Cerca de 40% dos internados em UTI por Covid-19 têm danos cardíacos, diz estudo
Trabalho foi feito por hospital particular de Niterói-RJ com 189 pacientes
Um levantamento feito pelo Complexo Hospitalar de Niterói (CNH), unidade de saúde particular da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, aponta que, em média, cerca de 40% dos pacientes graves que passam por Unidades de Terapia Intensiva (UTI) com Covid-19 apresentam algum grau de comprometimento cardíaco. O problema se manifesta na chegada à unidade ou na evolução da doença em meio ao tratamento.
O dado foi obtido com base na avaliação de 189 pacientes internados de março a junho de 2020 na unidade de saúde.
Estão incluídos nesse cenário os internados que insuficiência cardíaca (25%, trombose venosa (25%), inflamação no pericárdio, membrana que envolve o coração (22%) e inflamação no miocárdio, músculo do coração (15%).
O hospital realiza estudos e pesquisas com dados da Covid-19 desde o início da pandemia e finaliza nos próximos dias os números do primeiro semestre de 2021, para comparar a evolução dos sintomas e das características da doença, manifestadas nos pacientes, de um ano para o outro. O objetivo é avaliar como os internados se comportam diante do cenário de prevalência das diferentes linhagens do vírus.
Coordenador do estudo, o cardiologista João Tress, coordenador do Laboratório de Ecocardiografia do CNH, explica que a maioria dos sintomas acontece nas etapas mais tardias da infecção, fase conhecida como hiperinflamação e associada ao acúmulo de comorbidades para a doença. Segundo o especialista, o envolvimento do laboratório que coordena nos estudos ocorreu por conta do excesso de demanda que a Covid-19 provocou na cardiologia da unidade.
“Quando o paciente é internado na UTI, passa por uma avaliação completa. Diferentemente de uma pneumonia típica, a Covid-19 apresenta muitas particularidades cardiológicas, uma complexidade muito maior. Não é só um processo respiratório, mas também cardiovascular, que foi variando conforme as cepas. Ao longo do tempo, as modalidades de suporte da terapia intensiva foram também mudando, para atender melhor aos pacientes”, afirma.
Entre as mudanças ocorridas no processo de cuidado desde o início da pandemia, Tess destaca o uso de posição pronada (de bruços), para facilitar a respiração dos pacientes e aumentar as chances de sobrevivência, além da disseminação do uso de recursos como a oxigenação por membrana extracorporal, recurso mais conhecido pela sigla oriunda do nome em inglês, ECMO, que se popularizou no noticiário como recurso utilizado no tratamento do ator e humorista Paulo Gustavo em um hospital da Zona Sul do Rio de Janeiro.
“Ainda estamos fechando os números do primeiro semestre de 2021, mas a disseminação da variante gamma (P1, originária de Manaus), ampliou em larga escala o uso desse recurso. Isto porque ela aumentou muito a falência cardíaca. A pandemia até aqui pode ser dividida em três fases em termos de sintomas. Na primeira, era de muita pericardite (inflamação da capa que envolve o coração). Na segunda, muita trombose e embolia. E agora a terceira, com todos esses problemas juntos”, conclui.
Por causa da trombose, aumentou o uso de anticoagulantes no tratamento. O especialista aponta que, mesmo entre os pacientes que se curaram da Covid-19 com tratamento feito em casa, passando apenas por atendimento ambulatorial, sem internação, é grande a proporção de problemas cardiovasculares secundários provocados pela doença. “Não foram poucas as internações que ocorreram por causa disto. Por essa razão, é necessário procurar um especialista e fazer uma avaliação, para acompanhamento especializado”, conclui Tress.