Cientista brasileiro em Oxford pesquisa medicamento contra a Covid-19
José Brandão Neto faz parte de uma equipe que vem testando mais de duas mil substâncias
A construção de metal impressiona. São 600 metros de tubos cilíndricos, uma espécie de velódromo da ciência, que pode acelerar a luta contra o novo coronavírus.
Este local é chamado Fonte de Luz Synchrotron e fica perto de Oxford, na Inglaterra. Dentro dos tubos circulares, partículas atômicas correm na velocidade da luz, produzindo feixes de Raio-X que são usados em estudos moleculares. Pesquisas de alta tecnologia que podem levar à descoberta de um medicamento eficaz contra a Covid-19.
O Synchrotron funciona como um microscópio gigante, que usa o poder dos elétrons para produzir um tipo de luz 10 bilhões de vezes mais forte que o sol. Esses raios atravessam a matéria e possibilitam que os cientistas analisem em profundidade desde as menores estruturas de um fóssil até o funcionamento de um vírus.
É aqui que trabalha o pesquisador brasileiro José Brandão Neto. Ele faz parte de uma equipe que vem testando mais de duas mil substâncias, na esperança de que alguma delas seja capaz de neutralizar a principal proteína do novo Coronavírus.
“A ideia é trabalhar com a proteína M-Pró. Se ela for inativada no vírus, vai atenuar o efeito do vírus (no corpo humano). Normalmente testamos 400 materiais, mas, nesse caso, testamos mais de duas mil, porque a ideia é que quanto mais material inicial for testado, mais informação vai ser ter sobre a proteína e sobre como desativá-la”, explica o cientista-sênior da Diamond, a empresa estatal responsável pelo Synchroton.
A técnica é chamada cristalografia de proteína. As substâncias são colocadas em contato com uma amostra da M-Pró e armazenadas em nitrogênio líquido, a temperaturas negativas. Elas formam esses minúsculos cristais, que são colocados na máquina por um robô e recebem o feixe de raio-X.
A imagem aumentada milhões de vezes é projetada no computador. E esta tela é analisada pelos cientistas. José diz que o raio-X usado no estudo é parecido com o raio-X de exames médicos. “Mas é uma quantidade muito concentrada numa área da espessura de um fio de cabelo”, afirma o cientista.
A Diamond é um dos centros científicos mais avançados do mundo. Cerca de 14 mil pesquisadores trabalham aqui em projetos de inovação tecnológica de diversas áreas do conhecimento e as descobertas são compartilhadas globalmente. Mais de 30 laboratórios usam o Synchroton para várias finalidades, mas agora o trabalho de todos se voltou para o combate à Covid-19.
Na Diamond, a missão em busca de uma cura ou tratamentos para a doença ganhou o nome de Moonshot, ou “tiro para a lua”, e acontece em ritmo recorde. A pesquisa de novos medicamentos normalmente leva cerca de 15 anos. O objetivo aqui é encontrar a cura para a doença a tempo de acabar com esta pandemia.
Para José, é uma satisfação muito grande participar desse combate. “Quem trabalha nessa etapa do desenvolvimento em geral não vê muitas etapas subsequentes e por isso tudo estar acontecendo muito rápido, estamos tendo oportunidade de participar mais do processo do que teríamos numa situação normal”, finaliza.