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    Especialistas explicam que chances de engravidar após os 50 são pequenas, mas prováveis

    Entenda como a fisiologia da mulher funciona durante a gravidez tardia

    Claudia Raia anuncia gravidez aos 55 anos
    Claudia Raia anuncia gravidez aos 55 anos Reprodução/Instagram

    Ingrid Oliveirada CNN

    em São Paulo

    Um dos desafios da gravidez acima dos 35 anos — além dos riscos gestacionais para mãe e alterações genéticas para o bebê — são os problemas hormonais.

    A partir desta faixa etária, o Ministério da Saúde considera fator de risco gestacional preexistente — o que exige atenção especial durante a realização do pré-natal. Na faixa dos 50 anos, a gestação se torna ainda mais complicada.

    Nesta semana, a atriz Claudia Raia anunciou que está grávida. Aos 55 anos, ela também é mãe de Enzo, de 25 anos, e Sophia, de 19, de seu relacionamento com o ator Edson Celulari.

    A idade acima dos 50 interfere na quantidade de óvulos que a mulher produz, ou seja, na taxa de fecundidade feminina. Quando nascem, as mulheres trazem consigo mais de um a dois milhões de folículos primordiais.

    Esse número diminui consideravelmente na primeira menstruação (menarca), e a cada ciclo menstrual.

    Mauricio Abrão, coordenador do Setor de Ginecologia Avançada da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, disse à CNN que as chances de uma mulher engravidar aos 50 anos são “muito pequenas”.

    “É muito difícil dizer que se é menos de 1%, mas é um número muito pequeno no que diz respeito à chance de engravidar com óvulos próprios, dentro de um cenário sem fertilização”, disse.

    Para fins de comparação, a chance de um casal normal de engravidar, sem problema de infertilidade e abaixo dos 35 anos, é de 15 a 20% por mês, explicou Abrão

    Mudanças na fisiologia do corpo com o decorrer da idade

    Desde muito cedo, a enxurrada de hormônios muda completamente a vida da mulher. Quando o ciclo menstrual começa, uma série de alterações surgem no corpo e mudam todo o  estilo de vida.

    A menstruação é a descamação das paredes internas do útero, e acontece quando não há fecundação dos óvulos ainda na adolescência. É como se fosse uma preparação do corpo para a gravidez, e quando não ocorre, o endométrio — membrana uterina — se desprende.

    O processo de encerramento ocorre, em média, entre os 45 e 55 anos, quando o corpo começa a apresentar alguns sinais, oscilações no período menstrual. Esse momento é chamado de perimenopausa. O marco de encerramento, na última menstruação, chamado de menopausa.

    O ginecologista da BP explica que a probabilidade de engavidar vai caindo com o decorrer da idade. “Essa diminuição decorre de duas questões: primeiro a diminuição da quantidade dos óvulos, e segundo a qualidade deles.

    “Para se ter ideia, durante a vida reprodutiva, dez a 15 folículos (dos milhares que a mulher nasce) são recrutados para um se tornar dominante e liberar o óvulo que fica dentro dele”, explicou.

    Por volta da perimenopausa, os folículos estão em torno de10 mil. Segundo o Abrão, a segunda questão que dificulta a gravidez a partir dos 50 anos é a qualidade dos óvulos — que começa a diminuir progressivamente a partir dos 35 anos.

    A endocrinologista Lorena Lima Amato diz que, o  momento que cada mulher deseja engravidar é importante, precisa acontecer quando ela se sente pronta para tal decisão.

    “No entanto, é fundamental ter conhecimento das possíveis dificuldades que podem acontecer com a postergação da gravidez”, afirma.

    De acordo com Abrão, a “mulher moderna, que se cuida, que faz atividade física e não tem nenhuma comorbidade, pode ter um corpo preparado para receber uma gravidez nessa faixa etária — muitas vezes até melhor do que mulheres mais novas que não se cuidam tão bem”, disse.

    A orientação para quem deseja engravidar acima dos 50 anos é procurar o acompanhamento de ginecologista especialista em fertilidade e um endocrinologista, que poderão avaliar as possibilidades, como o congelamento de óvulos, por exemplo, para que essa postergação seja segura.

    Outras mudanças envolvem não apenas os hormônios ovarianos, mas os tireoidianos, adrenais e da hipófise também.

    A gravidez tem profundo impacto sobre a tireoide e sua função. A glândula aumenta de tamanho em 10% quando há suficiência de iodo e em 20% a 40% na sua deficiência.

    Segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a necessidade de iodo e a produção dos hormônios da tireoide triiodotironina (T3) e tiroxina (T4) aumentam em aproximadamente 50%.

    De cordo com Lorena, “sses hormônios são essenciais para a saúde da mãe e do feto na gestação”.

    Risco e cuidados de uma gravidez a partir de 50 anos

    Um levantamento de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no início deste ano mostrou que as mulheres brasileiras estão tendo filhos cada vez mais tarde.

    De 2000 para 2020, a proporção de registros de nasci­mentos cujas mães tinham menos de 30 anos caiu de 76,1% para 62,1%, mostrou a pesquisa.

    Já os registros de nascimentos cujas mães tinham 30 anos ou mais subiram de 24,0% para 37,9%. A menor taxa de fecundidade e a tendência de gravidez tardia indica um processo de transição demográfica no Brasil.

    A gestação tardia envolve uma série de riscos para a mãe e o bebê, por isso, o pré-natal precisa ser diferenciado. Para o bebê as chances de alterações cromossômicas e síndromes aumentam.

    Para a mulher o risco de desenvolver o diabetes gestacional, a hipertensão, além de outros fatores que ficam mais complexos com o passar dos anos.

    Quando a gravidez ocorre nesta faixa etária, a mulher “precisará de uma dose de progesterona para ajudar no momento da gravidez, na implantação do embrião, mas a reposição hormonal, por si, não ajudará a engravidar”, disse Lorena.

    “No entanto, se a paciente utiliza o estrogênio, dependendo da dose, que é o hormônio que usado na terapia de reposição hormonal, ele pode inibir a gravidez”, ressalta a especialista.

    Abrão diz que é necessário que haja um acompanhamento detalhado para esses casos.

    “A primeira coisa para uma gravidez acima dos 50 anos é uma avaliação clínica e ginecológica da paciente para rastrear fatores de risco e uma avaliação hormonal”, afirmou Abrão.

    O médico ressalta que, após uma avaliação hormonal profunda e detalhada, é necessário discutir com cada paciente as alternativas para que ela engravide.

    “Na maioria das vezes, com auxílio de ovodoação”, ressaltou.