Fiocruz conclui que medidas sanitárias ajudam a prever letalidade da Covid-19
Dos 43 países analisados, Brasil ocupa o 16º lugar na precisão da previsibilidade de mortes
Pesquisadores da Fiocruz Pernambuco, em parceira com físicos e biólogos da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), concluíram que medidas de prevenção à Covid-19 são eficientes e podem prever a letalidade da doença. O estudo “Predictability of Covid-19 worldwide lethality using permutation information theory quantifiers” monitorou dados diários de mortes levantados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de fevereiro de 2020 a janeiro de 2021. Ao fim do período de análise, os números apontaram que lugares que seguiram mais à risca o uso de máscaras, distanciamento social, quarentena e testagem em massa, por exemplo, conseguiram projetar a quantidade de vítimas do vírus com mais precisão.
Ao longo dos 11 meses, os pesquisadores investigaram, diariamente, a evolução temporal das estatísticas de mortes pelo coronavírus em 43 países do globo. Os resultados demonstraram que as nações que adotaram regras sanitárias mais restritivas tiveram melhor desempenho na previsibilidade dos óbitos. Por outro lado, países que ignoraram ou demoraram a implementar essas medidas, tiveram maior entropia, que o termo técnico para a ferramenta que mede a desordem no desempenho. Dessa forma, quanto maior o índice de entropia, mais caótico e, consequentemente, menos previsível é o impacto do coronavírus.
O coordenador da pesquisa, Bartolomeu Acioli dos Santos, explica que o ranqueamento (performance) dos países não tem, necessariamente, relação com os números absolutos de mortes. É o caso do Brasil, segundo local com mais mortes em todo o mundo, mas que ficou em uma posição mediana no estudo, ocupando a 16ª colocação. Os Estados Unidos, por sua vez, lideram as mortes por Covid no planeta, com mais de 600 mil vítimas, e estão em 15º lugar.
“Mesmo um país com alto número de mortes por Covid pode ter um comportamento constante na previsibilidade das mortes. O foco do estudo não é a questão numérica absoluta, mas o quanto as estatísticas oscilam. A Itália, por exemplo, foi o primeiro país do ocidente a registrar a pandemia. Foi pega de surpresa e teve uma situação caótica. Por isso, os números ficavam em um sobe e desce”, explicou Bartolomeu. “Já o Peru é um país pequeno e com menos mortes, mas teve um cenário imprevisível”, acrescentou o biólogo.
O topo da lista foi liderado por Taiwan, Vietnã, Nova Zelândia, Cingapura, Islândia, Tailândia, Chipre, Estônia e Noruega. Durante o intervalo observado, esses locais apresentaram alguns pontos em comum, como menos de 25 mortes acumuladas por 100 habitantes. Além disso, não tiveram nenhuma explosão de mortes que poderia ser caracterizada como uma onda, como ocorreu em outras nações.
Já as últimas posições, foram ocupadas por Argentina, África do Sul, Bélgica, Irã, República Tcheca, Índia, Peru, Colômbia e Itália. Em algum momento dentro do período de análise, todos esses países tiveram explosão no número de mortes, registrando duas ou até três ondas de contágio. Esses fatores levaram a uma conjuntura de grande desordem na previsão dos óbitos.