Comportamento tem mais importância que a fala no aprendizado do cérebro
Atitude de ídolo do tênis Novak Djokovic pode influenciar fãs a não se vacinarem através dos "neurônios espelhos"
Na edição desta segunda-feira (17) do quadro Correspondente Médico, do Novo Dia, o neurocirurgião Fernando Gomes comentou a polêmica em torno da deportação do tenista Novak Djokovic da Austrália, após ele não comprovar a vacinação contra a Covid-19, e como as atitudes de ídolos podem influenciar os fãs.
Atleta número um do mundo na modalidade e multicampeão nos mais importantes torneios do tênis, o sérvio já havia tomado partido quanto à imunização contra o coronavírus – tendo, inclusive, contraído a doença em dezembro de 2021. A permanência dele em território australiano foi revogada pelas autoridades do país no domingo (16), quando embarcou em um voo para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e precisou abandonar o Aberto da Austrália.
Segundo Fernando Gomes, os exemplos motores de uma pessoa para outra são baseados nos chamados “neurônios espelhos”, que, ao observar o movimento de alguém, são automaticamente disparados pelo cérebro na tentativa de repetir o processo. O mesmo se aplica para a área comportamental, através do aprendizado por imitação.
O neurocirurgião explicou que, principalmente na criação de crianças, as atitudes adotadas são mais importante do que comandos pela fala, como ordens dadas pelos pais. A principal razão está na entrada da informação comportamental no cérebro, que possui efeito mais potente. “A pessoa só aprende a dançar dançando. Não adianta passar uma informação racional pelo ouvido e ter um comportamento diferente.”
“[A reprodução de comportamento] causa bastante preocupação. Uma pessoa que tem uma relevância, uma superfície de contato com muitas pessoas e uma admiração frente a uma situação que estamos vivendo, que é a pandemia, gostaríamos que desse o exemplo do que acreditamos ser razoável neste momento”, disse Gomes. “É um momento que demanda uma atitude ativa no combate ao coronavírus”, afirmou.
O médico acredita que, neste caso, o posicionamento de Djokovic pode influenciar diversas pessoas a não se vacinarem, mas que a situação também pode ensinar a população a separar ídolos de suas decisões particulares.
“Ele tem a habilidade de bater com uma raquete em uma bola, mas talvez, em outros aspectos, seja cobrar demais. O mesmo serve para quando falamos de artistas, jornalistas, médicos… existe um bom senso, não é à toa que tudo isso está acontecendo.”
“Existem normas e uma preocupação muito maior que um campeonato, que acaba sendo a saúde da humanidade. De alguma forma, ele pode influenciar sim, mas ele está dando um exemplo de que temos que separar o joio do trigo. Ele continua sendo o ídolo, uma pessoa com uma habilidade psicomotora admirável, mas isso não invalida ou bonifica ele por esse motivo.”
Gomes pontuou que as diferenças entre “pessoa física” e “jurídica” vão além de celebridades, podendo se aplicar a qualquer cidadão.
“Todos somos seres humanos e as regras biológicas da existência no mundo físico acaba sendo igual para todo mundo. Tropeçou aqui no planeta Terra, é para o chão que você vai cair, tanto faz se você é o primeiro do tênis ou o último do futebol”, finalizou.