Entenda o que é a hepatite autoimune, que atinge principalmente mulheres jovens
Jogadora de futsal do Taboão Magnus Pietra Medeiros, de 20 anos, morreu na sexta-feira (19) em decorrência da doença
As hepatites, doenças que provocam a inflamação do fígado, são causadas por cinco tipos de vírus (nomeados das letras A à E).
A hepatite autoimune, por sua vez, é uma doença rara, relacionada a alterações no sistema imunológico, que causa inflamação crônica no fígado. Quando não tratada, pode evoluir para cirrose com mau funcionamento do órgão.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Hepatologia, a doença pode ocorrer em pessoas de todas as idades, mas atinge principalmente mulheres jovens por volta de 30 anos.
A jogadora de futsal Pietra Medeiros, de 20 anos, morreu na sexta-feira (19) em decorrência da doença. A atleta fazia parte do Taboão Magnus, de Taboão da Serra (SP).
Entenda as principais características da hepatite autoimune, incluindo sinais e sintomas, diagnóstico e tratamento da doença.
Quais são as causas?
Apesar do nome de hepatite, a doença não é contagiosa, ou seja, não é transmitida para outras pessoas.
O sistema imune do paciente reconhece células hepáticas chamada hepatócitos como agentes estranhos. O ataque das células provoca uma inflamação crônica, como o desenvolvimento de fibrose hepática, que são cicatrizes no fígado, e cirrose.
A Sociedade Brasileira de Hepatologia afirma que a doença está associada à predisposição genética. A manifestação pode surgir devido a exposição a vírus, bactérias, medicamentos e outros agentes do meio ambiente. No entanto, a ocorrência de hepatite autoimune em familiares de quem já teve a doença não é frequente.
A condição pode estar associada a outras doenças autoimunes, principalmente tireoidite e artrite reumatoide e também a outras doenças do fígado.
Quais são os sintomas?
Na maioria dos casos, os pacientes podem apresentar mal-estar, fraqueza e perda de energia. Alterações no exame físico e nos testes de sangue podem apontar quadros de doença crônica no fígado ou mesmo cirrose. Um sintoma comum em grande parte dos casos é a chamada icterícia, que são os olhos amarelados.
Segundo a Sociedade Brasileira de Hepatologia, em um terço dos casos, a doença se manifesta de forma aguda, parecida com uma hepatite viral: com icterícia, mal estar, dor abdominal, náuseas e vômitos. Já as formas assintomáticas, diagnosticadas em exames de check-up, são pouco frequentes.
A doença pode provocar a insuficiência hepática aguda grave, que consiste na parada súbita do funcionamento do fígado, com necessidade de transplante hepático de urgência.
Diagnóstico e tratamento
A ausência de exames específicos para o diagnóstico da hepatite autoimune pode dificultar a identificação precoce da doença.
O quadro clínico leva a um aumento das enzimas do fígado, principalmente AST e ALT, dos níveis de gamaglobulina e pela presença de autoanticorpos. Os índices podem ser dosados a partir de exames de sangue.
A médica hepatologista Débora Terrabuio, do Hospital de Clínicas de São Paulo, explica que as alterações também podem ser causadas por outras doenças e pode ser necessário reunir dados clínicos, laboratoriais e biópsia hepática para a conclusão do diagnóstico.
“O diagnóstico é difícil, a doença é rara e o hepatologista tem que montar um quebra-cabeça com os achados da história, exame físico, exames de sangue e biópsia hepática. Embora os autoanticorpos sejam muito frequentes, eles podem estar presentes em outras doenças, principalmente reumatológicas”, explica Débora.
O tratamento é realizado a partir de medicamentos capazes de suprimir a ação do sistema imune, chamados imunossupressores. Além de trazer melhorias dos sintomas, os fármacos atuam para reverter a inflamação no fígado.
As drogas mais comumente utilizadas são azatioprina e prednisona, que são fornecidas gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).