Estudo aponta ineficácia de medicamentos usados para HIV e hepatite C na redução da carga viral da Covid-19
Pesquisa conduzida em 35 centros no Brasil, com 255 participantes, indicou que não houve alteração significativa na inibição do vírus pelos fármacos atazanavir, sofosbuvir e daclatasvir
Um estudo realizado a partir de uma parceria de diversas instituições e hospitais brasileiros apontou que medicamentos utilizados no tratamento do HIV e da hepatite C não são eficazes na redução da carga viral da Covid-19. Os resultados foram publicados no periódico científico Lancet: Regional Health – Americas.
Diante da ausência de medicamentos específicos para o tratamento da infecção pelo coronavírus no início da pandemia. A comunidade científica se desdobrou em avaliar a capacidade de fármacos aprovados para os cuidados de outras doenças de reduzir os impactos da Covid-19 partindo de semelhanças entre os vírus.
Um estudo preliminar da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de 2020 mostrou que o medicamento atazanavir, utilizado no tratamento do HIV, foi capaz de inibir a replicação viral, além de reduzir a produção de proteínas que estão ligadas ao processo inflamatório nos pulmões.
Já em 2021, em uma outra pesquisa da Fiocruz, dois medicamentos – sofosbuvir e daclatasvir – usados contra a hepatite C se mostraram eficazes ao inibir a replicação do SARS-CoV-2 em estudos com células em laboratório.
Partindo desses resultados, pesquisadores do trabalho recente avaliaram a eficácia dos antivirais na redução da carga viral do coronavírus em pacientes internados. O estudo, conduzido em 35 centros no Brasil, com 255 participantes, concluiu que não houve alteração significativa na inibição do vírus, em comparação com o placebo – uma substância sem qualquer efeito, após dez dias de tratamento.
Os especialistas conduziram uma investigação de vários medicamentos simultaneamente. Programado para três estágios, método tinha como primeiro objetivo comparar a ação desses medicamentos isolados com o placebo na diminuição da carga viral do SARS-CoV-2.
O segundo avaliaria se a combinação desses medicamentos era melhor que o medicamento isolado. O terceiro, por fim, testaria o melhor medicamento das duas fases anteriores (isolado ou combinado) contra a substância sem efeitos para analisar o desfecho clínico centrado no paciente de dias livres de suporte respiratório.
O estudo foi concluído no primeiro estágio, pois a regra pré-especificada não permitia sua continuação para outros estágios, caso nenhum medicamento fosse melhor que o placebo nessa fase.
A pesquisa faz parte da Coalizão Covid-19 Brasil, uma aliança formada por Hospital Israelita Albert Einstein, Hcor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).
Recomendações da OMS
A lista de medicamentos recomendados para pacientes de Covid-19 da Organização Mundial da Saúde (OMS) é alterada periodicamente, a partir da avaliação de novas evidências científicas disponíveis.
Atualmente, é recomendado para pacientes em condição grave ou crítica: medicamentos corticosteroides, bloqueadores dos receptores do mediador inflamatório interleucina-6 (tocilizumabe ou sarilumabe), inibidor da enzima Janus quinase (baricitinibe), além de uma recomendação condicional para remdesivir em alguns pacientes graves.
Já para pessoas com a forma não grave da doença, mas com maior risco de hospitalização, são recomendados o antiviral Paxlovid (nirmatrelvir-ritonavir), aprovado no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), além de molnupiravir e remdesivir para pacientes com condições específicas.