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    Como os mosquitos evoluíram — e se especializaram em picar pessoas?

    Entre os que têm sede de sangue humano, está o 'Aedes aegypti', principal transmissor da febre amarela, zika, dengue e chikungunya

    Lauren Kent, , da CNN

    Nem todos os mosquitos são iguais, mesmo que pareça assim quando você sente uma picada.

    Existem cerca de 3.500 espécies de mosquitos em todo o mundo, mas apenas algumas são responsáveis pela disseminação de doenças infecciosas aos seres humanos.

    Entre os que têm sede de sangue humano, está o Aedes aegypti, principal transmissor da febre amarela, zika, dengue e chikungunya.

    Mas como os mosquitos Aedes aegypti evoluíram para se especializar em picar pessoas? Nova pesquisa publicada na sexta-feira (24) na revista Current Biology revelou dois fatores que desempenham um papel importante nessa evolução: clima seco e vida urbana.

    Os cientistas estudaram mosquitos na África Subsaariana e descobriram que esses insetos têm paladares bastante variados.

    “Há uma enorme diversidade nas preferências de mosquitos. Alguns gostam de picar seres humanos e outros não”, disse o coautor do artigo, Noah Rose, pesquisador de pós-doutorado na Universidade de Princeton, em Nova Jersey.

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    “A princípio, pensamos que os mosquitos que vivem perto das pessoas simplesmente gostavam de picar as pessoas, mas isso não valia para aqueles que vivem nas florestas”, explicou Rose. “Ficamos muito surpresos quando vimos que não era o caso”.

    Embora os mosquitos que vivem perto de cidades densas como Kumasi, em Gana, ou Ouagadougou, em Burkina Faso, demonstrem maior disposição para atacar pessoas, os pesquisadores descobriram que a vida na cidade sozinha não explica a evolução dos mosquitos. De fato, qualquer mosquito que more nas grandes cidades ainda prefere picar animais a hospedeiros humanos.

    É aí que entra o segundo fator: clima seco. Em áreas com severas estações secas, como a região do Sahel na África, que se estende do Senegal ao Sudão e Eritreia, os mosquitos evoluíram para ter uma forte preferência pelos humanos.

    “Eles dependem de recipientes de água para suas larvas”, contou Rose à CNN. “Portanto, em locais com uma estação seca intensa e longa, os mosquitos se tornam muito dependentes dos seres humanos, que armazenam água.”

    A evolução dos mosquitos no ataque aos humanos é um subproduto de sua dependência de viver em áreas próximas a recipientes com água para uso humano. Isso significa que a urbanização nas próximas décadas poderá levar a ainda mais mosquitos que picam seres humanos.

     
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    A urbanização nas próximas décadas poderá levar a ainda mais mosquitos que picam seres humanos.

    Foto: Noah H. Rose

     

    Urbanização pode provocar novas mudanças nos mosquitos

    Espera-se que a África Subsaariana registre um aumento no número total de nascimentos nas próximas décadas, além de aumentar a expectativa de vida, de acordo com dados de projeção populacional da ONU. Segundo o estudo, a população atual de 1,05 bilhão nos países dessa região poderia dobrar nas próximas três décadas, totalizando mais de 2,1 bilhões de pessoas.

    A pesquisa da ONU prevê que essa rápida urbanização impulsionará ainda mais a evolução dos mosquitos, levando-os a picar mais seres humanos em muitas grandes cidades até 2050.

    “Deveríamos observar esses mosquitos”, opinou Rose, explicando que o futuro das adaptações de mosquitos ainda é incerto.

    “Não sabemos de fato o que acontecerá quando a urbanização da África Subsaariana ultrapassar o que vemos nos dias de hoje. Mas sabemos que algo vai acontecer e pensamos que será uma mudança para picar mais hospedeiros humanos”.

    Isso significa que a maneira como os mosquitos espalham doenças também pode mudar.

    Se os cientistas e as autoridades de saúde pública puderem saber como a urbanização e as alterações climáticas afetarão os mosquitos, as pessoas poderão se preparar melhor para lidar com as mudanças na maneira como a doença se espalha.

    Mas, a curto prazo, as mudanças climáticas não devem levar a grandes mudanças na dinâmica da estação seca que afetem o comportamento dos mosquitos, segundo os pesquisadores.

    Crescimento em diferentes habitats

    A equipe internacional de cientistas levou mais de três anos para fazer a pesquisa e coletar amostras de ovos de mosquitos de uma ampla gama de habitats em 27 locais na África.

    “Fiquei surpreso que o habitat imediato não teve muito efeito, pois observamos que os mosquitos nas florestas e cidades próximas tiveram um comportamento semelhante”, relatou Rose.

    “Daí pensamos que a mudança para paisagens humanas talvez fosse o principal fator de atração para hospedeiros humanos. Mas parece que os mosquitos voam com muita facilidade indo e vindo entre esses habitats, e seu comportamento acaba divergindo em muitos casos.”

    Os mosquitos podem prosperar em um “mosaico de habitats” dentro da mesma região, o que torna a prevenção de doenças transmitidas por eles desafio ainda maior.

    “Mesmo que você tenha se livrado dos mosquitos que picam seres humanos em um só lugar, há uma enorme diversidade de mosquitos num mesmo habitat. Eles são bons em resolver problemas e sobreviver em lugares diferentes”, explicou Rose.

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que o controle de mosquitos pode efetivamente reduzir a transmissão de doenças por vetores, como a zika e a febre amarela, mas “o controle de mosquitos é complexo, caro e prejudicado pela crescente resistência a inseticidas”.

    Mais da metade da população mundial vive em áreas onde estão presentes os mosquitos Aedes aegypti, de acordo com a OMS, e mosquitos causam milhões de mortes todos os anos, tornando-os um dos seres mais mortais do mundo.

    Proteja-se dos mosquitos

    Pessoas que vivem ou viajam para áreas com grande incidência de doenças transmitidas por mosquitos devem se precaver contra picadas. Estas são as principais recomendações dos Centros de Controle de Doenças (CDC) dos EUA, dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e da OMS:

    – Use repelente de insetos que tenha um dos seguintes ingredientes ativos: DEET, icaridina (conhecida internacionalmente como KBR3023 ou picaridina), IR3535, óleo de eucalipto citriodora, PMD ou p-mentano 3,8-diol ou 2-undecanona. É importante reaplicar repelente de insetos a cada três a quatro horas.

    – Vista roupas que cubram braços, pernas e outra pele exposta. Você também pode usar chapéus com redes mosquiteiras para proteger seu pescoço e rosto. E, embora possa não estar na moda, enfiar a barra da calça nas meias também pode ajudar.

    – Cubra roupas e equipamentos com repelente de permetrina, que ajuda a afastar os mosquitos mesmo após várias lavagens. Mas não use produtos de permetrina diretamente em sua pele.

    – Mantenha os mosquitos do lado de fora colocando telas nas janelas e portas ou mantendo as janelas fechadas e usando ar-condicionado, se possível.

    – Durma sob um mosquiteiro se for difícil manter os mosquitos fora de sua casa ou do hotel.

    – Evite a água parada. Remova pneus, baldes e outros itens que coletam água. Cubra e guarde as peças que ficam em áreas externas.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês

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