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    Dupla infecção por variantes tem relação com sistema imune deficiente

    Caso de idosa que foi contaminada por duas cepas diferentes e morreu é considerado raro e tem relação com baixa imunidade e falta de vacina, dizem especialistas

    Variantes do coronavírus
    Variantes do coronavírus Foto: Reprodução/CNN Brasil (12.jul.2021_

    Camila Neumam, da CNN, em São Paulo

    O caso da idosa belga que morreu após contrair duas cepas diferentes do novo coronavírus cria um alerta sobre essa possibilidade, sobretudo pelo fato de novas variantes do novo coronavírus ainda surgirem em diferentes lugares do mundo. 

    A mulher de 90 anos, que não foi vacinada, contraiu as variantes Alfa (B.1.1.7) e Beta (B.1.351), identificadas pela primeira vez no Reino Unido e na África do Sul, praticamente ao mesmo tempo, segundo o Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas (ECCMID). 

    Segundo os especialistas consultados pela CNN, casos como esse, chamados de superinfecção, são considerados muito raros e tendem a acometer pessoas em situações muito específicas, sobretudo as que têm sistema imune deficiente, seja pela idade, seja por comorbidades, ou ainda quem não foi vacinado ou tem outras questões de saúde, como os transplantados.

    “Este é um evento grave e muito raro, porque envolve uma infecção maciça e está ligado à imunossupressão; é um relato de caso que coloca luz para vigiar pessoas imunossuprimidas, não significa que pode ocorrer com a população em geral”, afirma Alexandre Naime, infectologista da Unesp.

    Entenda como a superinfecção acontece e como prevenir algo semelhante:

    1. Quem pode contrair duas cepas do coronavírus ao mesmo tempo?

    O evento é considerado muito raro, embora possa ser subnotificado, pois depende de análises genéticas que não são realizadas em todas as pessoas que contraem o coronavírus por questões de custo e infraestrutura. 

    Imunossuprimidos e não vacinados correm mais risco de ter a superinfecção, porque o organismo de indivíduos nestas condições tem menos condições de combater os dois vírus do que o de pessoas sem problemas de imunidade. 

    Para descobrir se uma pessoa foi infectada por duas variantes é necessário realizar um estudo do genoma do vírus, análise feita geralmente em um pequeno percentual da população que testa positivo para Covid-19, a título de vigilância epidemiológica. 

    Estudos genômicos costumam ser realizados por laboratórios estaduais e federais para investigar quais variantes estão em circulação em cidades e países. Não há como fazer estes testes em toda a população, pois são muito caros e dependeria de uma estrutura gigantesca, explicam os especialistas.

    2. Como é possível contrair duas cepas do coronavírus de uma vez?

    Conviver em ambientes onde há variantes circulando aumenta a chance de infecção por cepas diferentes, embora o esperado seja que ocorra a infecção pela mais transmissível delas. 

    Por exemplo: as variantes de preocupação [Alfa (B.1.1.7), Beta (B.1.351), Gama (P.1) e Delta (B.1.617.2)] são mais transmissíveis dos que as variantes de interesse (Epsilon (B.1.427/B.1.429), Zeta (P.2), Eta (B.1.525), Theta (P.3), Iota (B.1.526), Kappa (B.1.627.1), e tendem a ser predominantes. No entanto, o risco de contrair a superinfecção é maior em quem tem o sistema imune comprometido. 

    3. Quem não tomou a vacina contra a Covid-19 corre mais risco de ter dupla infecção?

    Sim. Embora nenhuma das vacinas disponíveis blindem totalmente o organismo contra a Covid-19, há estudos que comprovam que elas protegem contra diversas variantes, inclusive a Alfa e Beta, que infectaram e mataram a belga. 

    “Se a idosa tivesse tomado uma das vacinas disponíveis em seu país (Pfizer ou AstraZeneca), elas seriam suficientes para deter as duas variantes. Provavelmente a mulher pegaria Covid, mas não o caso grave que levou ao óbito”, afirma Julival Ribeiro, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia. 

    4. Quem pega duas cepas diferentes do coronavírus tem mais chance de evoluir mal ou morrer?

    “Não sabemos se a coinfecção por uma ou mais cepas tem impacto na mortalidade. Também não sabemos se quem pegou uma variante não teria tido também uma infecção pela cepa selvagem, que não sofreu mutação. Isso é muito incerto ainda”, afirma Rodrigo Molina, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia.

    5. O que pode ser feito para evitar a superinfecção?

    Estudos recentes mostram que várias das vacinas contra Covid-19 disponíveis conseguem ser eficazes contra uma série de variantes, especialmente evitando hospitalizações e mortes. Isso quer dizer que uma pessoa vacinada pode até contrair Covid-19, mas com chance muito menor de ter a forma grave da doença ou morrer por causa dela.

    “A importância da vacinação nestes casos é que ela impede a circulação viral, e isso diminui também a chance de surgirem novas variantes”, explica Rodrigo Molina, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia.

    Outra forma de evitar a exposição às cepas é manter as medidas de contenção do coronavírus, como o distanciamento social, o uso de máscaras e higienização constante das mãos com álcool gel ou água e sabão antes de tocar rosto, boca, nariz e olhos, orientam os especialistas. 

    Fontes: Alexandre Naime, infectologista pela Unesp; Rodrigo Molina e Julival Ribeiro, membros da Sociedade Brasileira de Infectologia