colônias, compartilhando habitat. Durante o inverno, muitas migram para a América do Sul, África, ou áreas mais distantes, como Austrália e Nova Zelândia.