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    Estudo preliminar indica efetividade de até 62% da Coronavac em idosos

    Imunizante já demonstrou ser eficiente na redução de hospitalizações e óbitos por Covid, mas pesquisa mostra que proteção só ocorre com duas doses da vacina

    Camila Neumam, da CNN, em São Paulo

    A efetividade da Coronavac contra a Covid-19 diminui com a idade e varia de 28% a 62% na faixa dos 70 a 80 anos. Essa é uma das principais conclusões de um estudo preliminar realizado pelo grupo Vaccine Effectiveness in Brazil Against COVID-19 (Vebra Covid-19), que reúne pesquisadores brasileiros e estrangeiros da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Global de Saúde de Barcelona.

    O trabalho indicou também que, nessa faixa etária, o imunizante não apresenta proteção com apenas uma dose e previne, em média, 42% dos casos sintomáticos leves e moderados 14 dias após a segunda dose.

    Segundo o estudo, a proteção da Coronavac em pessoas de 70 a 74 anos foi de 61,8%; na faixa etária de 75 a 79 anos foi de 49%; e entre pessoas acima de 80 anos, chegou a 28%, todas após 14 dias da segunda dose. A pesquisa não avaliou a efetividade da vacina em evitar internações e mortes.

    Ao todo foram analisados dados de 15.900 pessoas, com idade média de 76 anos, com suspeita e com Covid-19 no Estado de São Paulo.

    Outro estudo feito pelo mesmo grupo de pesquisadores vai avaliar a efetividade da Coronavac de evitar hospitalizações e óbitos por Covid-19 em idosos na mesma faixa etária nas cidade de São Paulo e Manaus.

    Segundo Julio Croda, infectologista da Fiocruz e um dos coordenadores do estudo, na capital paulista, vão ser avaliados 1,3 milhão de idosos, e, na capital amazonense, 200 mil. Os resultados devem ser informados ainda no primeiro semestre.

    Revacinação de idosos

    A nova evidência de uma proteção inferior a 50% da Coronavac pode levar à necessidade de revacinação de idosos, sobretudo na faixa acima de 80 anos, segundo Julio Croda.

    No entanto, o pesquisador pondera que não cabe ao estudo fazer a análise da necessidade de novas doses do imunizante para idosos, porque os dados não apontam a efetividade da vacina para evitar mortes e internações, o que faz mais diferença para esse público. 

    Croda analisa que a proteção da Coronavac atestada para a faixa etária de 70 a 74 anos é “até mais alta” do que a vista em estudos anteriores e que a efetividade na faixa de 75 a 79 anos é praticamente a mesma do estudo brasileiro anterior, “na faixa dos 50%”.

    Para o pesquisador, a estratégia de revacinação, se for aventada, poderia levar em conta pessoas acima de 80 anos “pela baixa efetividade para diminuir o adoecimento”.

    “Temos que discutir junto ao Programa Nacional de Imunizações assim que houver número de doses disponíveis para ver qual seria a estratégia para revacinar”, afirma Croda. 

    Importante é evitar hospitalizações e mortes

    Para o infectologista Alexandre Naime, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), mais do que evitar a infecção leve ou moderada pelo coronavírus, o mais importante agora em uma vacina contra a Covid-19 é a sua capacidade de diminuir internações e mortes pela doença, o que a Coronavac já demostrou.

    Naime explica que a Coronavac não vem para evitar a infecção por Covid-19, mas para prevenir casos graves, hospitalizações e óbitos.

    “Então, essa efetividade menor que 50% na população idosa do estudo brasileiro mostra apenas que não teve uma redução substancial de Covid-19 sintomática nos idosos”, explica.

    Por isso, idosos podem se sentir protegidos com a Coronavac, porque o imunizante já demonstrou ser eficiente com o que mais os ameaça, a hospitalização e o óbito por Covid-19 grave, explica o infectologista da Unesp. 

    “Em tempos de pandemia de Covid-19, o ótimo é inimigo do bom. A Coronavac já se mostrou uma boa vacina de redução de casos graves e óbitos, mas se fomos perseguir o ótimo, que é a redução de casos leves, vamos deixar de procurar o que é mais importante que é salvar vidas”, afirmou. 

    Como a pesquisa encabeçada pela Fiocruz também indicou a ausência de proteção contra a Covid-19 com apenas uma dose da Coronavac, isso significa ser necessário tomar as duas doses para estar imunizado, explica Croda. 

    “Esses dados reforçam a necessidade de os idosos manterem as medidas individuais de contenção do coronavírus, como uso de máscaras, higienização de mãos e distanciamento social mesmo vacinados”. 

    Aplicação da vacina contra Covid-19 no Rio de Janeiro
    Aplicação da vacina contra Covid-19 no Rio de Janeiro
    Foto: Delmiro Júnior/Agência O Dia/Estadão Conteúdo (19.mar.2021)

    Por que efetividade diminui com a idade?

    A diminuição da proteção à medida do envelhecimento é esperada em qualquer tipo de vacina, porque, geralmente, os imunizantes têm menos efetividade em pacientes idosos.

    Isso acontece por conta de um fenômeno chamado imunossenescência, ou envelhecimento do sistema imunológico, que se deteriora à medida que a pessoa envelhece. Com isso, também diminui a resposta imune as doenças e mesmo às vacinas, explica o infectologista Alexandre Naime, da Unesp. 

    “Os idosos conseguem fazer com menos eficácia a formação de anticorpos e de resposta imune celular que é a base da imunidade gerada por vacina”, explica. 

    A pesquisa encontrou também uma tendência a uma menor efetividade da vacina em idosos com diabetes mellitus, o que, segundo o infectologista da Fiocruz, são necessários mais estudos para comprovar a hipótese. 

    “Vimos que idosos extremos têm uma resposta menor à vacina e também detectamos uma possível resposta menor para idosos com diabetes mellitus. Mas precisamos de mais estudos que verifiquem isso em outras populações”, afirmou Croda.

    Outros testes com a Coronavac

    Os testes de efetividade são os ‘estudos da vida real’, que medem o percentual de proteção do imunizante durante a aplicação em massa da vacina. Já os estudos de eficácia são realizados nos testes clínicos, que avaliam a possibilidade de a vacina ser usada na população em geral.        

    Um estudo conduzido com 20 mil profissionais de saúde que tomaram a Coronavac no Hospital das Clínicas em São Paulo atestou uma efetividade de 50,7% contra o coronavírus, duas semanas após a aplicação da segunda dose, e de 73,8% a partir de cinco semanas depois da segunda dose. 

    Outro estudo com a Coronavac realizado no Chile, país que também vacina em massa com o imunizante, demonstrou 67% de proteção contra o coronavírus, 80% de proteção contra morte pela doença e até 85% de proteção na prevenção de hospitalizações por Covid-19.

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