Especialistas divergem sobre fim da obrigatoriedade de máscaras em escolas do Rio
Escolas municipais e estaduais adotam uso facultativo do item de proteção
Após a prefeitura do Rio de Janeiro desobrigar o uso de máscaras contra a Covid-19 em locais fechados, nesta terça-feira (8), as escolas da cidade se adaptam à novidade, que divide a opinião de pais e especialistas. Apesar de ser favorável ao fim da exigência, o comitê científico recomendou a continuidade da utilização por pessoas não vacinadas, inclusive crianças.
Como o público com menos de cinco anos ainda não está contemplado pelos imunizantes aprovados no Brasil, a jornalista Raphaella Luppi, mãe de um filho de três anos, decidiu continuar usando a máscara. A filha mais velha, Catarina, de nove, também segue com a proteção facial.
“Eu tenho um filho menorzinho e vou manter todos os protocolos de segurança. Não há um consenso da área de saúde, tem muita criança que não completou o calendário, teve o Carnaval, pode ter um efeito rebote”, disse a jornalista.
Sarah Rodrigues é aposentada, está vacinada e tem um filho de 16 anos, também imunizado. Mas concorda que é cedo para retirar a máscara. “Eu ainda não me sinto segura. Eu vou continuar usando por um tempo. A gente não sabe o que está pra vir. Dentro de sala de aula é um local fechado, com mais concentração. Ainda fico preocupada”, contou Sarah.
Por outro lado, algumas pessoas já aderiram à liberação. Odete Ferreira, trouxe a afilhada Maria, de três anos, para a escola sem máscara. “Eu não suporto mais a máscara, me sufoca. E a escola da Maria liberou. Se tiver resfriado, a gente não manda (para aula). Na turminha dela ninguém tomou ainda a vacina, tem três anos. E na salinha, ficam só eles. Então, eu fico tranquila”, explicou a aposentada.
Para os cientistas consultados pela CNN, o cenário epidemiológico da cidade, a cobertura vacinal e o risco de hospitalização são fatores determinantes para que sejam favoráveis ou não à medida.
O infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Júlio Croda, a favor da derrubada do uso de máscaras em locais fechados, explica que a situação da pandemia na cidade favorece a decisão da prefeitura.
“O Rio tem uma cobertura em crianças acima de 50%, o que é maior do que em outras cidades do Brasil. Então, eu acredito que sim, estamos avançando e as medidas individuais devem ser avaliadas em cada contexto epidemiológico e as crianças não têm tanto risco. Acredito que a baixa vacinação não é uma justificativa para manter o uso de máscara, principalmente em escolas, já que o risco de hospitalização e óbitos nessa população é menor do que na população geral”, pontua o especialista.
A capital fluminense tem 83,8% da população total com a segunda dose da vacina contra o coronavírus, índice que sobe para 89,2% na população acima de cinco anos, faixa com autorização para tomar o imunizante. Ao todo, 58% das crianças com idade entre 5 e 11 anos estão com a primeira dose e cerca de 8% desse grupo tem o esquema vacinal completo. Além disso, a população total registrou 42,3% da com a dose de reforço.
Já o pediatra, infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, defende que a utilização da máscara deveria continuar em locais como transporte público, escolas e unidades de saúde.
“A meu ver, algumas situações são imperativas para o uso de máscaras. E individualmente para aqueles indivíduos imunocomprometidos ou de mais idade, o uso deve sim ser recomendado. Retirar a máscara hoje para jovens, em ambientes abertos, é uma discussão mais fácil de fazer, me parece bastante razoável. Mas para aglomerações inevitáveis, para serviços de saúde, para grupos de risco, a recomendação a meu ver deveria ser o uso contínuo da máscara, especialmente em ambientes fechados”, afirma o pediatra.
Como estão agindo as escolas no Rio
O diretor do Sindicato dos Estabelecimentos de Educação Básica do Município do Rio de Janeiro (Sinepe) Lucas Machado esclarece que a instituição está apenas aconselhando os estabelecimentos de ensino em relação aos protocolos sanitários, mas que a decisão fica a critério de cada local.
“Desde o início da pandemia, a nossa orientação aos associados é de sempre manter e seguir as orientações sanitárias do município e do estado. Porém, a decisão final de como cada escola vai proceder é individual. O sindicato orienta manter o máximo de cuidado possível e a seguir os protocolos dos órgãos. O Sinepe Rio é favorável a todas as medidas que permitam o acesso dos estudantes às aulas presenciais, de forma segura, respeitando as normas e protocolos das autoridades competentes”, disse.
Na rede pública, a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro informou que seguirá o Decreto da Prefeitura, que desobriga o uso de máscaras. No entanto, seguirá fornecendo a proteção aos profissionais da educação que optarem por usá-la e aos alunos que necessitarem. A Secretaria também incentiva a proteção para pessoas imunodeprimidas, com comorbidades de alto risco e pessoas não vacinadas.
Já a Secretaria de Estado de Educação informou que as escolas da rede estadual devem seguir os protocolos sanitários vigentes dos municípios nos quais estão localizadas.
Segundo o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, a liberação do uso de máscaras deve ser acompanhada da vacinação.
“A gente está chegando a 70% das crianças com a primeira dose, busca ativa nas escolas com agentes comunitários deu muito resultado. Aos poucos os pais vão tendo confiança na vacina, vendo outras crianças se vacinando”, explicou.
No entanto, ele lembra que o comitê científico da prefeitura recomendou que as crianças que não se vacinaram ainda devem utilizar máscaras. “No coletivo a gente já tem segurança para desobrigar que as pessoas utilizem máscaras. Isso vai ser um critério individual de cada familiar, de cada criança, de cada família”, explicou o secretário.
Com a nova determinação aprovada nessa segunda-feira, o Rio é a primeira capital do Brasil a derrubar a obrigatoriedade do uso da máscara em espaços fechados. O comitê científico da capital manteve apenas a recomendação do uso do equipamento de proteção para profissionais de saúde, pessoas imunossuprimidas, com comorbidades de alto risco, não vacinadas e com sintomas de síndrome gripal.
Cuidados básicos ajudam a prevenir a Covid-19
[cnn_galeria active=”false” id_galeria=”605863″ title_galeria=”Cuidados básicos ajudam a prevenir a Covid-19 e a gripe”/]