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    Correspondente Médico: Pandemia prejudica sono e muda sonhos dos brasileiros

    Neurocirurgião Fernando Gomes ainda falou sobre razões científicas para propagação de fake news, efeitos da expectativa pela cura e estudo sobre dexametasona

    Na edição desta quarta-feira (17) do quadro Correspondente Médico, do Novo Dia, o neurocirurgião Fernando Gomes falou sobre o impacto da pandemia da Covid-19 no sono e nos sonhos dos brasileiros. O especialista também abordou as razões científicas quem levam as pessoas à propagação de fake news, os efeitos da expectativa pela cura da doença e o estudo da Oxford sobre a dexametasona.

    Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) com 67 voluntários – todos saudáveis e com idade média de 35 anos – mostrou que, durante a pandemia e o isolamento social, os sonhos dessas pessoas tinham mais relação com palavras como raiva e tristeza. Além disso, termos como contaminação e limpeza ficaram mais recorrentes.

    Segundo o médico, essa mudança temática nos sonhos tem relação com o inconsciente coletivo e o sono alterado. “Quando falamos em a pessoa pode sonhar menos ou ter sonhos muito tristes e pesados, a gente percebe que existe a necessidade de dormir melhor”, avaliou ele.

    “Cerca de 40% dos brasileiros acabam apresentando alguma queixa com insônia ou dificuldades para adormecer – com um sono que é fragmentado e faz com que, no dia seguinte, ele não seja tão eficiente”, explicou. 

    Gomes ainda apontou que o período da pandemia causou aumento da prevalência dessa dificuldade de dormir e relaxar o corpo físico. “Isso é preocupante, porque, durante o período do sono, não é só sonho bom ou ruim que você vai ter, já que todo o sistema imunológico fica fortalecido. E se estamos falando de uma infecção viral, tudo o que favorece a saúde do corpo físico e o sistema imunológico mais eficiente faz sentido e deve ser levado em consideração”, disse.

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    Por fim, o neurocirurgião explicou que os “sonhos representam algo extremamente interessante”. “São uma mistura das nossas memórias – fatos antigos e recentes do dia – e acabam sendo uma manifestação da nossa criatividade pensando em desfechos futuros. A cada ciclo de cerca de 1h30, a gente entra em uma fase chamada REM (Rapid Eye Movement), que é quando acontece a maior experiência onírica. Quando a gente desperta perto dessa hora, a gente tem a lembrança pelo menos parcial desse sonho. Se você tem um sono que tem uma arquitetura saudável – com começo, meio e fim – a tendência de conseguir acessar esses sonhos é muito maior. 

    Dexametasona

    Comentando o estudo da Universidade de Oxford, na Inglaterra, que aponta a dexametasona como um “grande avanço” no combate à doença respiratória provocada pelo novo coronavírus, o médico explicou como podem se dar os efeitos.

    “Como a gente sabe, a infecção pela Covid-19 tem uma fase de replicação viral, em que o vírus provoca dano nas células do tecido. Depois o sistema imunológico tenta combatê-lo e pode provocar uma reação mais exagerada do que o normal, o que causa o comprometimento da respiração”, detalhou.

    “O racional do corticoide é justamente reduzir e controlar esse processo inflamatório exacerbado –processo no qual ele tem um efeito positivo”, acrescentou.

    “Então isso vem a corroborar a ideia de que a cascata inflamatória pode ser controlada ou, pelo menos, reduzida em um espectro maior, causando menos mortes e danos definitivos”, finalizou.

    Fake news

    Ainda no campo neurológico, o médico explicou que a alta propagação de fake news tem ligação direta com a relação do ser humano com a mentira.

    “A mentira faz parte da manifestação da inteligência humana. Ao perguntar, por exemplo, a alguém se está tudo bem, às vezes, a pessoa está sofrendo, mas fala que sim, por uma questão de educação ou social”, exemplificou. 

    “Existe uma evidência neurocientífica mostrando que o indivíduo tende a se sentir bem [melhor] com uma questão de lealdade, quando encontra algo que faça significado para ele, do que até mesmo com o juízo da realidade”, afirmou.

    Com isso, o neurocirurgião concluiu que “o que é confortável de escutar e faz sentido para a pessoa é mais gostoso e natural, mesmo que o senso crítico diga o contrário”.

    Expectativa pela cura

    Gomes afirmou que informações iniciais sobre possibilidade de cura acionam um circuito cerebral que causa um “alívio frente à tensão da existência de um problema até então insolúvel”.

    No entanto, essa sensação se altera ao longo do tempo e conforme notícias dissonantes mudam a expectativa inicial. Com isso, o médico aponta que “o cérebro se acostuma com essa sensação de decepção”.

    “Então, qual o lado positivo disso? Estamos percebendo que ciência e tecnologia estão caminhando e que a busca por uma solução para o problema não é tão simples, mas está acontecendo”, refletiu.

    “O cérebro humano reage de uma forma que a pessoa fica entristecida e preocupada, mas isso é normal e faz parte do processo”, concluiu.

    (Edição: Sinara Peixoto)

     

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