Entenda o que causa os espasmos musculares persistentes como os de Céline Dion
Especialistas consultados pela CNN explicam o que são os espasmos musculares, quais são as possíveis causas e como é feito o tratamento
A cantora Céline Dion anunciou um novo adiamento da turnê europeia, que faria entre os meses de maio e agosto deste ano, por problemas de saúde. A artista fez o anúncio em suas redes sociais nesta sexta-feira (29).
Céline sofre de espasmos musculares graves e persistentes, localizados nas pernas e nos pés. Especialistas consultados pela CNN explicam o que são os espasmos musculares, quais são as possíveis causas e como é feito o tratamento.
O que são espasmos musculares
O espasmo é uma contração involuntária do músculo ou de um conjunto de músculos, que pode acontecer em diversas situações e atingir pessoas de todas as idades.
Os espasmos são divididos em dois grupos, os tônicos, que são associados ao enrijecimento persistente e dolorido, e os clônicos, que alternam momentos de contração e relaxamento do músculo.
“Pode ser um músculo pequeno ou um conjunto de músculos. Quando estamos cansados e temos aquela contração da musculatura da pálpebra, por exemplo, é um tipo de espasmo. Nesse caso, de um grupo muscular pequeno, que acontece geralmente quando você está cansado, estressado, com privação de sono”, explica Christiane Cobas, neurologista do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo.
Quais são possíveis causas
Segundo Christiane, em geral, os espasmos não provocam quadros severos e persistentes como os de Céline Dion. As principais causas estão associadas a fatores emocionais, como o estresse e a ansiedade, atividade física excessiva e desidratação, privação de sono, deficiência de nutrientes, excesso no consumo de cafeína e uso de medicamentos.
“Quando a pessoa está muito cansada, estressada ou quando faz alguma atividade muscular extenuante, como uma maratona, por exemplo, é comum ter espasmos musculares que podem durar de segundos a minutos nos membros que podem levar à dor”, afirma.
“Alguns eletrólitos podem baixar no sangue, como o magnésio e o cálcio, que funcionam muito na contração muscular. Se houver alguma alteração nesses eletrólitos, isso pode levar a uma contração muscular”, completa.
De acordo com especialistas, os espasmos musculares persistentes também podem ser causados por doenças neurológicas mais graves, além de tumores e lesões na medula.
A neurologista do Sírio-Libanês explica que doenças neurodegenerativas, como a Esclerose Múltipla e a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), também podem desencadear espasmos musculares. No entanto, os pacientes diagnosticados com esses agravos também apresentam outros sintomas além dos espasmos musculares.
Lesões na medula em decorrência de um trauma ou doença, como a mielopatia, podem provocar espasmos musculares com quadros de dores nas pernas ou paralisia temporária dos músculos. A doença dos nervos, que atinge o neurônio motor inferior, também reflete em contrações musculares.
O neurocirurgião e neurocientista do Hospital das Clínicas de São Paulo, Fernando Gomes, apresentador do quadro Correspondente Médico, do jornal do Novo Dia, da CNN, explica que os espasmos também estão relacionados a uma doença chamada distonia.
A distonia pode ser causada por outras doenças, alterações genéticas e pelo uso de medicamentos. A doença é definida por contrações musculares involuntárias prolongadas e contínuas, que podem fazer com que partes do corpo se torçam, gerando dores e incômodo.
“Muitas vezes, não conseguimos identificar a origem da distonia. Questões hereditárias, genéticas, intoxicações por metais pesados, por exemplo, podem ser uma explicação possível para o quadro”, diz Fernando.
Como pode ser feito o diagnóstico
O diagnóstico dos espasmos musculares pode ser realizado a partir da avaliação clínica pelo neurologista, combinada com resultados de exames complementares, como a eletroneuromiografia, que permite avaliar o estado dos nervos e músculos dos braços e pernas, além de exames de imagem.
“O diagnóstico preciso leva em consideração exames de neuroimagem para detectar problemas estruturais, como a hérnia de disco, câncer ou uma malformação”, explica Fernando.
Tratamento depende da origem dos espasmos
O tratamento dos espasmos musculares deve considerar a origem do problema. Quando a condição não está associada a doenças mais graves, ela pode ser revertida a partir de um processo de reabilitação, que envolve medicamentos e fisioterapia.
“Uma abordagem de tratamento multiprofissional, envolvendo medicina física – principalmente a fisioterapia, a utilização de medicamentos para o relaxamento muscular, remédios que vão ajudar a reduzir as crises de espasmo. Em algumas situações, a aplicação de botox e a utilização de eletrodos para produzir relaxamento do funcionamento do sistema nervoso central e dos espasmos”, afirma Fernando.
O fisioterapeuta Cadu Ramos explica que as funções motoras podem ser restabelecidas gradualmente com a realização da reconstrução da fibra muscular.
“Quando o músculo recebe o espasmo, ele retrai toda a fibra, causa uma rigidez, perdendo a condição de força e diminuindo a nutrição e oxigenação da fibra muscular. A fisioterapia vai restabelecer a condição do músculo e do movimento a partir de alongamentos e exercícios”, afirma.
Segundo o especialista, a duração da reabilitação pode variar de uma pessoa para outra, dependendo do agravamento dos espasmos musculares.