Dificuldade na vacinação deve durar mais 90 dias, diz à CNN presidente do Conass
Segundo Carlos Lula, secretário de Saúde do Maranhão, situação só deve melhorar a partir de julho
Um dia após o Brasil chegar à marca de 400 mil óbitos por Covid-19, o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, afirmou à CNN que a previsão para os próximos 90 dias é de que o país continue enfrentando “muita dificuldade” em seu processo de vacinação contra a doença.
Nos últimos dias, se multiplicaram pelo país relatos de cidades que foram obrigadas a interromper a vacinação, o que tem levado até ao descumprimento dos prazos estabelecidos para que os grupos prioritários recebam as segundas doses dos imunizantes. Este cenário, disse Carlos Lula, deve se arrastar pelos próximos três meses.
“A gente tem um estoque limitado de vacinas. Obviamente que a gente celebra a chegada das doses da Pfizer, e devem chegar mais doses da Fiocruz, mas ainda é muito tímido o processo de vacinação no país”, afirmou. “Vão ser cada vez mais comuns cenas como essa de faltar dose e nós termos de paralisar o processo de vacinação”, projetou.
Segundo o secretário, o Conass está em contato com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para saber o que fazer no caso de pessoas que receberam a primeira dose e que não vão conseguir tomar a segunda dose no prazo correto, mas ainda não há uma diretriz. Assim, o Conass vem tentando manejar o estoque para minimizar o problema.
Segundo Carlos Lula, o principal problema está relacionado à Coronavac, fabricada em São Paulo pelo Instituto Butantan, que enfrenta atrasos na obtenção de insumos importados para produzir o imunizante. Lula estima que hoje estejam faltando entre 400 mil e 500 mil doses da vacina.
Na quinta-feira (29), o Brasil recebeu um lote com um milhão de doses de vacinas da Pfizer. “Infelizmente, a gente errou lá no início, a gente poderia estar falando de 70 milhões de doses da Pfizer ainda no primeiro semestre [deste ano], e infelizmente estamos celebrando a chegada de um milhão de doses”, pontuou Lula.
O secretário de Saúde do Maranhão acredita que a vacinação no Brasil deve ganhar velocidade a partir de julho, quando o processo de imunização dos Estados Unidos estiver praticamente completado, o que deve levar à sobra de vacinas para outros países.

Conflito político levou a mais mortes
O presidente do Conass disse à CNN que parte das mais de 400 mil mortes por Covid-19 já registradas no Brasil poderia ter sido evitada se houvesse maior coordenação entre governo federal, estados e municípios. Carlos Lula afirmou que há no país um “conflito interfederativo” motivado politicamente, o que levou à perda de credibilidade do Ministério da Saúde.
“Não dá para a União tentar coordenar [os esforços de combate à pandemia] e passar comunicações diveras, não dá para o Ministério da Saúde dizer que é para usar máscara e o presidente da República sair no meio da aglomeração sem máscara”, argumentou.
Efeito dessa descoordenação, exemplificou o secretário, é o fato de o Plano Nacional de Imunização (PNI) não estar sendo respeitado em alguns estados, o que tem levado à imunização de grupos que não estão incluídos entre os prioritários.
“O resultado é hoje, esses 400 mil óbitos, em muitos casos, eram óbitos evitáveis. A gente tinha condição de dar uma melhor resposta á pandemia, infelizmente não conseguimos”, lamentou.
Carlos Lula projetou que até o mês de julho o Brasil ultrapasse a marca de 500 mil mortes em decorrência da Covid-19. Segundo ele, embora haja uma desaceleração na taxa de novos casos da doença, o Brasil ainda está em um patamar de disseminação da Covid-19 “muito alto, mais do que o dobro da primeira onda”.
“Falar de meio milhão de mortos em razão de uma só doença no país é, de fato, uma tragédia”, concluiu o secretário.
400 mil óbitos por Covid-19
Nesta quinta-feira (29), o Brasil registrou mais 3.001 óbitos por Covid-19 e passou da marca de 400 mil vítimas fatais da pandemia. No total, são 400.006 mortes, o que faz do Brasil o segundo do mundo em mortes, considerando os números totais. Os Estados Unidos lideram este ranking, com mais de 575 mil mortes até esta sexta-feira (30), conforme compilação feita pela Universidade Johns Hopkins.
Em todo o mundo, ainda segundo a Universidade Johns Hopkins, já são 3.170.879 mortes desde o início da pandemia.
A marca de 400 mil mortes por Covid-19 foi alcançada só 36 dias depois que o Brasil passou de 300 mil óbitos. No domingo (25), o país chegou a 195.848 mortes desde o primeiro dia de 2021, superando o total de mortes em decorrência da doença em todo o ano de 2020, quando morreram 194.949 pessoas.
Cálculos de cientistas feitos a pedido da CNN mostraram que a chance de um brasileiro conhecer alguém que morreu de Covid-19 é de 67,97%. Considerando somente os brasileiros adultos, ou seja, com mais de 18 anos, a possibilidade passa para 77%.
Até quinta-feira, o Brasil já havia registrado 14.547.746 casos da doença causada pelo novo coronavírus.