Como ajudar adolescentes a lidar com uma pandemia
Apoio e um bom relacionamento com os pais podem ser a chave para um momento mais tranquilo
Os adolescentes estão tendo dificuldades durante a pandemia, com o isolamento social, perdas e problemas financeiros, além dos tumultos comuns a essa fase da vida. Os pais se preocupam de que isso possa apenas piorar por conta do apagamento e cancelamento das festas de fim de ano devido ao aumento de internações e mortes pela Covid-19.
A CNN falou com a pediatra e especialista em saúde dos adolescentes Anisha Abraham, autora do livro “Criando Adolescentes Globais: Um Guia Prático para Pais no Século XXI”, para pedir conselhos sobre criar jovens em meio à pandemia. Abraham, que é professora no Hospital Universitário MedStar Georgetown e na Universidade de Amsterdã, na Holanda, é mãe de dois meninos, de 10 e 12 anos.
CNN: Como ajudar os adolescentes a lidar com uma pandemia em agravamento?
Anisha Abraham: Muitos adolescentes se sentem isolados dos amigos e da família, frustrados com a perda de suas atividades regulares da escola, e tristeza pelas perdas registradas. Muitos me dizem que estão estressados, ansiosos e até mesmo deprimidos. É importante ter conversas frequentes sobre lidar com a pandemia. Lembre-se de validar as emoções que eles estão vivendo.
Adolescentes devem aprender com os adultos a reagir a novos desafios. Isso significa que pais devem ser modelos de formas positivas de se manter bem e gerenciar as incertezas, incluindo fazer atividades físicas regularmente, manter uma alimentação saudável para melhorar a imunidade, manter-se conectados com os entes queridos e ser gentil com os outros independentemente de sua aparência ou condição social. Pensar em maneiras de retribuir para a comunidade, por exemplo ajudando um vizinho idoso ou doando comida para um banco de alimentos.
Foque em apoiar os jovens em suas características únicas. Um adolescente que eu conheço passa todo o dia elaborando histórias em quadrinhos. Outro está trabalhando em vídeos do Tik Tok para ensinar crianças sobre as vacinas contra a Covid-19. Ao desenvolver seus pontos fortes, ajudamos os jovens a construir auto-confiança e a habilidade de enfrentar os desafios da vida.
CNN: O que os pais podem fazer?
Abraham: Criar uma rotina pode dar aos filhos uma sensação de estabilidade. Em nossa casa, temos um calendário fixo, que incluiu os horários das aulas remotas, das refeições, de atividade física, pequenas tarefas da casa e tempo de descanso. Tivemos nossos momentos de dificuldades, mas tem ajudado bastante.
Para adolescentes mais velhos, é preciso considerar a necessidade de independência e de criar seu próprio caminho de aprendizado, mas também encorajá-los a fazer atividade física e cumprir a demanda da escola.
É tempo de baixar as expectativas. Seu filho adolescente não estará trabalhando na mesma frequência ou intensidade do que em um dia de escola comum. Agora é a hora de se estressar um pouco menos sobre lições de casa e aulas de piano.
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CNN: O que devemos ensiná-los para atravessar a crise?
Abraham: Eu digo aos pais e adolescentes que o maior indicativo de sucesso na vida não é possuir as melhores notas, ou entrar na melhor universidade, ou ter o emprego perfeito. Ao contrário, é a habilidade de se recuperar quando enfrentam um desafio ou frustração. Esse conceito de resiliência é algo que adolescentes podem construir através do tempo. Agora é o momento de nossos adolescentes encontrarem soluções criativas para os problemas que possam enfrentar.
CNN: Como falar com adolescentes complicados, que não querem falar conosco?
Abraham: Isso pode ser complicado. Lembre-se, no entanto, que parte da adolescência é desenvolver sua própria identidade. É muito normal que adolescentes passem por altos e baixos em suas emoções, que se afastem e passem mais tempo sozinhos com amigos. Para quebrar o gelo, fale com os jovens quando estiver fazendo algo em paralelo, por exemplo, quando estão andando de carro. Eu percebo que à noite, quando está escuro nos quartos dos meus filhos e eles não podem me ver direito, é quando conseguimos ter as conversas mais francas.
Perguntar aos adolescentes sobre seus amigos é uma boa forma de começar uma interação. E menos pode ser mais. Uma boa regra é sempre dizer metade do que gostaríamos de dizer. Matenha as conversas curtas e diretas. Às vezes, nossos filhos querem que estejamos por perto, mas que não digamos nada, meio como plantas!
CNN: Como podemos nos conectar durante as festas de fim de ano?
Abraham: Considere ter uma atividade regular em família, como as refeições ou outras coisas – fazer presentes à mão para familiares, jogar algum jogo ou fazer caminhadas. Faça uma lista de tarefas que eles precisam cumprir durante as festas e peça a eles que lhe digam quais os itens gostariam de fazer para lhes dar um senso de controle.
Encorage-os a pensar em formas de celebrar com as pessoas que estão a sua volta. Melhor ainda, peça-os que tomem conta de um evento, como organizar um jantar formal ou uma caça ao tesouro divertida.
Por fim, encorage-os a usar tecnologias como o Zoom, WhatsApp e Skype para ajudá-los a se manter em contato com colegas de escola, amigos e família. Se estiver preocupado com seu uso da internet, esteja atento para o conteúdo que os adolescentes estão vendo, garanta que possuam um bom contato com membros da família e amigos, e saiba as habilidades dos seus filhos fora do uso das mídias digitais.
CNN: E se tivermos adoecido ou perdido alguém para a Covid-19? Não podemos apenas dizer que tudo ficará bem.
Abraham: Se tiver perdido alguém, tente garantir que você e sua família estejam cuidado de suas necessidades físicas e emocionais. Também, encorage seus filhos adolescentes a fazer perguntas e tenha respostas precisas sobre o que aconteceu. E finalmente, reconheça o luto de seu filho e lembre-se de criar tempo para lembrar da pessoa que morreu. Pergunte-os o que pode fazer para ajudá-los a enfrentar este momento difícil.
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CNN: Pensando que uma vacina está a caminho, como ensinamos paciência a nossos filhos adolescentes?
Abraham: Peça aos adolescentes que expressem as emoções que estão sentindo no momento sobre não poder ir à escola ou passar tempo com os amigos. Encorage-os a imaginar como será daqui a alguns meses, quando houver a vacina e o uso de medidas de saúde pública. Ajude-os a pensar que segurando firme apenas mais um pouquinho, podemos construir o caminho até a vida normal mais rapidamente.
Também lembre-os que temos a responsabilidade de nos proteger e proteger aos outros, como seus avós e vizinhos idosos, tomando os cuidados necessários: lavar as mãos, usar uma máscara e manter o distanciamento social. Até adolescentes infectados que não demonstram sintomas podem transmitir o vírus para outros. Fale com eles sobre os riscos de encontrar e sair com amigos.
Por fim, nossa obrigação como pais e cuidadores é ensiná-los como se comportar socialmente e manter nossos jovens e comunidade saudáveis.
CNN: Quais são os sinais de que nossos adolescentes podem estar passando por problemas mais sérios, que requerem uma intervenção?
Abraham: Para alguns jovens, se sentir frustrado, irritado ou ansioso pode ser uma parte natural do processo de luto. Entretanto, mudanças significativas nos hábitos alimentares ou de sono, irritabilidade persistente ou tristeza, ou a necessidade constante de segurança, podem ser sinais de que seu filho está sofrendo e precisa de suporte. Outras indicações incluem problemas com foco e concentração, e a perda de interesse em atividades comuns ou escolares, e o uso de drogas e álcool.
Tente conversar com ele sobre seus medos ou envolva outro adulto na situação. Se não ajudar, talvez seja a hora de buscar um profissional da saúde ou psicóloogo. Muitos estão fazendo consultas virtuais. Se houver alguma referência à morte ou suicídio, por favor, entre em contato com especialistas imediatamente.
Ao conectar-se com seus filhos adolescentes, validar seus sentimentos e construir sua resiliência, podemos passar por esse momento desafiador com graça e bom-humor.
(Texto traduzido. Leia o original em inglês.)