Cientistas criam teste genético para identificar cegueira em cães
Na visão dos pesquisadores, a novidade poderá ajudar a eliminar um tipo de cegueira hereditária nas próximas gerações de pastores ingleses
Cientistas da Universidade de Cambridge desenvolveram um teste genético que pode ajudar a identificar atrofia progressiva de retina — um tipo de cegueira hereditária, até então, sem cura — em cães pastores ingleses e prevenir a doença em seus filhotes. A novidade foi relatada em estudo publicado nesta segunda-feira (22) na revista científica Genes.
A atrofia progressiva da retina, conhecida também pela siga PRA, não possui tratamento e causa degeneração progressiva das células sensíveis à luz na parte posterior do olho. Cachorros com a doença têm a visão normal ao nascer, mas podem ficar totalmente cegos aos quatro ou cinco anos.
Os pesquisadores descobriram uma mutação genética que causa a PRA em cães pastores ingleses e desenvolveram, a partir disso, um teste genético para a doença. Segundo os cientistas, a novidade poderia ajudar a identificar a condição em cães antes que a visão comece a falhar, fornecendo uma ferramenta útil para tutores tomarem decisões sobre reprodução para que a doença não seja transmitida aos filhotes.
A equipe acredita que a descoberta poderá ajudar a eliminar a atrofia progressiva da retina em gerações futuras de cães pastores ingleses. Isso porque a mutação genética identificada pode ser transmitida para os filhotes, mesmo se o cachorro tiver apenas uma cópia do gene mutado (para desenvolver a doença, é preciso que o animal tenha duas cópias da mutação).
O risco para o filhote é ainda maior se ambos os pais forem portadores da mutação genética — nesse caso, um em cada quatro filhotes será afetado com PRA. Como as raças de cães são, muitas vezes, consanguíneas, a chance de cachorros herdarem doenças genéticas e hereditárias é maior do que os humanos.
“Quando a visão do cão começa a falhar, não há tratamento – ele ficará totalmente cego”, diz Katherine Stanbury, pesquisadora do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade de Cambridge e primeira autora do relatório, em comunicado. “Agora que temos um teste de DNA, não há razão para que outro pastor inglês precise nascer com essa forma de atrofia progressiva da retina – isso dá aos criadores uma maneira de eliminar totalmente a doença”, acrescenta.
Como o estudo foi feito?
Os pesquisadores começaram o estudo após serem contatados por um dono de pastor inglês, que havia sido diagnosticado recentemente com atrofia progressiva da retina. O cachorro era cão de busca e resgate, mas teve que parar seus trabalhos devido à deterioração da visão, que resultou em cegueira total.
A partir disso, os cientistas coletaram amostras de DNA de outros cachorros da mesma raça: seis deles tinham PRA e outros vinte, não. Em seguida, com o sequenciamento do genoma completo dessas amostras, os pesquisadores identificaram a mutação genética responsável pela doença.
Como parte da descoberta, eles irão oferecer um teste de DNA específico para a atrofia progressiva da retina em pastores ingleses. O teste custa £ 48 (cerca de R$ 290,92).
“Um dono não necessariamente notará que seu cão tem algo errado com os olhos até que ele comece a bater nos móveis. Ao contrário dos humanos, que falam se sua visão não estiver boa, os cães simplesmente precisam seguir em frente com as coisas”, observa Cathryn Mellersh do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade de Cambridge, autora sênior do estudo.
“Pelo preço de um saco decente de ração, as pessoas agora podem testar seus pastores ingleses para Atrofia Progressiva da Retina antes da reprodução. É sobre prevenção, em vez de cura, e significa muito para as pessoas que criam esses cães. Eles não precisam mais se preocupar se os filhotes serão saudáveis ou se desenvolverão essa doença horrível em alguns anos”, acrescenta.
Por fim, os pesquisadores acreditam que a descoberta pode lançar luz sobre uma doença semelhante que ocorre em humanos — chamada retinite pigmentosa, que também causa cegueira — e ajudar potencialmente a identificar alvos para terapia genética para a condição no futuro.