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    Estudo: 7 em cada 10 pessoas internadas por Covid têm sequelas por até 5 meses

    No quadro Correspondente Médico, Fernando Gomes diz que pacientes recuperados devem procurar tratamento para sintomas persistentes

    Daniel Corrá, , da CNN, em São Paulo

    Um novo estudo feito no Reino Unido mostra que sete em cada dez pacientes hospitalizados por Covid-19 não se recuperam totalmente mesmo depois de cinco meses de alta médica. A pesquisa feita pela Universidade de Leicester analisou cerca de mil pessoas que ficaram internadas entre março e novembro do ano passado.

    A maioria dos pacientes recuperados apresentou uma média de nove sintomas da doença, mesmo após o fim da infecção. Na edição desta quinta-feira (25) do quadro Correspondente Médico, do Novo Dia, o neurocirurgião Fernando Gomes explicou que sequelas pós-infecções não é algo exclusivo do coronavírus e, nesses casos, é preciso buscar tratamento médico.

    “A presença de dor, fraqueza nos membros, às vezes a sensação de falta de ar, perda de memória a curto prazo, dor muscular, fadiga, desaceleração física, insônia, inchaço nas articulações – em linhas gerais, é o que foi relatado nessa pesquisa [de sequelas] e temos notado isso em pacientes que nos procuram no consultório”, listou o especialista.

    “Muitas vezes, nosso corpo vai agir como se tivesse ‘levado uma surra’, no bom sentido, e isso pode perdurar por muito tempo, mesmo que ele tenha conseguido combater o coronavírus e eliminá-lo”, explicou Gomes. “Isso não é algo exclusivo do coronavírus. A chikungunya também é descrita com dores musculares por muito tempo [após a infecção]. É de se esperar que isso venha acontecer, ainda estamos tratando e diagnosticando isso”, completou.

    Correspondente Médico
    No quadro Correspondente Médico, Fernando Gomes falou sobre as sequelas da Covid-19
    Foto: CNN Brasil (25.mar.2021)

    Dados do estudo

    Entre os dados mais alarmantes do estudo estão que sobreviventes da Covid continuaram a ter problemas de saúde mental e física; e 1 em cada 5 pessoas desenvolveram uma nova deficiência. Uma a cada 5 pessoas (novamente) estão inaptas para trabalhar ou tiveram que mudar de emprego devido ao seu novo estado de saúde. 

    O estudo analisou 1.077 pessoas que receberam alta do hospital entre março e novembro de 2020. Entre eles, 67% eram brancos, 36% eram mulheres e 50% apresentavam pelo menos duas condições que os colocavam em risco de doença grave. 

    As pessoas com maior probabilidade de apresentar sintomas persistentes foram mulheres brancas de meia-idade e que tinham, pelo menos, duas condições que as colocavam em maior risco de doenças graves, como diabetes, asma ou doenças cardíacas. 

    “Nossos resultados mostram uma grande carga de sintomas, problemas de saúde física e mental e evidências de danos a órgãos cinco meses após a alta com Covid-19”, disse Rachael Evans, professora associada da Universidade de Leicester e consultora respiratória nos hospitais de Leicester. 

    “Também está claro que aqueles que necessitaram de ventiladores e foram internados em terapia intensiva têm a recuperação mais demorada “, completou Evans. 

    Apenas 29% das pessoas disseram que se sentiram totalmente recuperadas, enquanto mais de 90% tinham pelo menos um sintoma persistente. A maioria relatou em média nove sintomas contínuos. 

    Os 10 sintomas mais comuns foram dor muscular, fadiga, desaceleração física, qualidade do sono prejudicada, dor ou inchaço nas articulações, fraqueza nos membros, falta de ar, dor, perda de memória de curto prazo e pensamento lento, de acordo com o estudo, que ainda não foi revisado.

    A saúde mental também foi afetada: mais de 25% das pessoas apresentaram sintomas clínicos de ansiedade ou depressão e 12% apresentaram sintomas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). 

    Os participantes também foram divididos em quatro grupos com base na gravidade dos sintomas no seguimento: Muito grave, grave, moderado e leve -sendo 46% dos entrevistados pertencentes a este último grupo. 

    “Os pacientes com os sintomas mais graves, cinco meses após da alta, tinham níveis mais elevados de proteína C reativa, que é associada à inflamação no corpo. A partir de estudos anteriores, sabe-se que a inflamação sistêmica está associada à má recuperação de doenças”, explicou Louise Wain, uma das autoridades em pesquisa respiratória da Universidade de Leicester e co-investigadora do o estudo. 

    Nos grupos estudados, a proteína C reativa foi relacionada à gravidade dos sintomas, mas não o quão grave o participante havia sido afetado por Covid-19. 

    “Também sabemos que a autoimunidade, em que o corpo tem uma resposta imune às suas próprias células e órgãos saudáveis, é mais comum em mulheres de meia-idade. Isso pode explicar por que a síndrome pós-Covid parece ser mais presente neste grupo. Mas é preciso investigar melhor para compreender totalmente os processos”, disse Wain.

    Mais cuidados

    Pesquisadores agora estão pedindo mais cuidados no acompanhamento de pessoas que se recuperaram de Covid. “Nossos resultados pedem por um acompanhamento clínico com uma avaliação holística para incluir sintomas, saúde mental e física, mas também uma avaliação objetiva para a cognição “, disse Chris Brightling, professor de medicina respiratória da Universidade de Leicester e o investigador principal para estudo.

    “O estudo continuado da recuperação durante um período de tempo mais longo, com maior compreensão da biologia subjacente aos sintomas pós-Covid, irá melhorará o manejo clínico pós-infecção”, disse ele. 

    Os participantes do estudo serão avaliados novamente em 12 meses para coletar mais dados sobre o impacto de longo prazo da Covid-19. 

    O professor Chris Whitty, diretor médico do Reino Unido e co-líder do Instituto Nacional de Pesquisa em Saúde, disse em um comunicado: “É importante descobrir o que exatamente são os vários elementos do que atualmente é denominado ‘Long Covid’ para que possamos prevenir e tratar pessoas que sofrem com efeitos de longo prazo.” 

    “Eu sei que o Covid pode ter um impacto duradouro e debilitante nas vidas das pessoas afetadas e estou determinado a melhorar os cuidados que podemos oferecer”, disse o secretário de Saúde e Assistência Social do Reino Unido, Matt Hancock, em um comunicado. 

    “Estudos como este nos ajudam a construir rapidamente nossa compreensão do impacto da doença e estamos trabalhando para desenvolver novas pesquisas para que possamos apoiar e tratar as pessoas.”

    (Texto sobre o estudo traduzido do inglês. Leia o original na CNN). (Com informações de Meera Senthilingam, da CNN)

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