Estudo aponta 42% de mortes entre pacientes com alterações cardíacas pós-Covid
Pesquisa do Incor avaliou o impacto do coronavírus no coração de pacientes atendidos em 21 hospitais; maioria das vítimas tinha mais de 60 anos
Uma pesquisa realizada pelo Instituto do Coração (InCor) apontou uma taxa de mortalidade de 42% entre pacientes que apresentaram problemas no coração em decorrência da Covid-19 atendidos em 21 hospitais pelo país. A pesquisa intitulada CoronaHeart foi publicada no IJC Heart & Vasculature.
Conduzida pelo cardiologista Roberto Kalil Filho, presidente do conselho diretor do InCor e apresentador do programa CNN Sinais Vitais, e pela pesquisadora Patrícia Guimarães, o estudo acompanhou 2.546 pacientes com idade média de 64 anos, sendo 60,3% do sexo masculino, de junho a outubro de 2020.
Através de análise retrospectiva de seus prontuários médicos, os pesquisadores avaliaram as principais alterações cardiovasculares e fatores que poderiam aumentar o risco de morte nos pacientes.
Segundo a pesquisa, 71% dos pacientes analisados necessitaram de terapia intensiva e 54,2% apresentaram lesões no músculo cardíaco, indicadas pelos níveis elevados de troponina, proteína reconhecida como marcador de injúrias cardíacas.
Além da troponina elevada, o estudo identificou também como fatores de risco de agravamento e morte a insuficiência cardíaca prévia, presente em 12,6% dos participantes da pesquisa, alterações no ecocardiograma (6%), síndromes coronárias agudas (5,7%) e arritmias (4,5%).
Fatores associados à mortalidade
Segundo a pesquisa, os principais fatores associados à mortalidade foram a idade avançada, a necessidade de ventilação mecânica, os altos índices de inflamação (proteína C reativa), alteração no músculo cardíaco (troponina) e alteração no sistema de coagulação do sangue.
A CoronaHeart apontou também que, diferentemente dos registros internacionais, no Brasil foi notada um equilíbrio entre o número de mortes de homens e de mulheres. Em outros países, verificou-se a prevalência do sexo masculino no registro de óbitos.
Um dos fatores observados também na pesquisa brasileira foi o risco aumentado de perda da vida em pacientes com algum tipo de câncer, devido à fragilidade do sistema imune. Esse dado é similar aos resultados de pesquisas na China, porém ele foi não registrado em estudos do continente europeu, segundo os pesquisadores.
Segundo Kalil Filho, este é o primeiro estudo na América do Sul a compor informações sobre intercorrências cardíacas em pacientes com Covid-19, ao lado de pesquisas já realizadas na Itália, Estados Unidos e Inglaterra.
“Como cada população tem sua especificidade, é importante que tenhamos esse estudo como um recorte brasileiro”, disse Kalil Filho ao Incor.
Com esses dados em mãos, a equipe do InCor desenvolveu uma classificação de risco, o CoronaHeart Risk Score, para auxiliar médicos na avaliação precoce e na orientação dos cuidados e dos potenciais tratamentos em pacientes infectados com Covid-19, disse o instituto em um comunicado.