Exército envia 200 mil comprimidos de cloroquina para a Defesa Civil do Paraná
Em outubro do ano passado, estavam armazenados em laboratório do Exército 291 mil comprimidos do medicamento, com validade até junho deste ano
O Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército (LQFEx), no Rio de Janeiro, possui atualmente cerca de 83 mil comprimidos de cloroquina 150 mg. A informação foi revelada pelo Exército à CNN, nesta quinta-feira (3). Em outubro do ano passado, estavam armazenados no local 291 mil comprimidos do medicamento, com validade até junho deste ano. Após meses de estudo, foi constatado que os medicamentos não são eficazes contra a Covid-19.
Segundo a corporação, desde o final do passado, cerca de 8 mil comprimidos produzidos no LQFEx foram distribuídos para Organizações Militares do Exército e cerca de 200 mil foram enviados para a Defesa Civil do Estado do Paraná. O restante que segue em estoque deverá ser destinado às demandas internas militares no controle de malária e às solicitações de outros órgãos.
Procurada pela CNN, a Coordenadoria Estadual da Defesa Civil do Paraná informou que em uma reunião com representantes do Exército sobre outro assunto, surgiu a informação de que a instituição produzia medicamentos, com isso, foi feita uma solicitação de envio de cloroquina no final de setembro do ano passado, com a chegada dos medicamentos no mês seguinte.
“Alguns municípios haviam comentado previamente sobre a necessidade de medicamentos para tratamentos diversos. Foram repassados a municípios que indicaram a necessidade do medicamento para utilização diversa. Sempre foi indicado que os municípios verificassem as necessidades com as respectivas secretarias de saúde. Também foi orientado para que as secretarias de saúde dos municípios fizessem contato com os municípios do entorno e respectivos consórcios de saúde para informar o recebimento e eventual repasse”.
O órgão estadual esclarece ainda que as 11 cidades paranaenses que sinalizaram pela necessidade do medicamento não reportaram se o uso incluiria tratamento para Covid-19. Os municípios atendidos foram Mariópolis, Moreira Sales, Querência do Norte, Céu Azul, Cafezal, Florestópolis, Corumbataí, Laranjal, Cafeara, Jesuítas e Cascavel.
A Secretaria Municipal de Saúde de Cascavel respondeu que não fez solicitação de cloroquina e desconhece o pedido.
A Prefeitura de Laranjal disse “que um fornecimento de cloroquina para a Farmácia Básica do município foi oferecido pela Defesa Civil do Paraná”. Como não possuía o medicamento em estoque, a administração afirma que aceitou a oferta “como doação”. “A gestão municipal nega que o uso seja para tratamento contra a Covid-19.”
A CNN aguarda o posicionamento de outras prefeituras citadas.
Rota da cloroquina
Entre abril e agosto de 2020, o Ministério da Saúde solicitou aos militares 1,5 milhão de comprimidos de cloroquina para serem distribuídos às Secretarias Estaduais de Saúde, de acordo com documentos obtidos pela CNN por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). A justificativa seria “para combater a pandemia Covid-19” com base no número de casos suspeitos em cada estado.
Em setembro do mesmo ano, a CNN mostrou que o Exército pagou preços superfaturados em insumos para a fabricação da cloroquina. Um contrato a que a reportagem teve acesso mostra que o LQFEX gastou R$ 782,4 mil com a matéria-prima necessária para a produção da cloroquina, pagando 167% acima do valor de mercado — uma compra que foi sinalizada como suspeita pelo Escritório de Contabilidade Geral Federal.
O Exército não contestou formalmente esse aumento do valor da compra, na época. Apenas depois da negociação já finalizada ter virado alvo de uma investigação no Tribunal de Contas da União (TCU), que o órgão cobrou explicações por escrito. A justificativa dada foi de que os preços subiram por causa das oscilações da taxa de câmbio e do aumento da demanda internacional.