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    Debate sobre 3ª dose contra Covid não se restringe a Coronavac, dizem cientistas

    Morte do ator Tarcísio Meira gerou discussão sobre a necessidade de revacinar os idosos e pessoas com comorbidades

    Leandro Resende e Stéfano Salles

     

    A morte do ator Tarcísio Meira nesta quinta-feira (12) em consequência da Covid-19 fez aumentar nas redes sociais o debate sobre a necessidade de revacinar idosos que já tomaram as duas doses de vacinas contra a Covid-19.

    Cientistas, pesquisadores e estudos consultados pela CNN afirmam que o assunto está sendo estudado e debatido no mundo todo e que não se restringe apenas à Coronavac, imunizante produzido pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac e o primeiro a ser aplicado no Brasil. É importante destacar que todas as vacinas são eficazes e fundamentais para evitar mortes e hospitalizações no Brasil. Alemanha, Israel, Chile, Reino Unido e Estados Unidos, países que usam vacinas como a da Astrazeneca, Pfizer e Moderna, estão discutindo a necessidade de aplicar mais uma dose do imunizante em idosos acima de 70 anos e pessoas que possuem a imunidade comprometida em virtude de alguma doença ou que fazem tratamento contra câncer, fizeram transplante, entre outros pontos.

     

    “Independentemente da Coronavac, o mundo inteiro está pensando em terceira dose. Alguns indivíduos têm resposta imune pior, há um grupo de pessoas que são os primeiros a perder a proteção que desenvolveram”, afirma Renato Kfouri, infectologista da Sociedade Brasileira de Imunizações.

    Ele ressalta que ainda não existem estudos suficientes para medir o tempo que duram os anticorpos produzidos pelas vacinas. O único publicado, em formato preliminar, foi feito por pesquisadores israelenses que apontam para uma redução da produção dos anticorpos produzidos pela vacina da Pfizer.

    Outro estudo, também preliminar, conduzido pela Fiocruz, UnB, Universidade de Stanford, dentre outras instituições, aponta para efetividade média de 42% da Coronavac contra a Covid-19 para adultos acima de 70 anos. O resultado não é ruim, avaliam os especialistas, porque os idosos constituem o grupo que responde pior à vacinação – mesmo a da gripe, aplicada todo ano no Brasil. “A morte do Tarcísio Meira é uma tragédia e um alerta. Pessoas com comorbidades, idosos, mesmo com o ciclo vacinal completo não devem deixar de lado outras medidas de prevenção contra a covid-19”, afirma Ethel Maciel, epidemiologista da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

    Está prevista para  os próximos dias semana uma manifestação do Food and Drug Administration (FDA), agência de Saúde dos Estados Unidos equivalente à Anvisa, sobre a necessidade ou não de aplicar uma terceira dose no grupo de pessoas que possuem imunidade comprometida.  Para Ethel Maciel,  este é um debate internacional, sério, e que o Programa Nacional de Imunizações do Brasil precisará fazer. ” Seria melhor discutir num cenário em que a maior parte do país já tivesse tomado pelo menos a primeira dose. Mas fica claro que o ritmo lento da vacinação contribuiu para que o vírus continue circulando com força”, avaliou. 

    Nesta semana a Sinovac divulgou dados que apontam para aumento “significativo” de anticorpos neutralizantes no caso de uma terceira dose da Coronavac em adultos e idosos. Os dados, reconhecem os cientistas, ainda são escassos. Mas o momento de trazer o debate ao público é urgente, avalia Júlio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso. 

    “É muito difícil traçar um cenário neste momento, devido à falta de dados científicos que possam corroborá-los, já que hoje só temos as pesquisas sobre queda de anticorpos neutralizantes e apenas uma sobre durabilidade da proteção oferecida pela vacina da Pfizer, ainda em andamento. Mas eu creio que, antes de iniciar a vacinação dos adolescentes, seria necessário revacinar os idosos extremos, acima de 70 anos”, concluiu o infectologista. 

    Em debate e com poucos dados, o tema não é consensual entre os pesquisadores. O virologista Maurício Lacerda Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto-SP (Famerp), tem acompanhado os testes feitos com as vacinas. Ele não vê nenhum problema na queda de anticorpos após seis meses de aplicação da Coronavac e entende que esse é um comportamento esperado.

    “A diminuição de anticorpos não significa falta de proteção. A vacina não serve apenas para produzir anticorpos, para produzir memória celular, que vai responder quando estimulada. Pode até ser necessária uma terceira dose, mas isto ainda não está provado. Quem vai mostrar proteção são os dados epidemiológicos. Não há evidências disto. Enquanto isto, devemos vacinar a maior quantidade possível de pessoas”, afirma Lacerda Nogueira.

    Caixa com doses da Coronavac, vacina contra Covid-19
    Caixa com doses da Coronavac, vacina contra Covid-19
    Foto: Amanda Perobelli – 22.jan.2021/Reuters

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