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    Câncer de colo de útero: entenda a importância da vacina na prevenção

    O principal fator de risco para o desenvolvimento do câncer é a infecção por HPV, cuja vacinação está abaixo da meta no Brasil

    Gabriela Maraccinida CNN

    No Brasil, o câncer de colo de útero é o terceiro tipo de tumor mais incidente entre as mulheres. De acordo com dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer), para cada ano do triênio 2023-2025, foram estimados mais de 17 mil casos novos do câncer.

    Diante desse cenário, foi criada a campanha Março Lilás, que visa conscientizar sobre o combate ao câncer de colo de útero e a importância da vacina na prevenção. Isso porque esse câncer tem como um dos principais fatores de risco a infecção pelo HPV (papilomavírus humano).

     

     

    De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a estratégia para eliminar o câncer de colo de útero deve ter como prioridade a vacinação contra o HPV, além do rastreio e do tratamento adequado. A meta estipulada pelo Ministério da Saúde é vacinar 80% da população elegível.

    No entanto, segundo um estudo da Fundação do Câncer, divulgado em 2023, o país está abaixo da meta de vacinação contra o HPV. De acordo com o levantamento, a cobertura vacinal da população feminina entre 9 e 14 anos alcança 76% para a primeira dose da vacina, e apenas 57% para a segunda dose. Entre a população masculina, o cenário é ainda pior: a cobertura é de 52% e de 36%, respectivamente.

    Câncer de colo de útero e HPV: qual a relação?

    O câncer de colo de útero é um tumor que atinge a parte do útero localizado no final da vagina. O principal fator de risco para o seu desenvolvimento é a infecção por HPV, vírus transmitido sexualmente. A infecção pode levar a alterações celulares que, em alguns casos, evoluem para o tumor.

    “Mais de 99% dos cânceres de colo de útero são causados por infecções persistentes pelos subtipos oncogênicos do HPV, sendo, em sua maioria, os subtipos 16 e 18”, explica Marina Della Negra, diretora médica de vacinas da MSD Brasil, à CNN.

    Segundo a especialista, é estimado que, pelo menos, 80% das mulheres sexualmente ativas terão contato com algum subtipo viral do HPV ao longo da vida.

    “Na maioria das vezes, o vírus é eliminado naturalmente. Porém, em alguns casos, essas infecções podem se tornar persistentes, em especial, com os subtipos oncogênicos, causando lesões precursoras de câncer que, quando não identificadas e não tratadas, evoluem para o câncer invasivo”, afirma Della Negra.

    Além do HPV, fatores como imunossupressão, genética e tabagismo podem aumentar o risco de desenvolver o câncer. “A idade também interfere nesse processo, sendo que a maioria das infecções por HPV em mulheres com menos de 30 anos regride espontaneamente, ao passo que acima dessa idade, a persistência [do vírus] é mais frequente”, diz.

    Inicialmente, o câncer de colo de útero pode não apresentar sintomas, porém, conforme a doença avança, podem ser notados sinais como sangramento vaginal, corrimento de cor e odor alterados, dor na relação sexual, mudanças urinárias (dor ou dificuldade de urinar) e intestinais (dor durante as evacuações ou sangue nas fezes).

    O diagnóstico precoce do câncer é fundamental para o sucesso do tratamento. Ele pode ser feito através de exames preventivos, como o papanicolau, que é oferecido gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

    Como funciona a vacina contra o HPV?

    A vacina contra o HPV é uma das principais formas de prevenir o câncer de colo de útero. No Brasil, existem dois tipos de vacina disponíveis:

    • Vacina quadrivalente: disponível no SUS, é indicada para meninas e meninos de 9 a 14 anos; homens e mulheres transplantados; pacientes oncológicos em uso de quimioterapia e radioterapia; pacientes com HIV/Aids, e vítimas de violência sexual;
    • Vacina nonavalente: disponível na rede privada, é indicada para crianças e adultos de 9 a 45 anos.

    A vacina quadrivalente protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV, enquanto a nonavalente protege, também, contra os subtipos oncogênicos 31, 33, 45, 52 e 58. Considerando os subtipos 16 e 18, o primeiro imunizante oferece 70% de eficácia na prevenção do câncer de colo de útero, enquanto o segundo apresenta uma proteção de até 90%.

    O esquema vacinal para ambas as vacinas é feito da seguinte forma:

    • Meninos e meninas de 9 a 14 anos: duas doses, com intervalo de seis meses entre elas;
    • A partir de 15 anos: três doses, com intervalos de um a dois meses entre a primeira dose e a segunda, e de seis meses entre a terceira e a primeira;
    • Pessoas de 9 a 45 com comorbidades (citadas acima): esquema de três doses.

    Desafios para o aumento da cobertura vacinal

    Para Mônica Levi, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), existem vários obstáculos que justificam a baixa cobertura vacinal contra o HPV.

    “A meta atual de 80% é aplicada no grupo-alvo de meninas e meninos de 9 a 14 anos. Essa é uma faixa etária que não frequente posto de saúde e a comunicação sobre o que é HPV, sobre a importância da vacina e a sua segurança é mais complexa por conta disso também”, afirma a especialista à CNN.

    Della Negra acrescenta, também, que o tabu relacionado ao vírus HPV “pode gerar preconceitos em relação à vacinação em jovens”. “Já foi mostrado, em estudos, que vacinar seus filhos e filhas não antecipa o início de sua vida sexual e já foi comprovado que, quanto mais precoce for a realização da vacinação, a partir dos 9 anos, maior é a efetividade da vacina”, completa.

    Outro fator para a baixa cobertura vacinal foi a pandemia de Covid-19. “Vários adolescentes passaram da idade de serem vacinados, passaram dos 14 anos, e perderam a vacinação durante aquele período de confinamento e as pessoas acabaram não se vacinando e nem vacinando seus filhos”, comenta Levi.

    Diante disso, um desafio a ser superado é o maior acesso à informação sobre a vacinação, na visão das especialistas. “A vacina é segura e protege contra o câncer, pais e responsáveis devem ter ciência dos riscos da doença e saber que é um tumor que possui prevenção”, reforça Della Negra.

    Levi acredita que é preciso levar as informações sobre o HPV e a vacina para as escolas. “Os professores podem passar para os alunos as informações e, também, engajar os pais, chamá-los para reuniões e orientá-los sobre essa vacinação”, afirma.

    “É importante ter o Ministério da Saúde e da Educação atuando em conjunto. Todos os programas de saúde pública do mundo que tiveram altas coberturas vacinais já demonstram o sucesso da vacinação e estão a caminho da eliminação do câncer de colo de útero”, completa a especialista.

    Em relação aos adolescentes que não foram vacinados durante a pandemia de Covid-19, segundo Levi, o PNI (Programa Nacional de Imunização) planeja convocar essa população (que, atualmente, tem mais do que 14 anos) para se vacinar. “Isso ainda está sendo definido, de acordo com o quantitativo de doses possíveis”, afirma Levi.

    Para finalizar, as especialistas citam o combate às fakes news, educação em saúde e comunicação eficiente sobre a vacinação é importante para o aumento da cobertura vacinal contra o HPV e, consequentemente, fortalecer o combate ao câncer de colo de útero.

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