Especialistas esclarecem dúvidas e reforçam necessidade de vacinação de crianças
Em entrevista à CNN, médicos Esper Kallás, Ludhmila Hajjar e Roberto Kalil Filho comentaram os principais pontos da autorização da Anvisa para vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou, nesta semana, o uso da vacina da Pfizer contra a Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos de idade no Brasil. A decisão é fruto de avaliação técnica do pedido submetido pela farmacêutica em novembro. A dosagem da vacina para esta faixa etária será ajustada e menor que aquela utilizada por maiores de 12 anos.
Segundo a Anvisa, a autorização foi concedida após o estudo da equipe técnica da agência dos dados de segurança, eficácia e capacidade de indução da resposta imunológica a partir da aplicação do imunizante nesta faixa etária.
Para a definição, a Anvisa contou com a consultoria de especialistas da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Ministério da Saúde realiza consulta pública
O início da vacinação de crianças de 5 a 11 anos no Brasil depende do calendário e logística do Ministério da Saúde. Neste sábado (18), o ministro Marcelo Queiroga detalhou os próximos passos a serem seguidos para a inclusão da faixa etária na campanha de imunização.
De acordo com o ministro, a avaliação será submetida à Câmara Técnica Assessora de Imunizações (CTAI) do Ministério da Saúde. Na próxima quarta-feira (22), será aberta uma consulta pública, que ficará disponível até 2 de janeiro de 2022.
Com o encerramento da consulta, as contribuições apresentadas serão alvo de uma audiência pública no dia 4 de janeiro e, no dia seguinte, o ministério anunciará a decisão.
Especialistas esclarecem dúvidas
Para esclarecer as principais dúvidas sobre a vacinação contra a Covid-19 de crianças de 5 a 11 anos no país, a CNN entrevistou os médicos Esper Kallás, Ludhmila Hajjar e Roberto Kalil Filho.
“Estamos diante de um cenário que já temos estudos científicos suficientes para demonstrar segurança e eficácia de vacinar a população pediátrica. Já temos o parecer da Anvisa e penso que agora estamos diante apenas da operacionalização disso para as próximas semanas e meses”, afirmou a cardiologista Ludhmila Hajjar, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e chefe da UTI de Covid-19 do Hospital das Clínicas.
Para o infectologista Esper Kallás, professor da Faculdade de Medicina da USP, a emergência e disseminação da variante Ômicron do novo coronavírus pelo mundo é um dos fatores que indicam a necessidade de acelerar a vacinação.
“Não estamos diante de uma situação que a gente pode sentar e analisar meses a fio a implementação de uma política como essa. Nós temos as crianças sob risco, temos a circulação do vírus em larga escala aqui no Brasil, infelizmente, a despeito da queda do número de internações e de mortes”, disse.
O cardiologista Roberto Kalil Filho, apresentador do programa CNN Sinais Vitais e professor da Faculdade de Medicina da USP, ressaltou que a estrutura capilarizada do Sistema Único de Saúde (SUS) no país vai permitir a vacinação acelerada da população infantil.
“É necessário agilizar a vacinação em crianças e adultos. Lembramos que a população toda não está vacinada ainda. O sistema de vacinação do Brasil é um dos melhores do mundo, é um sistema capilarizado. Desde que você tenha as vacinas, como nós temos, facilmente a população é vacinada”, afirmou Kalil.
Para o cardiologista, a aprovação da Anvisa é o subsídio necessário para a imunização de crianças de 5 a 11 anos que, segundo ele, deve ser iniciada o quanto antes. “A vacinação não tem que ter atraso. A ciência está aí, tem que vacinar. Qualquer burocratização em torno desse tema pode levar a consequências sérias”, disse.
Avanços no combate à pandemia de Covid-19
Os primeiros casos de Covid-19 foram detectados na China em dezembro de 2019, quando ainda estavam sendo classificados como pneumonia de origem desconhecida.
Pesquisadores chineses identificaram que os casos estavam associados a um novo tipo de coronavírus, que foi isolado em laboratório no dia 7 de janeiro de 2020. No dia 11 de março daquele ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o mundo vivia uma situação de pandemia pela Covid-19.
Na entrevista concedida à CNN, os especialistas em saúde pública avaliaram os avanços no combate à infecção causada pelo vírus SARS-CoV-2.
“Em dois anos a ciência deu respostas importantes no combate a essa pandemia. Um deles, que é o foco da prevenção e do combate, é a vacina. Mas aprendemos nesses dois anos o que não funciona definitivamente”, disse Ludhmila.
A especialista relembrou medicamentos que foram testados no combate à Covid-19 e que se mostraram ineficazes após a conclusão de estudos científicos. Entre eles, estão remédios como a cloroquina e a hidroxicloroquina, a ivermectina, a azitromicina, além de zinco e vitamina D.
“Felizmente hoje, com dois anos de entendimento dessa pandemia, não discutimos mais esse tema. Esse tema é fruto de um passado que merece ser esquecido. Ao longo desses dois anos, entendemos que há sim possibilidades de tratamento que auxiliam na redução do número de mortes e de hospitalizações”, afirmou.
A comunidade científica revelou que o SARS-CoV-2 é um vírus de RNA, que se replica no organismo dos indivíduos. As manifestações clínicas da infecção variam desde casos assintomáticos a quadros mais graves, que requerem internação e ventilação mecânica, geralmente associados à inflamação.
Para o cardiologista Roberto Kalil, a pandemia de Covid-19 evidenciou a necessidade de investimentos no SUS. “O Sistema Único de Saúde é brilhante. Porém, é um sistema que está subfinanciado há décadas. A pandemia mostrou para as autoridades, para a população e para a imprensa a importância do SUS”, disse.