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    Estresse durante a gestação pode afetar o cérebro do bebê, segundo pesquisas

    Proporcionar uma gestação tranquila para mães pode ter efeitos no desenvolvimento cerebral dos filhos, de acordo com pesquisas recentes

    Proporcionar uma gestação tranquila para mães pode ter efeitos no desenvolvimento cerebral dos filhos
    Proporcionar uma gestação tranquila para mães pode ter efeitos no desenvolvimento cerebral dos filhos Foto: Freepik

    Sandee LaMotte,

    da CNN

    O estresse de uma mulher durante a gravidez pode afetar o desenvolvimento do cérebro do bebê ainda não nascido, de acordo com estudos baseados em exames cerebrais em fetos, publicados nesta segunda-feira (7) na revista de medicina JAMA Open Network.

    Fetos de gestantes com níveis de ansiedade mais altos são mais prováveis a ter conexões mais fracas entre duas áreas do cérebro que estão envolvidas com funções cognitivas mais eficientes – e conexões mais fortes entre áreas do cérebro mais conectadas com controles emocionais e de comportamento. 

    O estudo ecoa outra pesquisa recente que encontrou um impacto direto do estresse materno no desenvolvimento futuro do bebê.

    “Níveis tóxicos de ansiedade…aparentam ter efeitos diretos na forma com que o cérebro do feto está sendo esculpido e organizado no útero,” disse a autora do estudo, Catherine Limperopoulos, que dirige o Instituto de Desenvolvimento do Cérebro no Hospital Infantil Nacional, em Washington D.C., nos Estados Unidos.

    “O que a gestante está vivendo, o bebê está vivendo também”, disse Limperopoulos.

    Um nível “tóxico” de ansiedade no estudo era definido como “quando os níveis de estresse interferem na habilidade de uma mulher de cumprir seu cotidiano, seus papéis e responsabilidades, mas não o suficiente para um diagnóstico clínico como uma patologia mental ou um transtorno”.

    A ligação entre o estresse e o desenvolvimento cerebral fetal é excepcionalmente aterrorizante para mulheres que estão grávidas durante a pandemia, Limperopoulos disse. A primeira pesquisa feita pela especialista indicou que o estresse em gestantes durante a era da Covid-19 duplicou, ou até mesmo triplicou.

    “E há outros estudos publicados confirmando que gestantes estão reportando níveis altos de ansiedade durante a pandemia”, ela disse.

    “Há uma mensagem crítica para levar em conta aqui”, adicionou a pesquisadora. “É muito importante que alertemos as mulheres para o fato de que níveis altos de estresse podem ter efeitos no desenvolvimento de seus filhos, e dirigi-las a recursos que possam ajudá-las a lidar melhor com a ansiedade durante essa pandemia e depois”.

    O impacto do estresse materno

    Pesquisas anteriores haviam ligado o estresse, a ansiedade e a depressão em mulheres grávidas a problemas emocionais, sociais e de comportamento em seus filhos quando forem mais velhos.

    Estudos clínicos apontaram déficits neurocomportamentais, como coordenação motora prejudicada, reatividade emocional alta e atrasos linguísticos em crianças nascidas de mães ansiosas. 

    Limperopoulos publicou no início do ano um estudo que apontava que altos níveis de estresse durante a gestação atrapalham a bioquímica do cérebro do bebê e o crescimento do hipocampo – área do cérebro envolvida na formação de novas memórias, que também está associada com o aprendizado e com as emoções. 

    Estudos mais antigos também encontraram padrões eletroencefalográficos incomuns nos lobos frontais de crianças, juntamente com mudanças na matéria branca, responsável por organizar a comunicação entre várias partes do cérebro.

    O estresse também foi ligado a partos prematuros. Mulheres que se sentiram sobrecarregadas durante os meses, e até anos, antes da concepção tiveram gestações mais curtas que outras mulheres, de acordo com um estudo publicado em julho.

    “Cada dia no útero é importante para o crescimento e desenvolvimento fetal”, disse a professora Christine Dunkel Schetter, que leciona psicologia e psiquiatria e pesquisou o assunto durante anos no Laboratório de Processos de Estresse e Gestação, na Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

    “Crianças prematuras têm riscos maiores de resultados adversos no nascimento e mais tarde na vida, do que bebês nascidos mais tarde – inclusive de desenvolvimento de deficiências e problemas de saúde física,” Dunkel Schetter disse.

    Outro estudo publicado neste mês descobriu que o estresse materno – mesmo antes da concepção – podem diminuir o comprimento dos telômeros dos bebês, uma estrutura composta do DNA localizada nas pontas de nossos cromossomos, responsáveis por proteger nossas células do envelhecimento enquanto elas se multiplicam.

    Pense nos telômeros como as tampinhas de plástico que protegem o final dos seus cadarços. Telômeros menores foram ligados a um maior risco de desenvolvimento de doenças cardíacas, câncer e morte prematura.

    “O que nossa pesquisa nos diz é que provavelmente fatores ambientais e maternais desde a gestação podem influenciar como uma pessoa começa a vida, o que pode a programar para envelhecer mais rápido”, disse Judith Carroll, autora do estudo e professora associada de psiquiatria e ciências biocomportamentais no Instituto Semel de Neurociência e Comportamento Humano na UCLA, em pronunciamento.

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    Estresse em gestações de baixo-risco

    O estudo mais recente na JAMA Open Network analisou o nível de estresse em 50 mulheres que estavam entre as 24 e 39 semanas da gravidez e consideradas de baixo-risco, por conta das categorias sociodemográficas mais altas das gestantes. Essas mulheres com altos níveis de formação e profissional formavam um grupo de “controle” saudável em um estudo maior sobre o desenvolvimento cerebral de fetos. Nenhuma dessas mulheres usava medicamentos.

    Em um mesmo dia, as mulheres preencheram questionários amplamente utilizados para medição de estresse, ansiedade e depressão, e então os pesquisadores fizeram exames sensíveis dos cérebros dos fetos em desenvolvimento.

    “Esses estudos são considerados seguros – eles não prejudicam nem a gestante, nem seu feto”, disse Limperopoulos. “Esperamos que poderemos usar esse tipo de tecnologia como uma técnica preventiva nas gestantes”. 

    O estudo está acompanhado as mães e os bebês até que as crianças atinjam os 18 meses de idade, explicou a pesquisadora, para ver se os efeitos da gestação são modificados por fatores ambientais. Ela está recrutando mulheres para um estudo futuro para investigar se intervenções behavioristas podem reduzir os sintomas de estresse em gestantes. 

    “E mais importante, poderemos medir efeitos preventivos ou restaurativos para os fetos antes do nascimento”, ela disse. 

    A lição mais importante do estudo é que os fatores de risco do estresse, da ansiedade e da depressão são modificáveis, enfatizou Limperopoulos, mas ainda sim “75% das mulheres que estão experienciando problemas de saúde mental durante a gravidez não recebem um diagnóstico porque não existem buscas sistemáticas para esses problemas”.

    “Realmente precisamos estar prestando atenção nos problemas de saúde mental durante a gravidez, porque eles não estão afetando somente as gestantes, mas parecem ter efeitos persistentes no bebê por meses, e provavelmente anos, à frente”, adicionou Limperopoulos.

    “Se nós, como uma sociedade, podemos fazer mudanças para ajudar mulheres grávidas a ter os recursos que precisam e provê-las um ambiente seguro e solidário antes e durante a gestação, podemos provocar um impacto significativo na saúde das crianças”, disse Carroll. 

    (Texto traduzido, leia aqui o original em inglês).