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    Entenda o que recomendam especialistas para casos de Covid longa em idosos

    Sintomas como fadiga, falta de ar, dores, palpitações e dificuldades de memória e concentração são comuns

    Judith Graham*

    Idosos que sobreviveram à Covid-19 têm mais propensão que pacientes mais jovens a ter sintomas persistentes como fadiga, falta de ar, dores musculares, palpitações, dores de cabeça, dor nas articulações e dificuldades de memória e concentração. Todos esses sintomas são relacionados à Covid longa.

    Porém, pode ser difícil distinguir os sintomas posteriores e persistentes da Covid-19 de outras condições comuns em idosos, como doenças pulmonares, doenças cardíacas e comprometimento cognitivo leve.

    Não há testes diagnósticos ou tratamentos recomendados para a Covid longa, e os mecanismos biológicos por trás de seus efeitos permanecem mal compreendidos.

    “Identificar a covid longa em idosos com outras condições médicas é complicado”, disse Nathan Erdmann, professor assistente de Doenças Infecciosas na Escola de Medicina Heersink da Universidade do Alabama, nos EUA.

    A não identificação pode significar que os mais idosos que sobreviveram à Covid podem não receber os cuidados adequados.

    O que os idosos devem fazer se não se sentirem bem semanas depois da infecção? Veja o que sugerem os especialistas:

    Procure atendimento médico

    “Se uma pessoa mais velha ou seu cuidador perceber que já faz um mês ou mais desde a Covid e que algo não está certo, como muita perda de peso ou extrema fraqueza ou esquecimento, vale a pena fazer uma avaliação”, comentou Liron Sinvani, diretora do serviço de Geriatria da Northwell Health, um grande sistema de saúde em Nova York.

    Mas, atenção: muitos médicos de atendimento primário, como os dos prontos-socorros, ainda não sabem como identificar e manejar a Covid longa. Se você não tiver muita ajuda de seu médico, procure um encaminhamento para uma clínica especializada em Covid longa, ou um especialista que atenda esses pacientes.

    Nos Estados Unidos, pelo menos 66 hospitais ou sistemas de saúde criaram clínicas interdisciplinares, de acordo com a Becker’s Hospital Review, uma publicação do setor.

    Além disso, mais de 80 centros médicos em mais de 30 estados estão inscrevendo pacientes em um estudo sobre a Covid longa, com duração de quatro anos e custo de US$ 1,15 bilhão (cerca de R$ 5,47 bilhões), financiado pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos e conhecido como Recover (pesquisa da Covid para melhoria da recuperação, na sigla em inglês). Os idosos que optarem por participar receberão atendimento médico contínuo.

    Busque cuidados abrangentes

    Na clínica de recuperação de Covid da Universidade do Sul da Califórnia, os médicos começam verificando que quaisquer condições médicas que os pacientes mais velhos apresentem, como, por exemplo, insuficiência cardíaca ou doença pulmonar obstrutiva crônica, estejam bem controladas.

    Além disso, eles checam novas doenças que podem ter surgido depois da Covid.

    Se as condições pré-existentes e novas forem adequadamente gerenciadas e novos testes forem negativos, “provavelmente existe um elemento da Covid longa”, comentou Caitlin McAuley, da clínica da Keck School of Medicine.

    Nesse ponto, o foco passa a ser ajudar os idosos a recuperar sua capacidade de realizar tarefas diárias, como tomar banho, se vestir, se movimentar pela casa ou fazer compras.

    Normalmente, a prescrição é de diversos meses de fisioterapia, terapia ocupacional ou reabilitação cognitiva.

    Erica Spatz, professora associada de Cardiologia da Escola de Medicina de Yale, procura evidências de danos nos órgãos, como alterações no músculo cardíaco, em pacientes mais velhos.

    Se isso for detectado, existem tratamentos bem estabelecidos que podem ser testados. “Quanto mais velha a pessoa, maior a probabilidade de encontrarmos lesões nos órgãos”, afirmou Spatz.

    No hospital de reabilitação Shirley Ryan Ability Lab, em Chicago, especialistas descobriram que um número significativo de pacientes com problemas respiratórios tem atrofia no diafragma, um músculo essencial para respirar, comentou o Colin Franz, médico-cientista.

    Uma vez que a inflamação está sob controle, os exercícios respiratórios ajudam os pacientes a recuperar o músculo.

    Para idosos preocupados com sua cognição posterior à Covid, McAuley recomenda realizar um exame neuropsicológico.

    “Muitos pacientes mais velhos que tiveram Covid sentem que agora têm demência. Contudo, quando fazem os exames, todo o funcionamento cognitivo de alto nível está intacto, e são coisas como atenção ou fluência cognitiva que são prejudicadas”, explicou. “É importante entender onde estão os déficits para que possamos direcionar o tratamento adequado”.

    Fique ativo gradualmente

    Os pacientes mais velhos tendem a perder força e condição física após a doença severa – um fenômeno conhecido como “descondicionamento” – e seu volume de sangue e os músculos do coração começam a encolher em algumas semanas se ficarem acamados ou fizerem pouca atividade, explicou a professora Spatz.

    O quadro pode causar tonturas ou um coração acelerado ao se levantar.

    Em linha com as recomendações recentes do American College of Cardiology, Spatz aconselha pacientes que desenvolveram tais sintomas após a Covid a beber mais líquidos, consumir mais sal e usar meias da compressão e cintas abdominais.

    “Já ouvi muita gente dizer que se sente péssima ao sair para caminhar”, contou. Ao retornar ao exercício, “comece com cinco a dez minutos em uma bicicleta reclinada ou num simulador de remo, e adicione alguns minutos a cada semana”, sugeriu.

    Após um mês, passe para uma posição semirreclinada numa bicicleta normal. Depois, após mais um mês, tente caminhar, uma curta distância no início e depois maiores distâncias ao longo do tempo.

    O conselho de “ir aos poucos” aplica-se também aos adultos mais velhos com preocupações cognitivas após a doença.

    Franz recomenda frequentemente restringir o tempo gasto em tarefas exigentes para cognição, junto com exercícios, para a saúde e a memória do cérebro. Pelo menos no início, “as pessoas precisam de menos atividade e de mais descanso cognitivo”, observou.

    Repense as expectativas

    Os adultos mais velhos em geral têm mais dificuldade depois de passar por uma doença séria, incluindo a Covid.

    Entretanto, mesmo os idosos que tiveram quadros leves ou moderados de infecção pelo coronavírus podem ter dificuldades semanas ou meses mais tarde.

    A mensagem mais importante que os pacientes mais velhos precisam ouvir é “dar-se tempo para se recuperar”, afirmou Greg Vanichkachorn, diretor do Programa de Reabilitação de Atividade de Covid da Clínica Mayo em Rochester, Minnesota.

    Geralmente, os adultos mais velhos parecem demorar mais para se recuperar da Covid longa do que os mais jovens ou de meia idade.

    É essencial aprender a definir prioridades e a não fazer nada com pressa. “Nessa população de pacientes, descobrimos que aqueles que rangem os dentes e tentar se forçar a tudo são os que se saem pior” – um fenômeno conhecido como “mal-estar pós-esforço” , explicou Vanichkachorn.

    Em vez disso, cada um precisa aprender a lidar com o seu ritmo.

    “Qualquer evento de saúde significativo força as pessoas a reexaminarem suas expectativas e suas prioridades, e a Covid longa tem realmente acelerado isso”, completou Jamie Wilcox, professor associado de terapia ocupacional clínica na Keck School of Medicine.

    “Todos os que passam por isso dizem que o envelhecimento se acelerou.”

    Considere suas vulnerabilidades

    Adultos mais velhos que tiveram Covid e que são pobres, frágeis, fisicamente ou cognitivamente incapacitados e socialmente isolados são de grande preocupação.

    O grupo tem sido mais propenso a sofrer efeitos graves da doença. Os que sobreviveram podem não ter acesso imediato aos serviços de saúde.

    “Nossa preocupação é com idosos marginalizados com acesso limitado aos cuidados de saúde e pior estado geral de saúde”, disse Erdmann, da UAB.

    “Quando chega uma nova patologia perigosa que não é bem compreendida, temos um quadro de maiores disparidades no cuidado.”

    “Muitos dos pacientes mais velhos com Covid longa que nós tratamos não são acostumados a pedir ajuda, e até acham vergonhoso fazer isso”, disse James Jackson, diretor de resultados a longo prazo no Centro de Doença Crítica, Disfunção Cerebral e de Sobrevivência do Vanderbilt Medical Center em Nashville.

    As implicações são significativas, não apenas para os pacientes, mas também para os profissionais de saúde, amigos e família.

    “É preciso checar como estão as pessoas mais velhas e vulneráveis e que tiveram Covid e não apenas fazer suposições de que elas estão bem apenas porque eles dizem que estão”, aconselhou Jackson.

    “Precisamos ser mais proativos ao envolvê-los para descobrir, de verdade, como estão”.

     

    *Judith Graham da Kaiser Health News. A KHN (Kaiser Health News) é um veículo dos EUA que produz jornalismo aprofundado sobre questões de saúde. Juntamente com a Policy Analysis e Polling, a KHN é um dos três principais programas operacionais da KFF (Kaiser Family Foundation). A KFF é uma organização sem fins lucrativos com subsídio que fornece informações sobre questões de saúde.

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