Butanvac: cientista explica tecnologia utilizada na vacina 100% brasileira
Jason McLellan criou base para desenvolvimento de outros imunizantes
A criação da vacina Butanvac, que será 100% produzida no Brasil, começou em Austin, nos Estados Unidos. A CNN conversou com exclusividade com o cientista Jason McLellan, que usou a biologia do vírus para criar a base das vacinas da Moderna, da Pfizer/Biontech, da Johnson, da Novavax e também da vacina brasileira, a Butanvac.
Trabalhando na Universidade do Texas, ele explica os caminhos da nova tecnologia.
Como funciona
As vacinas da Moderna, da Pfizer-Biontech e da Johnson & Johnson usam as proteínas do vírus, que ele modificou.
O coronavírus que parece uma coroa, com todas essas proteínas ao redor do centro. E essas proteínas mudam de forma antes de infectar nossas células.
Na hora que se conectam elas deixam um pedaço conectado e o outro, vira uma espécie de corda, que entra na célula e faz com que ela se aproxime do vírus.
Quando as membranas do vírus e da célula se encostam, o conteúdo do vírus é despejado dentro da célula. Lá dentro, o vírus se multiplica e sai para infectar outras células.
O Doutor Mclellan conseguiu reproduzir a proteína no estágio inicial e impedir que ela mude de formato.
Johnson e Biontech
No primeiro formato, foi a proteína, com duas mudanças, que Moderna, Biontech, Novavax e Johnson& Johnson usaram para criar vacinas. Assim, nosso corpo vai produzir anticorpos para atacar a proteína nesse primeiro formato, antes dela infectar nossas células.
A tecnologia que o Butantan vai usar
No caso do Brasil, a história muda um pouco. Em busca de melhorias, Mclellan e os colegas trocaram outras quatro peças da proteína.
“ A patente da proteína hexapro tem uma licença humanitária, assim 80 países de renda média ou baixa podem usar de graça, sem pagar royalties para nós ou para a universidade do texas”, explica o biólogo.

Onde entra o hospital Monte Sinai
Pesquisadores do Hospital de Monte Sinai, em Nova York, já estavam trabalhando com o vírus da doença de Newcastle, como base para desenvolver vacinas e acrescentaram o material genético da proteína feita no Texas. O código genético do vírus de Newcastle ganhou esse trecho adicional. Assim, passou a produzir também a proteína de Mclellan.

Como eles fizeram?
O vírus é injetado em ovos e se multiplica lá dentro. Depois, os cientistas neutralizam o vírus. Ou seja, ele fica inofensivo, não pode deixar ninguém doente. Mas é injetado no nosso corpo porque vai com a proteína nova. O nosso corpo entende que o coronavírus chegou e se prepara produzindo anticorpos. Dessa forma, estamos vacinados, erguemos nossas defesa.
Essa parte toda vai ser feita do Brasil, no Instituto Butantan, a partir da primeira remessa do vírus com código genético da proteína de Mclellan.
E ele é modesto. Afirma que fez uma parte pequena do trabalho e ressalta a parceria com outros laboratórios, fabricantes, e profissionais de saúde.
“Eu decidi fazer pesquisa para ajudar as pessoas. Você nunca sabe se vai funcionar, se vai fazer algo, ao longo da sua carreira, que tenha impacto e contribuir para o desenvolvimento de uma vacina para combater uma grande pandemia”, afirma à CNN.
Nesse caso, ele não ajudou a desenvolver apenas uma, mas cinco vacinas que estão combatendo a Covid em todo o mundo.