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    Entenda os perigos de ‘erva de emagrecimento’ que causou morte de mulher em SP

    Edmara Silva Abreu foi vítima de hepatite fulminante, causada pelo uso de 'chás naturais' de uma marca proibida desde 2020; especialistas ouvidos pela CNN alertam para os perigos

    Ingrid OliveiraAnna Gabriela Costada CNN

    Uma mulher morreu na quinta-feira (3) em São Paulo vítima da hepatite fulminante, causada pelo consumo de um composto de ervas para emagrecimento proibido desde 2020 e que continha na composição substâncias que podem gerar danos ao fígado.

    Edmara Silva Abreu estava internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital das Clínicas de SP desde 26 de janeiro. A paciente foi submetida a um transplante de fígado, mas não resistiu. A CNN entrou em contato com a família da vítima, mas não obteve resposta.

    O caso foi compartilhado em um vídeo nas redes sociais da médica assistente no departamento de gastroenterologia na Divisão de Transplantes de Órgãos do Aparelho Digestivo no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), Liliana Ducatti.

    Ela alertou para os riscos de uso de chá de emagrecimento, ou ‘remédios naturais’ como são rotulados.

    No vídeo, a médica disse que sempre que há esse tipo caso [de falência do fígado], as pessoas não têm nenhum problema de saúde, mas desenvolvem um caso dramático.

    “Sempre que recebemos esses pacientes, a gente investiga a causa. Na grande maioria das vezes, é medicamentosa”, disse no vídeo.

    Tudo que se ingere (alimentos, bebidas e remédios) passa pelo fígado. Ele metaboliza o que é útil, como proteína e glicose, e joga fora o que é inútil nessa filtragem.

    Ducatti explicou que, no caso de Edmara, não havia relato de que a paciente estava fazendo qualquer tipo de acompanhamento. Porém, a família informou que a vítima estava utilizando uma droga para emagrecimento chamada “50 ervas emagrecedor”, produzida pela empresa Pró-Ervas.

    “Quando olhamos o rótulo dessa medicação, nós identificamos diversas ervas que são hepatotóxicas”, disse a médica.

    Alexandre Sakano, gastroenterologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, compara o problema a um congestionamento. “Nesses chás de emagrecimento, algumas substâncias, como chá verde, chá de carqueja, atacam o fígado. Na tentativa de retirar essas substâncias, ele acaba retendo muito, tudo isso dentro dele, e para de funcionar”, explicou à CNN.

    O gastroenterologista diz que o fígado fica tão sobrecarregado que a certa altura não consegue mais filtrar e ele para de funcionar totalmente — isso é hepatite fulminante. “Nesses casos, temos de manter o funcionamento do fígado por meio de medicamentos e de forma artificial até que se consiga um transplante.”

    A equipe da CNN tentou contato via e-mail e telefone com a empresa Pró-Ervas, que não respondeu.

    O que diz a Anvisa

    Com o conhecimento do caso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um alerta, nesta sexta-feira (4), sobre os produtos com a marca 50 Ervas Emagrecedor – vendidos em algumas farmácias do Brasil com a promessa de emagrecimento. De acordo com a agência regulatória, os produtos estão proibidos no país desde 2020 por não estarem regularizados como medicamentos.

    Segundo a Anvisa, a comercialização de produtos com propriedades terapêuticas não autorizados pelo órgão é considerada atividade clandestina.

    “O produto 50 ERVAS EMAGRECEDOR não pode ser classificado como alimento, ou mesmo como suplemento alimentar, pois contém ingredientes que não são autorizados para o uso em alimentos. Entre estes componentes estão o chapéu de couro, cavalinha, douradinha, salsa parrilha, carobinha, sene, dente de leão, pau ferro, centelha asiática”, informou a agência.

    A Anvisa reitera que essas espécies vegetais têm autorização para uso somente em medicamentos, como fitoterápicos, e não em suplementos alimentares.

    “As ações de fiscalização determinadas se aplicam a quaisquer estabelecimentos físicos ou veículos de comunicação, inclusive eletrônicos, que comercializem ou divulguem os produtos”, acrescentou a agência.

    Em uma publicação nas redes sociais, Monique Abreu Saraiva, prima da vítima, cobra posicionamento das autoridades. “Quem vai pagar por isso? Esse medicamento vende como água na Internet em lojas de produtos naturais. Não deixem que mais nenhuma família sofra como a minha.”

    Alertas para uso de medicamentos para emagrecimento

    A busca pelo emagrecimento é uma constante rotina na vida de várias mulheres. Contudo, alguns produtos podem conter substâncias tóxicas que acarretam em males ao corpo.

    À CNN, Daiane Paulino, doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), disse que não é porque é “natural” é saudável.

    Segundo ela, é necessário considerar a dose recomendada, as indicações e contraindicações — feitas com acompanhamento de profissionais.  “Alguns chás de ervas com a intenção de emagrecer podem provocar distúrbios gastrointestinais, reduzir a absorção de nutrientes, promovendo deficiências nutricionais e até mesmo provocar hepatotoxicidade.”

    Sakano, disse o risco de usar essas ervas, além da hepatite, são as doenças crônicas que podem aparecer ao longo do tempo. “O uso desses chás pode causar problemas na mucosa intestinal, diarréia, gastrite, úlceras, hepatites crônicas, que causam dano no fígado permanente. Além de poder afetar o pâncreas, os rins e diversas patologias.”

    A nutricionista Maira Pinho Pompeu explica que “o emagrecimento é multifatorial envolvendo questões não apenas relacionadas à alimentação, mas também a estilo de vida como atividade física, saúde mental, qualidade do sono, manejo de estresse e outros.”

    Ambas destacam que nenhum nutriente ou substância isolada é capaz de promover o emagrecimento — não há chá milagroso.

    A Anvisa alerta que qualquer produto com propriedades terapêuticas, como, por exemplo, a promessa de emagrecimento, só pode ser comercializado no Brasil com autorização da Anvisa e o comércio só pode acontecer em farmácias ou drogarias, já que substâncias com propriedades terapêuticas são consideradas medicamentos.

    “Produtos sem registro na Agência não oferecem garantia de eficácia, segurança e qualidade exigida para produtos sob vigilância sanitária. Sem esses requisitos mínimos, os produtos irregulares representam um alto risco de dano e ameaça à saúde das pessoas”, disse o comunicado.

    As especialistas em saúde apontam que quando o peso for um problema, o processo de emagrecimento deve ser individualizado, e deve-se levar em consideração os hábitos alimentares e o estilo de vida “É fundamental que a perda de peso seja sempre orientada e acompanhada por um profissional médico ou nutricionista”, disse Paulino.

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