Fatores sociais e ambientais podem aumentar risco de derrame, mostra estudo
De acordo com pesquisa recente, pessoas que vivem em áreas com poluição, tráfego intenso e poucas áreas verdes têm maior risco de AVC e doenças cardíacas
Pessoas que vivem em áreas com adversidades ambientais — como poluição, tráfego intenso, poucas áreas verdes e maior quantidade de resíduos tóxicos — podem apresentar um risco maior para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e derrame. O achado é de um estudo publicado no final de março no Journal of the American Heart Association.
Além disso, a pesquisa também levou em conta aspectos de vulnerabilidade social, como desemprego, baixa renda, baixa escolaridade, pouco acesso à internet e aos cuidados de saúde, para o desenvolvimento dessas condições de saúde.
“Nosso estudo é um dos primeiros a examinar o impacto de fatores sociais e ambientais em combinação e a analisar a complexa interação entre eles”, afirma o autor sênior do estudo, Sarju Ganatra, em comunicado divulgado à imprensa.
Como o estudo foi feito?
Para chegar aos achados, o estudo utilizou o Índice de Justiça Ambiental — desenvolvido com dados do Gabinete do Censo dos Estados Unidos, da Agência de Proteção Ambiental, da Administração de Segurança e Saúde das Minas e dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças do país — para avaliar as desvantagens ambientais em todos os setores do censo nos Estados Unidos.
A análise descobriu que as pessoas que vivam em bairros mais vulneráveis do ponto de vista ambiental tinham 1,6 vezes mais taxa de artérias bloqueadas e mais do dobro da taxa de AVC (Acidente Vascular Cerebral) em comparação com quem vivia em bairros menos vulnerários ambientalmente.
Além disso, os fatores de risco para doenças cardiovasculares foram mais elevados nas áreas mais vulneráveis, com o dobro da taxa de diabetes tipo 2, taxas 1,8 vezes mais elevadas de doença renal crônica e 1,5 vezes maior incidência de hipertensão e obesidade.
Por fim, o estudo observou que cerca de 30% de todos os residentes dos Estados Unidos com idades entre 18 e 44 anos, 21% dos adultos negros e a maioria dos adultos hispânicos residiam em locais com maior risco ambiental.
“Fiquei surpreso ao ver as ligações estreitas e a interação complexa entre fatores sociais e ambientais nos resultados de saúde. Conseguimos demonstrar o seu ‘duplo impacto’ nos resultados de saúde. E, além disso, ficamos mais surpresos com o fato de que, mesmo após o ajuste para fatores socioeconômicos, os fatores ambientais desempenharam um papel crucial e independente na determinação de várias doenças cardíacas e outros resultados de saúde relacionados”, diz Ganatra.
São necessárias intervenções para reduzir a exposição à poluição, dizem pesquisadores
Para os autores do estudo, os achados mostram que é necessária uma abordagem multifacetada com intervenções para reduzir a exposição à poluição e a criação de políticas públicas que abordem as causas da pobreza, a revitalização urbana, educação pública de alta qualidade, programas de criação de emprego e habitação a preços acessíveis, junto com medidas para garantir o acesso universal a cuidados de saúde de qualidade nos Estados Unidos.
“Nosso objetivo é capacitar a comunidade de saúde para melhor informar os pacientes sobre os fatores ambientais que eles encontram diariamente. Os pacientes, por sua vez, ganham a capacidade de reduzir a sua exposição a condições ambientais prejudiciais, tais como a exposição a produtos químicos nocivos e poluentes atmosféricos para minimizar os perigos para a saúde e mitigar os riscos para a saúde”, afirma Ganatra.
Apesar de o estudo ter mostrado uma forte associação entre fatores ambientais e sociais e doenças cardiovasculares, a pesquisa ainda apresenta limitações por não poder provar causa e efeito devido à natureza do banco de dados utilizado para a análise. Por isso, mais estudos são necessários para reforçar as descobertas.