Fabricante da Sputnik V diz que tentam promover “reserva de mercado” no Brasil
Procurado pela CNN, o Butantan preferiu não comentar. A Fiocruz não respondeu.
Em entrevista à CNN, o presidente da União Química, fabricante da Sputnik V no Brasil, Fernando Marques, acusou laboratórios públicos de dificultarem a chegada de vacinas produzidas por laboratórios privados no país.
A farmacêutica tem um acordo com o Fundo Soberano da Rússia e o Instituto Gamaleya para receber tecnologia e trazer doses prontas do imunizante para o Brasil.
“Pelas declarações do doutor Gonzalo Vecina (ex-presidente da Anvisa), tucano aposentado mas conselheiro do Butantan, está muito claro que o que se pretende é proteger o mercado em um momento de pandemia. Eu acho que isso é um desserviço à nação. Não podemos deixar que isso aconteça. Importante que tenhamos vacina quanto antes no país”, afirmou irritado depois de ser perguntado sobre o suposto lobby das empresas junto a políticos para flexibilizar regras.
“Não se faz lobby com relação a isso, é a população que pressiona os deputados. Não houve um só deputado ou senador que votou ao contrário. Nós queremos vacina para as pessoas dizerem que ‘estou vacinado’ com uma, se possível, que tem 92% de eficiência, que é mais seguro do que uma que tenha 50%”, afirmou em provocação ao Instituto Butantan, fabricante da coronavac.
Vecina foi conselheiro da Fundação Butantan, a entidade privada de apoio às atividades do Instituto Butantan, criada em 1989. Procurado pela CNN, o ex-diretor da Anvisa afirmou que atuou na entidade até 2017, quando Dimas Covas foi escolhido para dirigir a instituição.
Ele descartou a possibilidade de “proteção de mercado”, levantada pelo presidente da União Química. “Tenho o maior respeito pelo Fernando e pela União Química. Não existe proteção, o Butantan é estatal. Presta serviços para o Ministério da Saúde, não é para o mercado”, afirmou ele, que ponderou sobre o interesse da Rússia em vender vacinas para o Brasil.
“O Fundo Russo de Investimentos quer fornecer imunizantes para o mundo, e vendê-las aqui é um bom negócio”, afirmou.
Até o momento, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária autorizou duas vacinas, produzidas por laboratórios públicos brasileiros: a Coronavac, do Butantan, e a AstraZeneca, da Fiocruz.
Procurado pela CNN, o Butantan preferiu não comentar. A Fiocruz não respondeu.
A Sputnik é a primeira fabricante privada a firmar contrato de venda de vacinas com o governo brasileiro. Seriam 10 milhões de doses, inicialmente. Mas, antes da nova vacina ser utilizada, a União Química precisa obter a autorização de uso emergencial da vacina no Brasil.