Fiocruz alerta para longas internações e síndromes pós-Covid em pacientes jovens
Rejuvenescimento da pandemia faz com que mais da metade dos casos sejam de pessoas com menos de 60 anos


Um artigo publicado na The Lancet por pesquisadores do Observatório da Fiocruz Covid-19 constatou que tem sido cada vez mais comum pacientes jovens desenvolverem a forma grave da doença. Esse cenário representa, segundo o estudo “Younger Brazilians hit by COVID-19 – What are the implications?” (“Brasileiros mais jovens atingidos pela Covid-19: quais são as implicações?”, em tradução livre), que essa faixa etária poderá ser altamente afetada por longas internações ou síndromes pós-Covid.
Na primeira semana do ano de 2021 a média de idade dos pacientes graves era 66 anos, na semana 25, em junho, a média passou a ser de 51 anos, 15 anos a menos.
Se antes a maioria dos internados era de idosos, hoje é o inverso. Com a incidência do vírus em pacientes mais jovens, as chances de sequelas por conta da Covid-19 entre eles aumentam. Para o doutor Daniel Villela, um dos pesquisadores envolvidos no estudo, a vacinação teve um papel importante para essa mudança.
“No início do ano, mais de 50% dos casos eram graves e tínhamos mais pessoas acima de 60 anos. Agora já é o contrário: mais da metade dos casos de internação são de pessoas com menos de 60 anos. A vacinação começou com a priorização dos mais idosos e a população economicamente ativa ficou mais exposta ao vírus”, explicou Villela.
Além da priorização dos idosos na campanha de imunização, o estudo destacou outros dois fatores que contribuíram para a mudança na dinâmica da pandemia. Em primeiro lugar, a entrada e o aumento da circulação de novas variantes no país. Em segundo, a irregularidade na oferta de auxílio emergencial para a população em situação de pobreza tem levado a um maior relaxamento nas medidas de distanciamento físico, uma vez que mais pessoas tiveram que ir às ruas para trabalhar e obter alguma renda para se alimentar.
O pesquisador da Fiocruz projeta que a presença de variantes e a alta incidência da circulação do vírus impulsionem o número de casos entre os mais jovens. Porém, destaca que se houver avanço na vacinação o número de mortes será menor, já que geralmente esse grupo tem uma taxa de recuperação superior aos idosos.

“Tendo mais casos em pessoas mais jovens, a maioria se recupera, mesmo em casos graves. Em outros países temos observado que com a entrada de variantes, como a Delta, o número de casos até aumentou, mas o número de óbitos não, por conta da vacinação. Mesmo com essa redução, o nível de transmissão no Brasil ainda é muito alto. Ainda é preciso fortalecer o sistema hospitalar e manter as medidas de prevenção. A gente espera um número menor de óbitos, mesmo com uma quantidade alta de casos”, contou o pesquisador.
Na capital fluminense, por exemplo, cerca de 45% dos pacientes internados em junho tinham entre 40 e 59 anos. Em janeiro deste ano, quase 70% dos casos graves do Covid-19 na cidade eram de pessoas com mais de 60 anos.