Cepa detectada no RJ é diferente da originária da Índia, diz pesquisadora
À CNN, cientista do Laboratório Nacional de Computação Científica disse que nova variante encontrada no RJ, a P.5, também apresenta mutação na proteína Spike
Uma nova variante do SARS-CoV-2 foi detectada no município de Porto Real, no sul fluminense, após uma coleta de rotina. O sequenciamento genético da nova linhagem, denominada P.5, foi feito há cerca de um mês pelo Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) e reconhecido como nova variante nesta semana.
À CNN, em entrevista neste sábado (26), a pesquisadora do LNCC Alessandra Lamarca explicou que embora haja semelhança em alguns aspectos da mutação deste novo caso com a variante originária da Índia, chegou-se a conclusão de que se trata de uma cepa diferente.
Segundo ela, esta linhagem apresenta duas mutações nas proteínas Spike, que são estruturas que ficam em volta do vírus e que servem para ele reconhecer a célula. Uma destas mutações já é encontrada na variante originária da Índia, mas eles conseguiram ver, pela sequência, que não se tratava dessa variante, mas sim de uma nova com a mesma mutação.
Embora haja uma compatibilidade, Lamarca diz que ainda é cedo para afirmar que a P.5 é tão transmissível quando a originária da Índia.
“Ter essa mutação semelhante não significa que ela é tão transmissível quanto. Significa apenas que ela tem um passo para ser”, disse. A variante originária da Índia tem um conjunto de mutações que faz ela ser mais drástica, segundo Lamarca. “E a P.5 tem um dos passos para ter maior transmissibilidade e gerar maior mortalidade”, afirmou.
De acordo com a pesquisadora, o trabalho de sequenciamento genético é realizado quinzenalmente no Rio de Janeiro por uma rede chamada Corona-ômica.
“É uma junção de diversas instituições de pesquisa do Rio de Janeiro, com apoio das secretarias de saúde do estado e do município e financiamento da FAPERJ e que está trabalhando focada inteiramente nisso. É uma velocidade de análise acima do normal. Entre nós recebermos as amostras e terminarmos as análises e passarmos os relatórios para as secretarias, eu imagino que isso esteja levando não mais do que quinze dias. Estamos trabalhando sem parar”, conta.
Alessandra Lamarca explica que a vigilância genômica é feita a partir da coleta de uma amostra aleatória de testes positivos de todo o estado. A partir daí, os cientistas estudam a estrutura do DNA do vírus a fim de compreender qual é a sua linhagem. “Assim, a gente faz um levantamento de qual a frequência da Gama ou da Alpha no Brasil, por exemplo”, diz a pesquisadora em referência as variantes originárias no Brasil e no Reino Unido.
A respeito da P.5, ela explica que a incidência, até o momento, ainda é baixa, e que, portanto, a grande responsabilidade da rede é continuar monitorando a fim de visualizar se novos casos vão surgir e com qual velocidade.
“Ainda é um número pequeno, mas a gente tem que acompanhar, manter a análise e observar se vai aumentar para entender se ela é mais transmissível.” Em São Paulo, dos genomas sequenciados, 19 são da nova variante P.5.
Alessandra também disse que a gravidade da variante ainda é uma incógnita, mas que, até o momento, o quadro clínico dos pacientes foi estável.
“A informação que a CES [Conselho Estadual de Saúde] passou para a gente é só que os pacientes se recuperaram, que estão bem. Não temos ainda uma avaliação se os sintomas seriam diferentes. Ao que tudo indica, mantém o padrão básico da Covid-19.”
Ela complementa dizendo que ainda não é possível classificar a gravidade e os tipos de sintomas mais comuns desencadeados pela P.5. “Para fazer esse tipo de análise, a gente precisaria de um número muito grande de infectados, para ter o poder estatístico do teste e fazer a comparação, mas, por enquanto, não temos um número tão grande. Ainda bem”, conclui.
(*supervisionada por Layane Serrano)