Como incentivar família e amigos a parar de espalhar fake news sobre saúde
Antes de confrontar um conhecido sobre uma notícia falsa, entenda as intenções da publicação e tenha uma abordagem de empatia
Seu primo acredita que as vacinas contra a Covid-19 têm microchips controladores da mente. Seu amigo compartilha um artigo sobre por que supostamente a tecnologia 5G prejudica a saúde de todos.
“Nós até vemos desinformação sobre assuntos triviais”, disse Carl T. Bergstrom, professor de biologia da Universidade de Washington, por e-mail. Bergstrom ministra um curso que treina alunos sobre como avaliar o impacto das informações em suas vidas. “Todos os anos, uma fotografia de um adorável frango-d’água se torna viral como a imagem de um ‘corvo bebê’. (Os corvos recém-nascidos são cegos, sem penas e não se parecem em nada com isso)”.
Uma história imprecisa sobre animais selvagens pode ter repercussões limitadas, mas a desinformação sobre questões sérias como a pandemia pode ser “profundamente prejudicial”, afetando as motivações, crenças e tomadas de decisão das pessoas em relação à saúde, política, meio ambiente e muito mais, disse Bergstrom, coautor de “Calling Bullsh*t: The Art of Skepticism in a Data-Driven World” (Não seja enganado: a arte do ceticismo em um mundo movido a dados, em tradução livre).
“Compartilhar desinformação e fake news sobre saúde pode levar à morte de pessoas”, acrescentou Bergstrom. E se eu compartilhar desinformações sobre algo como a retirada do Afeganistão? “Não é como compartilhar desinformações sobre vacinas, já que meus amigos e familiares que as leem não estão de forma alguma envolvidos na tomada de decisões sobre a política externa dos Estados Unidos”, explica.
O problema é exacerbado quando a família e os amigos compartilham informações incorretas, porque tendemos a confiar que o que eles estão dizendo é verdade, sem fazer uma verificação. Confrontar entes queridos sobre a falsidade de suas postagens não é fácil, mas se você estiver pronto para falar, veja como lidar com isso.
Entenda as intenções
Vale lembrar que as pessoas que compartilham informações incorretas podem ter boas intenções. Algumas postagens falsas relacionadas à pandemia podem se enquadrar nesta categoria, disse Bergstrom. “Quando ouvimos coisas sobre ameaças como esta, onde há muita incerteza, é muito natural tentar obter informações e depois compartilhá-las com as pessoas de quem gostamos para manter todos seguros”.
Identificar falsas alegações pode ser difícil, uma vez que a desinformação geralmente contém elementos mesclados de verdade e mentira, disse Bergstrom.
Esse conteúdo, que as pessoas também podem compartilhar para confirmar sua visão de mundo, às vezes é “visto como igualmente confiável para uma fonte confiável”, disse Sam Vaghar, diretor executivo da Millennium Campus Network, uma rede global de alunos e ex-alunos que ajuda jovens a abordar a desafios da humanidade.
Vaghar também faz parte da equipe por trás do perfil “Estou fazendo a diferença” no Instagram, que trabalha com influenciadores de mídia social para fornecer a jovens adultos informações verificadas sobre a pandemia. E, às vezes, os blogs de desinformação são projetados para se parecer com sites de notícias.
Como abordar a situação
Se alguém está compartilhando informações falsas de alto risco, “é muito tentador querer sacudi-los pelos ombros”, disse Joshua Coleman, psicólogo e membro sênior do Conselho de Famílias Contemporâneas, uma organização sem fins lucrativos que fornece pesquisas atuais sobre famílias americanas. “Mas você realmente tem que resistir a essa tentação e manter a comunicação em um lugar mais empático”.
Estar preparado com informações de fontes como agências de notícias confiáveis, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), a Organização Mundial da Saúde (OMS) ou secretarias estaduais de Saúde pode ajudar a garantir que seu argumento seja mais baseado em fatos ou na ciência do que no emocional ou opinativo, disse Vaghar.
Coleman aconselhou a evitar um “início difícil”, frase usada por John Gottman, pesquisador de casamentos e divórcios e professor emérito de psicologia da Universidade de Washington. Gottman diz que as conversas terminam da maneira como começam. “Se você inicia uma conversa com hostilidade, raiva, desprezo ou crítica; provavelmente vai acabar assim”. Mas quanto mais você se comunica com respeito, acrescentou ele, é mais provável que as pessoas baixem suas defesas e se interessem pelo que temos a dizer.
Encontre maneiras de afirmar continuamente que você não está dizendo que a pessoa é tola e que, se as apostas não fossem tão altas, você concordaria em discordar ou não diria nada, sugere Coleman. Dizer aos entes queridos que você está apenas levantando o assunto porque realmente se preocupa com eles pode comunicar que você está falando com uma mentalidade de amor e preocupação.
Também esteja atento a como tem sido seu relacionamento com essa pessoa, sugere Coleman. “Eu posso entrar em debates fervorosos com certos amigos, mas no cerne de tudo está a amizade, e sabemos que estamos nos envolvendo de uma maneira quase furiosa porque ambos nos importamos muito com o que estamos falando”.
Se você suspeitar que a pessoa que você está enfrentando vai reagir defensivamente, pode dizer a ela: “Eu sei que muitos pensam que isso é verdade , então posso entender como uma pessoa inteligente poderia concluir que está correto. Não sei o quanto você tem lido ou investigado, e na verdade tenho passado muito tempo lendo ou pesquisando este assunto. Você se importa se eu compartilhar com você o que eu tenho aprendido?”, sugeriu Coleman.
Para as pessoas que têm acesso a informações confiáveis, mas compartilham as narrativas enganosas de que gostam, em vez de responder com uma lista de fatos, pode ser mais útil envolver as crenças ou perspectivas subjacentes que tornam essas informações atraentes em primeiro lugar, segundo Bergstrom.
“Se alguém tem medo de tomar uma vacina contra a Covid-19 porque acredita que as agências governamentais não são confiáveis, listar as estatísticas sobre a segurança da vacina não o levará muito longe”.
Duas coisas que podem ajudar são focar em evidências de apoio fora do sistema regulatório do país e compartilhar perspectivas de outros indivíduos que dividem as crenças da pessoa sobre o governo, mas ainda defendem a vacinação contra a Covid-19.
Essas abordagens não garantem que você seja persuasivo, pois as pessoas podem se apegar às suas crenças fortemente arraigadas, mas são um bom começo.
A verdade sobre mensagens de texto e confronto público X privado
Existem maneiras adequadas pelas quais as pessoas devem ter essas conversas, e mensagens de texto não é uma delas, diz Coleman. Como a comunicação escrita carece de entonação, pegue o telefone para que a pessoa possa ouvir qualquer preocupação genuína em sua voz.
Se você está preocupado em abordar uma postagem enganosa na rede social em um comentário público ou uma mensagem privada, fazer as duas coisas pode ser útil.
Com um comentário público, você pode educar qualquer pessoa “vulnerável à desinformação que está sendo perpetrada pela pessoa”, disse Coleman. Mas existe a possibilidade de que as pessoas que postam pensem que você as está humilhando na frente de seus colegas.
Para evitar isso, envie também uma mensagem privada dizendo que você espera que eles não se importem que você compartilhe publicamente suas ideias, dada a importância.
E o que você deve fazer se confrontar alguém sobre informações incorretas, e essa pessoa reconhecer o teor falso da publicação, mas não deletar a postagem? Infelizmente, essa pessoa pode não se importar ou pode estar deixando o post como uma reação às críticas, disse Coleman.
O especialista duvida que um estranho responderá a uma conversa posteriormente. Mas se for um conhecido, pode valer a pena reiterar por que você acha que a pessoa não deve deixar a publicação nas redes. E compartilhar qualquer interesse pessoal que você tenha nisso – como mencionar sua experiência de estar doente com Covid-19 para alguém que compartilha informações incorretas relacionadas à pandemia – “pode tornar isso mais convincente”, acrescentou ele.
Se a pessoa que você confronta é receptiva aos fatos e aos seus pensamentos, isso poderia fomentar uma perspectiva humanitária, pois compartilhamos propósitos, sacrifícios e destinos, disse Coleman.
(Texto traduzido, leia o original em inglês)