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    Covid longa pode ser debilitante, mesmo para crianças saudáveis

    Sintomas prolongados da infecção podem incluir fadiga, erupção cutânea, dor de estômago, dor de cabeça, dor muscular, perda de olfato e paladar, problemas de circulação, dificuldade de concentração e dor

    Jen Christensenda CNN

    Jessica Rosario adorava ver sua filha de 15 anos, Eliana, tocar flauta com o resto da banda marcial durante os jogos de futebol da Open Door Christian School. Mas depois do jogo de boas-vindas em 2021, ela recebeu uma ligação alarmante do diretor da banda da escola de Ohio, nos Estados Unidos.

    A filha de Rosario estava no chão da sala da banda, com dores no peito.

    “Corremos para a escola, entramos na sala da banda e a encontrei deitada no chão com as pernas elevadas em uma cadeira, e estou olhando para ela, e ela não está se movendo de fato”, disse Rosario.

    A caloura não conseguia falar ou ficar de pé. Quando os paramédicos a transportaram para a ambulância, ela era um peso morto, diz sua mãe.

    A condição de Eliana acabou por ser uma forma extrema de Covid longa. Ela é uma das potencialmente milhões de crianças norte-americanas que apresentam sintomas muito tempo depois da infecção inicial.

    Crianças – mesmo adolescentes saudáveis ​​e muito jovens – podem ter sintomas de Covid-19 por muito tempo, revelaram vários estudos, e podem seguir de uma infecção grave ou leve.

    Aprendendo sobre a Covid longa

    Quando Eliana desmaiou, os paramédicos a levaram às pressas para o University Hospitals Elyria Medical Center.

    “Tínhamos uma sala cheia de médicos. Eles estavam prontos para agir, o que eu acredito totalmente que Deus estava no controle de tudo neste momento”, disse Rosario.

    Os exames de sangue de Eliana, paneis toxicológicas, radiografia de tórax e tomografia computadorizada pareciam OK, mas ela ainda tinha essa estranha paralisia. O hospital a transferiu para UH Rainbow Babies & Children’s e esperava que os especialistas pudessem resolver o mistério.

    “Eu estava orando todo esse tempo para que Deus fizesse um milagre e guiasse esses médicos e enfermeiras para iluminar o que quer que estivesse causando isso”, disse Rosario.

    Eliana e o resto da família contraíram o coronavírus no Natal de 2020. O caso de Eliana era leve, diz sua mãe, mas semanas depois de se recuperar, ela desenvolveu dor no peito, palpitações cardíacas e tontura. Os testes não mostraram nenhum problema, e um cardiologista pediátrico avaliou que estava tudo certo.

    A paralisia temporária veio depois. Foi embora e voltou. A equipe médica acabou determinando que a dor no peito de Eliana e sua frequência cardíaca elevada podem estar relacionadas à inflamação devido à Covid-19 – 10 meses antes da ida ao hospital.

    Os médicos a diagnosticaram oficialmente com síndrome de taquicardia ortostática postural relacionada à Covid (ou POTS em inglês), um distúrbio da circulação sanguínea que causa uma frequência cardíaca elevada quando em pé.

    Eliana teve Covid longa, também chamada de pós-Covid ou Covid de longa duração. “Eu nunca tinha ouvido falar dessa longa duração até estarmos no hospital”, disse Rosario.

    Mais de um quarto das crianças que contraem Covid-19 podem desenvolver sintomas a longo prazo, de acordo com um estudo de junho. Um estudo de 2021 sugeriu que pode ser ainda mais; mais da metade das crianças entre 6 e 16 anos nesse estudo tiveram pelo menos um sintoma de Covid-19 que durou mais de quatro meses.

    Não há teste ou tratamento específico para Covid longa para crianças ou adultos.

    Os sintomas podem incluir fadiga, erupção cutânea, dor de estômago, dor de cabeça, dor muscular, perda de olfato e paladar, problemas de circulação, dificuldade de concentração e dor, de acordo com a Academia Americana de Pediatria.

    A grande maioria das crianças se recupera – às vezes até mais rápido do que os adultos, de acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Mas, em alguns casos, as crianças podem apresentar sintomas por meses ou mais.

    Ainda não está claro por que algumas crianças desenvolvem Covid longa e outras não, mas os especialistas sabem que crianças e adolescentes não precisam estar gravemente doentes com Covid-19 para apresentar sintomas de longo prazo. Várias instituições, incluindo os Institutos Nacionais de Saúde, têm estudos em andamento para saber mais.

    Essas crianças ‘não são loucas’

    Amy Edwards, diretora médica associada de controle de infecção pediátrica do UH Rainbow Babies & Children’s, administra a clínica de Covid longa do hospital e diz que tem uma agenda cheia desde que começou a atender crianças com a doença no início de 2021.

    “Acabamos de começar a atender os pacientes e isso se espalhou lentamente como fogo”, disse Amy. “Observando nossos primeiros 60 pacientes que vieram à nossa clínica, descobrimos que cerca de 13% dos nossos pacientes apresentavam esses déficits neurológicos funcionais”.

    Estas são condições nas quais parece que o sistema nervoso não está funcionando da maneira que deveria, mas os médicos não conseguem descobrir o porquê.

    “No caso de nossos filhos, quase sempre se apresenta com perda da função dos membros, incapacidade de andar ou mover um braço, algo assim”, disse Amy. “Quando você está falando sobre 60 crianças, 13% é um número grande, especialmente quando você está falando sobre a perda da função do membro que deve ser recuperada com fisioterapia. Não é uma complicação rara de 1%”.

    Não ajuda que nem todos acreditem que essas crianças estão doentes. A família Rosario e seus pediatras entenderam, mas Amy diz que mais de um adulto perguntou a ela como ela sabia que as crianças não estavam apenas inventando seus sintomas para chamar a atenção ou sair da escola.

    Uma das maiores coisas que faço com essas crianças é fornecer um diagnóstico e tranquilizar as famílias de que elas não são loucas, porque muitas dessas crianças foram de médico em médico, que lhes diz que estão fingindo ou atribuem isso à ansiedade ou qualquer outra coisa. Quero ajudá-los a saber que não estão sozinhos. Não posso curá-los, mas podemos ajudar

    Amy Edwards, diretora médica

    A história de Ayden

    Lynda Varno é grata por essa ajuda e reconhecimento.

    Seu filho de 12 anos, Ayden, teve Covid-19 em novembro de 2020. Ele se recuperou e parecia bem. Quatro meses depois, ele usou um cortador de grama em sua casa na zona rural de Ohio e, na hora de dormir, mencionou a seus pais que suas costas doíam. Quando acordou no dia seguinte, não conseguia se mexer.

    “Ele estava com muita dor, da cabeça aos pés”, disse Lynda.

    O pronto-socorro local e, mais tarde, seu pediatra atribuíram isso às dores do crescimento. Mas o menino que pulava na cama elástica todos os dias, que adorava correr e jogar futebol, mal conseguia andar ou se mexer.

    “Aquele nível de dor ainda estava lá. Nada estava ajudando”, disse Lynda.

    **uso restrito**
    Depois que Ayden Varno teve Covid, ele teve problemas para se levantar sem ficar tonto / Acervo pessoal

    Ela passou meses levando-o a vários hospitais, mas nenhum conseguia encontrar uma maneira de aliviar sua dor. O problema ficou tão ruim que desencadeou convulsões não epilépticas – até 100 por dia em um ponto, disse a mãe.

    Foi só no ano seguinte, quando Lynda viu Amy Edwards falar no noticiário sobre o início de uma unidade pediátrica de Covid longa, que ela pensou que as coisas poderiam melhorar.

    “Só me lembro de estar sentada lá chorando porque Ayden vivenciou cada coisa que ela falou”, disse Lynda. “Isso me deu arrepios. Eu apenas sentei lá chorando e dizendo: ‘Deus, muito obrigado. Isso é o que precisávamos'”.

    Lynda marcou uma consulta e disse que “desde então tem sido uma bênção”.

    Além do complexo pediátrico de Covid longa, Ayden havia sido diagnosticado com intolerância ortostática, incapacidade de permanecer na posição vertical sem sintomas como tontura e disautonomia, uma disfunção dos nervos que regulam funções involuntárias do corpo, como frequência cardíaca e pressão arterial.

    A clínica de Amy usa uma abordagem integrada para tratamento de Covid longa. O regime de Ayden incluiu fisioterapia, acupuntura, respiração profunda e terapia cognitivo-comportamental, bem como mudanças na dieta.

    As crianças na clínica são frequentemente instadas a reduzir o açúcar em sua dieta e adicionar alimentos integrais mais saudáveis. O plano alimentar limita os produtos de origem animal e enfatiza alimentos minimamente processados, vegetais, frutas, grãos integrais, feijões, sementes e nozes. Embora sejam necessárias mais pesquisas em crianças e adultos, alguns estudos iniciais sugerem que uma dieta baseada em vegetais geralmente pode beneficiar adultos com Covid longa.

    Em janeiro de 2022, Ayden começou o tratamento com Sara Pesut, fisioterapeuta em Hospitais Universitários. Ela normalmente trabalha com adultos com distúrbios neurológicos funcionais, mas Ayden e alguns dos outros na clínica pediátrica de Covid tinham mais ou menos a mesma idade de seus próprios filhos.

    “Foi mais ou menos, ‘como posso não me debruçar sobre esse problema e tentar ajudar se eu souber de algo que possa ajudar essas famílias?'”, disse Sara.

    Ele veio à sua primeira consulta em uma cadeira de rodas, ela disse, mas depois de cerca de três semanas trabalhando em equilíbrio, exercícios de posição corporal e outras atividades, ele não precisava mais.

    Após meses de fisioterapia, Ayden Varno está de volta à rotina / Acervo pessoal

    “Isso meio que evoluiu a partir daí”, disse Sara. “Ele realmente fez um trabalho maravilhoso”.

    Ayden foi para a fisioterapia por 9 meses e também teve algumas visitas virtuais para check-ins, além de fazer exercícios em casa e seguir suas orientações de terapia em casa, disse Sara.

    Ayden passou de um ponto em que não conseguia se alimentar, tomar banho ou caminhar para correr e praticar esportes.

    “Tem sido noite e dia desde onde Ayden esteve nesta época do ano passado até agora. É um total de 180”, disse sua mãe.

    A melhor proteção: evite o vírus

    A clínica de Edwards não é a única a receber crianças com esses sintomas extremos.

    No Johns Hopkins Children’s Center, a médica de reabilitação pediátrica Amanda Morrow disse que o principal sintoma é a fadiga severa, mas ela também atendeu pacientes como os de Amy, que têm condições mais complicadas.

    Com o tratamento, ela acredita, a Covid longa não significará uma vida inteira de problemas para nenhuma criança.

    “Esperamos que quanto mais pudermos apoiar essas crianças no início e fornecer recomendações e outras coisas, esperamos que isso ajude sua recuperação ou talvez não os leve a seguir esse caminho onde as coisas são realmente difíceis por muito tempo”, disse Amanda, que também é professora assistente de medicina física e reabilitação na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins.

    Amanda e Amy lembram aos pais que a melhor maneira de proteger as crianças da Covid longa é, em primeiro lugar, evitar que peguem o vírus. As vacinas são importantes, assim como medidas de prevenção como usar máscara quando os casos estiverem altos e lavar bem as mãos.

    Fisioterapia ajudou Eliana Rosario a se recuperar / Matt Sugerik/University Hospitals

    Voltar à rotina

    Eliana passou oito dias no hospital e depois recebeu tratamento como paciente ambulatorial na clínica pediátrica de Covid longa de Amy.

    “Nós trabalhamos com eles como se tivessem sofrido um derrame, e eles se recuperam muito, muito bem, na verdade”, disse Amy.

    Quando Eliana entrou na clínica, disse o fisioterapeuta Art Lukovich, ela teve que voltar ao básico e descobrir o que a ajudaria melhor.

    “Você não vê coisas assim”, disse ele.

    Ele a fez voltar aos fundamentos do movimento e controle motor, e ele descobriu o quanto poderia pressionar. “O que definitivamente me deu algumas noites sem dormir e cabelos grisalhos, mas definitivamente valeu a pena no final”.

    “Tive um senso de humildade, já que esta é uma jovem que basicamente teve sua vida interrompida por causa disso”, acrescentou.

    Em oito meses de fisioterapia, Eliana passou de uma cadeira de rodas para um andador e para uma bengala, diz sua mãe.

    “Quando a vi correr pela primeira vez na clínica, definitivamente tive aquele momento em que pensei ‘Oh, meu Deus’. Acho que a mãe dela e eu olhamos um para o outro e pensamos: ‘uau!’ Não achávamos que poderíamos chegar lá”, disse Lukovich.

    Hoje, Eliana voltou às aulas e voltou a se sentir bem. Ela terminou seu primeiro ano com notas máximas.

    Sua mãe está orgulhosa da maneira como ela lidou com a Covid prolongada.

    “Nem uma vez ela chorou. Nem uma vez ela entrou em pânico. Ela me deu força todos os dias”, disse Rosario. “Ela percorreu um longo caminho e, com as pessoas certas no lugar certo, ela agora está correndo, pulando e andando em montanhas-russas”.

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