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    Entenda os efeitos da exposição à radiação para a saúde humana

    Alterações do material genético pelos efeitos da radiação podem levar ao desenvolvimento de doenças graves como o câncer

    Lucas Rochada CNN

    em São Paulo

    Bombardeios russos na região da usina nuclear de Zaporizhzhia, na cidade ucraniana de Enerhodar, colocaram o mundo em alerta na noite desta quinta-feira (3). A preocupação se concentrou na ameaça de um novo desastre nuclear diante de um incêndio que durou quatro horas em um prédio de treinamento do lado de fora do complexo do reator principal.

    Nesta sexta-feira (4), a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), informou que os reatores da usina não sofreram danos e que não houve vazamento de material radioativo após o ataque.

    A informação acalmou os ânimos de um mundo que ainda recorda dos danos permanentes causados pelo acidente de Chernobyl, a mais grave catástrofe nuclear da história, ocorrido em abril de 1986.

    Na edição desta sexta-feira do quadro Correspondente Médico, do Novo Dia, o neurocirurgião Fernando Gomes explicou como a radiação pode ser utilizada na medicina e como a exposição a altos níveis de radioatividade pode prejudicar o organismo humano.

    “A radiação consegue interferir no material genético da célula. Se eu tenho uma exposição muito grande à radiação, muito mais do que o organismo consegue tolerar, vou ter um impacto na saúde nitidamente”, afirma Gomes.

    As alterações do material genético humano pelos efeitos da radiação podem levar ao desenvolvimento de doenças graves como o câncer, além de impactos para as células reprodutivas que refletem nas gerações futuras. Para as gestantes, os riscos são ainda maiores como o aborto e prejuízos no desenvolvimento do bebê, com alterações que podem levar a malformações.

    Entre os impactos imediatos estão queda de cabelos, dificuldades no funcionamento do aparelho digestivo e na capacidade de respiração. “A médio e longo prazos a gente pode ter alterações mais sensíveis, como o advento de tipos de câncer, como o de pulmão e em células sanguíneas e assim sucessivamente”, explica.

    Caso no Brasil

    Em setembro de 1987, o manuseio indevido de um aparelho de radioterapia abandonado em Goiânia, onde funcionava o Instituto Goiano de Radioterapia, provocou um acidente que envolveu centenas de pessoas.

    O caso, que ficou conhecido como acidente com Césio-137, espalhou no meio ambiente vários fragmentos da substância, na forma de um pó azul brilhante. Por conter chumbo, a fonte foi vendida para um depósito de ferro-velho e repassada a outros dois depósitos. Fragmentos do material também foram distribuídos a parentes e amigos, provocando a contaminação de diversos locais.

    As pessoas que tiveram contato com o material radioativo direto na pele, por inalação, ingestão, ou absorção por penetração através de lesões da pele e irradiação apresentaram náuseas, vômitos, diarreia, tonturas e lesões do tipo queimadura na pele. Algumas buscaram assistência médica em hospitais locais. O material foi então identificado como radioativo pela Divisão de Vigilância Sanitária da Secretaria Estadual de Saúde.

    Segundo o governo de Goiás, foram monitoradas 112.800 pessoas, das quais 249 apresentaram significativa contaminação interna ou externa. Quatro pessoas morreram pelo contato com o material radioativo, devido a complicações da Síndrome Aguda da Radiação (SAR), sendo dois óbitos por hemorragia e outros dois por infecção generalizada.

    Como a radiação é utilizada na medicina

    Além de ser utilizada na produção de energia elétrica, como nas usinas nucleares, a radiação também é um instrumento importante para a medicina.

    Uma das formas mais tradicionais do uso da ferramenta em benefício da saúde é na realização de exames de raio-x. Os exames de imagem, também chamados de radiografia, utilizam doses baixas de radiação para revelar possíveis alterações na estrutura óssea e de órgãos, assim como quadros de inflamação e infecção.

    O neurocirurgião Fernando Gomes explica que os níveis da radiação utilizada na medicina são bastante inferiores aos de uma usina nuclear e contam com protocolos rígidos de segurança para os pacientes e profissionais envolvidos.