Empresas foram para a China, diz farmacêutico sobre queda na produção de insumos
Pandemia de Covid-19 evidencia necessidade de mais investimento na indústria nacional de insumos farmacêuticos
A pandemia de Covid-19 pode servir de ajuda para a indústria farmacêutica brasileira. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), o Brasil produz apenas 5% dos insumos utilizados na fabricação de medicamentos.
A necessidade de mais autonomia na produção de vacinas contra a Covid-19, fez a Anvisa autorizar a Fiocruz a produzir o próprio Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA). As farmacêuticas devem seguir o mesmo caminho, a fim de buscar mais independência na fabricação de remédios.
O presidente da Abiquifi, Norberto Prestes, destaca dois pontos importantes que levaram ao encolhimento da indústria brasileira. Ele explica que a abertura de mercado durante o governo do de Fernando Collor de Melo (1990 -1992) enfraqueceu a indústria nacional.
“Não houve uma programação para todos os setores, inclusive de insumos farmacêuticos. A vinda de insumos do exterior para o Brasil causou uma quebra no mercado, porque vieram produtos mais baratos, tinham portfólios maiores. Nós não tivemos tempo para nos readequar.”
Outro fator foi a absorção de indústrias do setor pela China. “No mesmo período, a China criou um programa para atrair estas empresas. O programa continha incentivos fiscais, mão de obra barata, tecnologia, um regulatório para meio-ambiente mais fraco, entre outros fatores. E isso fez com que as grandes empresas que estavam aqui fossem para a China ou voltassem para a sua sede. E aí perdemos o timing do processo. De 55, caímos para 5%”, diz Norberto.
O farmacêutico acredita que a pandemia criou essa necessidade de mais independência e que junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) a associação vem definindo um grupo de insumos que o Brasil deve priorizar para reativar a produção interna.
“Nenhum país do mundo será independente na produção de insumos farmacêuticos. Mas temos que minimamente produzir e ter tecnologia para reagir em uma situação pandêmica. Temos que retomar para o patamar de 20, 30, 40%, e os demais insumos continuaremos importando”, defende.