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    Covid-19 aumenta risco de infarto e AVC por até 3 anos após infecção, diz estudo

    Pesquisa ponta que pessoas com sangue O tem risco menor de apresentarem complicações do que quem tem sangue A, B ou AB

    Brenda Goodmanda CNN

    A Covid-19 pode ser um fator de risco poderoso para ataques cardíacos e derrames por até três anos após uma infecção, conforme sugere um novo estudo.

    O estudo foi publicado nesta quarta-feira (9) na revista médica Atherosclerosis, Thrombosis, and Vascular Biology. Ele se baseou em registros médicos de cerca de um quarto de milhão de pessoas inscritas em um banco de dados chamado UK Biobank.

    Dentro desse conjunto de dados, os pesquisadores identificaram mais de 11.000 pessoas que tiveram um teste laboratorial positivo para Covid-19 registrado em seus prontuários médicos em 2020; quase 3.000 delas haviam sido hospitalizadas por causa da infecção. Eles compararam esses grupos com mais de 222.000 outros no mesmo banco de dados que não tinham histórico de Covid-19 no mesmo período.

    Pessoas que contraíram Covid em 2020, antes de haver vacinas para atenuar a infecção, tinham o dobro do risco de um evento cardíaco grave, como um ataque cardíaco, derrame ou morte, por quase três anos após a doença, em comparação com as pessoas que não testaram positivo, segundo o estudo.

    Se uma pessoa foi hospitalizada pela infecção, indicando um caso mais grave, o risco de um grande evento cardíaco foi ainda maior — mais de três vezes superior — do que para pessoas sem Covid nos seus registros médicos.

    Além disso, para as pessoas que precisaram ser hospitalizadas, a Covid pareceu ser um fator de risco tão potente para futuros ataques cardíacos e derrames quanto diabetes ou doença arterial periférica (DAP).

    Um estudo estimou que mais de 3,5 milhões de norte-americanos foram hospitalizados com Covid entre maio de 2020 e abril de 2021.

    Um achado único da Covid-19

    Os riscos cardíacos elevados pela infecção não parecem diminuir com o tempo, descobriu o estudo.

    “Não há sinal de atenuação desse risco”, disse o autor do estudo, Dr. Stanley Hazen, que chefia o Departamento de Ciências Cardiovasculares e Metabólicas na Cleveland Clinic. “Esse é, na verdade, um dos achados mais interessantes e, acredito, surpreendentes.”

    Esse achado é impressionante e parece ser único da Covid-19, acrescentou a Dra. Patricia Best, cardiologista da Mayo Clinic em Rochester, Minnesota, que não esteve envolvida na pesquisa.

    “Já sabíamos há algum tempo que infecções aumentam o risco de ter um ataque cardíaco, então, se você tem gripe, se pega qualquer tipo de infecção, seja bacteriana ou viral, isso aumenta o risco de ter um ataque cardíaco”, disse Best. “Mas geralmente isso desaparece bem rápido após a infecção.

    “Este é apenas um efeito tão grande, e acho que é por causa de como a Covid é diferente de algumas outras infecções”, disse.

    Os pesquisadores envolvidos no estudo dizem que não sabem exatamente por que a Covid tem efeitos aparentemente tão duradouros no sistema cardiovascular.

    Estudos anteriores mostraram que o coronavírus pode infectar as células que revestem as paredes dos vasos sanguíneos. O vírus também foi encontrado em placas aderentes que se formam nas artérias e podem se romper, causando ataques cardíacos e derrames.

    “Pode haver algo que a Covid faz às paredes das artérias e ao sistema vascular que resulta em danos sustentados e continua a se manifestar ao longo do tempo”, disse o coautor do estudo, Dr. Hooman Allayee, professor de bioquímica e genética molecular da Keck School of Medicine da University of Southern California.

    Sua teoria de trabalho, contou Allayee, é que a Covid pode estar desestabilizando placas que se formam dentro das paredes das artérias e podem torná-las mais propensas a romper e causar coágulos.

    Alguns fatores protetores

    Allayee e seu aluno de pós-graduação James Hilser analisaram mais detalhadamente para ver como a Covid poderia estar causando esses problemas de longo prazo no corpo.

    Eles investigaram se pessoas com fatores de risco genéticos conhecidos para doenças cardíacas, ou alterações genéticas ligadas à susceptibilidade à infecção por Covid, eram mais propensas do que outras a ter um ataque cardíaco, derrame ou morrer após serem hospitalizadas com Covid. Mas não eram.

    O que apareceu, segundo os pesquisadores, foi uma distinção pelo tipo sanguíneo.

    Os pesquisadores já sabiam que pessoas com certos tipos sanguíneos não-O — A, B ou AB — estão em maior risco de doenças cardiovasculares.

    O tipo sanguíneo também parece desempenhar um papel na probabilidade de uma pessoa contrair Covid. Pessoas com sangue do tipo O parecem estar um pouco protegidas também nesse aspecto.

    No novo estudo, pessoas com sangue tipo O que foram hospitalizadas por Covid não apresentaram um risco tão alto de ataque cardíaco ou derrame quanto aquelas com os tipos A, B ou AB. Mas isso não significa estarem livres de risco, disse Hazen: elas ainda estavam em maior risco de ataques cardíacos e derrames, mas o tipo sanguíneo era apenas mais uma variável a considerar.

    Os pesquisadores acreditam que o gene que codifica o tipo sanguíneo pode estar desempenhando um papel no aumento do risco de ataques cardíacos e derrames após a Covid, mas eles não têm certeza de como exatamente.

    Houve também uma notícia esperançosa no estudo. Pessoas que foram hospitalizadas por Covid, mas que também tomavam aspirina em baixa dose, não tiveram aumento na probabilidade de um ataque cardíaco ou derrame subsequente. Isso significa que o risco pode ser mitigado, avaliou Hazen.

    “Doenças cardíacas e eventos cardiovasculares ainda são a principal causa de morte no mundo”, disse.

    Hazen comentou aqui que agora, quando atende pacientes, sempre pergunta sobre o histórico de Covid. “Se você teve Covid, precisamos ser especialmente atentos para garantir que estamos fazendo tudo o possível para reduzir seu risco cardiovascular.”

    Isso inclui controlar a pressão arterial e o colesterol e, talvez, tomar uma aspirina diária.

    O estudo não analisou os efeitos da vacinação contra a Covid-19 no risco cardiovascular de uma pessoa, mas Hazen suspeita que seria protetora, já que as vacinas geralmente evitam que as infecções por Covid se tornem graves.

    O estudo também não investigou se infecções repetidas por Covid podem estar ligadas a riscos ainda maiores para a saúde, como algumas pesquisas já indicaram.

    Ainda assim, Hazen disse, qualquer pessoa que tenha sido hospitalizada por Covid — vacinada ou não — deve estar atenta aos riscos cardíacos.

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